LIVROS & LEITURA
Deonísio da Silva
Começou na terça-feira (26/8) o maior evento literário do mundo em sua especialidade. É a 10? Jornada Nacional de Literatura, de Passo Fundo (RS), uma promoção da Universidade de Passo Fundo (UPF) e da prefeitura municipal da cidade gaúcha. Há mais de 17.000 inscritos, a maioria dos quais professores e alunos. A programação, que é bienal, teve início em 1981, por iniciativa da professora Tânia Rösing, do Departamento de Letras da Universidade de Passo Fundo (UPF). Para maiores detalhes, visite <www.jornadadeliteratura.upf.tche.br>. Frei Betto, Roger Chartier e John Hemingway, entre outros, abrem a programação.
Pertinaz e guerreira, a professora desde então lidera uma equipe que tem deslocado o debate literário dos grandes centros para uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, não por acaso um dos estados mais politizados do Brasil e com melhores índices de atendimento escolar, livrarias, livros, autores.
Também não por acaso, a terra de Erico Verissimo, Luiz Fernando Verissimo, Mário Quintana, Carlos Nejar, Luiz Antônio de Assis Brasil e Moacyr Scliar, o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Alberto Dines, semelhando maestro regendo pequena orquestra, fez-lhe bonita homenagem no Observatório da Imprensa na TV, exibido na terça, 19/8. Além do reconhecimento a um de nossos mais talentosos narradores, o programa serviu também para examinar os novos tempos que se abrem para a ABL. Verdade é que alguns dos entrevistadores (mea culpa, proclamo de minha parte), movidos pela admiração que mantêm pelo escritor, além do mais um grande caráter, sempre corajoso e solidário nas lutas em defesa da liberdade e contra a censura, esqueceram-se de responder às perguntas que lhes foram feitas. O signatário, por exemplo, ficou devendo um quadro da literatura do Brasil meridional, que tem fornecido ao Brasil autores de muito valor.
Não é à toa que Alberto Dines está no batente de jornalista há tantas décadas. Dá atenção a tudo e essa não foi a primeira vez que levou a ABL ao Observatório.
Com efeito, também na Academia as coisas mudaram. Pouco a pouco, passados os anos duros da ditadura militar, a Casa de Machado de Assis, entre avanços e recuos, privilegia gente de letras. Evidentemente, a admissão de figuras como Paulo Coelho desarruma a inteligência nacional quando de exame isento que aprecie o fenômeno editorial. De todo modo, é um avanço inegável a sua admissão quando comparada à do general que assinou o Ato Institucional n? 5, o já falecido Aurélio de Lira Tavares, que escreveu (não o AI-5) sob o pseudônimo de Adelita.
Castro Alves
Em Passo Fundo, pela terceira vez será entregue um dos maiores prêmios da literatura brasileira: R$ 100 mil ao melhor romance do último biênio. A curiosidade é que os recursos foram oferecidos por um supermercado, que já desembolsou, em seis anos, R$ 300 mil.
A Portugal Telecom oferece R$ 150 mil aos três melhores livros do ano e, depois de uma consulta a críticos de todo o Brasil, anunciou semana passada os dez finalistas. Nos dois prêmios, entre os finalistas há autores cujo principal ofício é o jornalismo, como é o caso de Moacir Japiassu com A Santa do Cabaré.
Parati, no Rio, e Ribeirão Preto, em São Paulo, também acabaram de fazer suas feiras, com inegável sucesso, tendo recebido a afluência de milhares de visitantes. Cerca de 300.000 pessoas visitaram a 3? Feira do Livro de Ribeirão Preto.
A boa notícia é que esses eventos estão se multiplicando, aproximando o público de autores e livros e com isso produzindo leitores. A má notícia é que o ministro da Cultura não teve a sensibilidade de valorizar o livro e estará ausente da 10? Jornada de Passo Fundo. Talvez não seja novidade nenhuma o ministro Gilberto Gil esquecer o livro desse jeito e privilegiar outros eventos, como o Festival de Gramado. Não se quer que ele abandone as outras manifestações culturais. O que se quer é que não abandone o livro!
Como o ministro é baiano, convido-o a reler o poema O Livro e a América, de Castro Alves, seu conterrâneo do século 19.