APURAÇÃO DIGITAL
[do release da editora]
O ciberespaço como fonte para os jornalistas, de Elias Machado, Editora Calandra, 188 pp., Salvador, 2003; e-mail <editoracalandra@uol.com.br>; R$ 30,00
A chegada das redes digitais às redações trouxe muitas transformações para a atividade jornalística diária e a principal delas, certamente, foi a possibilidade de se ter acesso a informações em apenas um ou dois cliques. O desafio para os profissionais também cresceu. Afinal, é preciso garantir a qualidade da apuração sem perder de vista a necessidade de otimizar o tempo dos profissionais, cada vez mais escasso. Conjugar fatores tão díspares não é tarefa fácil e discuti-los é a proposta do livro O ciberespaço como fonte para os jornalistas, do professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Elias Machado, jornalista com mais de vinte anos de carreira. Mais recente lançamento da Editora Calandra, este é o primeiro volume da Biblioteca J. A Coleção, dirigida pela professora Tattiana Teixeira, pretende reunir livros em linguagem acessível a todos os interessados em temas fundamentais para o jornalismo.
Além das discussões em torno da especificidade da apuração no jornalismo digital, do ensino, da deontologia nas redes e o futuro desta nova modalidade, o livro apresenta um guia comentado de fontes para jornalistas e pesquisadores. O professor-titular de Jornalismo da UFBA, Marcos Palacios, que assina o prefácio, define o trabalho de Elias Machado como um convite à aventura da (re)invenção do fazer jornalístico. O ciberespaço como fonte para os jornalistas persegue esta intenção através do estudo sistemático de iniciativas pioneiras em todo o mundo, da análise das especificidades das redes e das perspectivas futuras. Com a autoridade de quem pesquisa o jornalismo digital desde 1995 no Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (http://www.facom.ufba.br/jol), Machado espera, com esta coletânea, oferecer subsídios para que o leitor possa perceber que, mais que uma ferramenta que otimiza o trabalho profissional, a tecnologia digital dá origem a um novo modelo econômico e a uma nova divisão social do trabalho.
Marcos Palácios (*)
Prefácio de O ciberespaço como fonte para os jornalistas, de Elias Machado, Editora Calandra, 188 pp., Salvador, 2003; e-mail <editoracalandra@uol.com.br>; R$ 30,00
O texto a seguir é a íntegra do prefácio do livro.
Este não é um Livro de Receitas.
Não é um Formulário, nem um Breviário.
Neste momento de crise do Ofício de Jornalista, o que este livro nos oferece são Idéias. Não Idéias Pré-fabricadas, para imediata aplicação e satisfação garantida do Usuário, mas Idéias Geratrizes, algumas vezes pouco Ortodoxas, que convocam e arregimentam novas Idéias, sugerem novos Modos de Ver.
Há uma evidente relação entre Modos de Ver, Modos de Fazer e Modos de Usar. Sem que se ampliem os Modos de Ver, o Fazer e o Usar tendem a continuar ancorados às Artes do Passado.
Houve um Tempo ? e não foi há tanto tempo ? em que se aprendia um Ofício para toda a vida. E havia Carpinteiros, Ferreiros, Moleiros, Ourives, Sapateiros e até Jornalistas. Todos Mestres de seus Ofícios, exercendo suas Artes à perfeição, repassado-as tal e qual para seus Aprendizes, que um dia também seriam Mestres e saberiam tudo que havia para saber, conheceriam todos os Segredos de sua Ocupação. Hoje, exercer um Ofício é (re)inventá-lo incessantemente, interpretando Continuidades, buscando Potencializações, vislumbrando e propondo Rupturas.
E este é um momento na História do Jornalismo em que a disseminação das Aplicações Digitais e a generalização da Comunicação Mediada por Computador produzem Potencializações de uma tal ordem de grandeza que até mesmo as Continuidades mais se assemelham a Rupturas.
A Digitalização não é simplesmente mais uma Tecnologia ou Ferramenta, à qual os Jornalistas estão tendo que se adaptar, através da leitura de um Manual de Instruções ou de um Curso Rápido de Atualização num final de semana. A Digitalização é uma espécie de Meta-Tecnologia, que afeta todas as Tecnologias e, principalmente, redefine e produz Formas do Existir Social.
Não se trata de um processo de Evolução, de substituição de Suportes. Mais de uma década depois do surgimento do Jornalismo Online, o Radiojornalismo continua a florescer, como continuam a florescer o Telejornalismo e o Jornalismo Impresso. Mas nenhum deles é mais o Mesmo. Vindicando plenamente McLuhan, as Novas Mídias estão em clara convivência com as anteriores, porém entrelaçando-se, complexificando-se umas às outras.
As assim chamadas Novas Tecnologias de Comunicação estão possibilitando transformações radicais na Maneira não só de Produzir, mas também de Distribuir e Consumir o Jornalismo. E frise-se o "possibilitando", pois é evidente que nenhuma Tecnologia pode Fazer, mas apenas Possibilitar Fazeres. Até segunda ordem, o Homem continua a ser Homo Sapiens e Homo Faber, apesar de toda a Digitalização…
Trabalhando com Bancos de Dados alojados em máquinas de crescente capacidade de armazenamento (Memória) e contando com a possibilidade do Acesso Síncrono e Assíncrono por parte do Usuário, bem como de alimentação (Atualização Contínua) de tais Bancos de Dados por parte não só do Produtor, mas também do Usuário (Interactividade e Personalização), além do recurso sempre possível da Hiperlinkagem a outros Bancos de Dados (Hipertextualidade e Multimidialidade), o Jornalismo Digital, para efeitos práticos, dispõe de espaço virtualmente ilimitado, no que diz respeito à quantidade de Informação que pode ser produzida, recuperada, associada e colocada à disposição do seu Público-Alvo.
É igualmente importante que se ressalte que não existe um Formato Canônico, nem tampouco "mais avançado" ou "mais apropriado" no Jornalismo que hoje se pratica. Diferentes experimentos encontram-se em curso, sugerindo uma multiplicidade de Formatos Possíveis e Complementares, que exploram de modo variado as características e potencialidades das Novas Tecnologias de Comunicação, conjugam de maneira variada os diferentes Suportes Mediáticos. Se alguma generalização é possível, neste momento, ela possivelmente diz respeito ao fato de que todos esses Formatos são ainda altamente incipientes e experimentais, em função do pouco tempo de existência da Digitalização enquanto Meta-Tecnologia.
E não é suficiente adjetivar e particularizar, estabelecendo Contrastes e Convergências entre Comunicação Individualizada, Comunitária, de Massa, etc. Tudo isso pode ser válido e até instrutivo, mas ainda é insuficiente para uma caracterização mais abrangente, quando nos reportamos ao universo dos Projetos em Rede, integradores de Espaços Físicos e Virtuais, e o lugar da Digitalização e da Telemática nessas criações humanas.
Este livro nos desafia a Refletir sobre tudo isso e muito mais, sem sugerir Consensos ou Palavras Finais.
Este livro é um convite à Aventura da (re)Invenção do Fazer Jornalístico.
(*) Professor-titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA)