Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Professores-delivery e alunos nostálgicos

CÁSPER LÍBERO,
2013

Paulo Nassar
(*)

Tive um pesadelo.

É madrugada, chego para as aulas da Divisão Cásper
AM/PM, que oferece aos alunos, ininterruptamente e de forma conveniente,
cursos velozes de Jornalismo em Pílulas, Relações
Públicas em Lata, Publicidade e Propaganda a qualquer custo,
Turismo, Administração, Matemática, Medicina,
Engenharia, Relações Internacionais, Secretariado
e Comunicação Empresarial rapidinha. Antes de chegar
à sala de aula, passo por corredores estreitos onde, no chão,
estão impressas marcas iluminadas de empresas que patrocinam
cursos e professores ou têm produtos no negócio da
educação. Como sou um dos professores patrocinados,
dentro das dependências da escola uso um uniforme e um boné
com as marcas e as cores dos meus apoiadores.

Nessa questão dos patrocínios, nós, professores,
com mestrado e doutorado, somos muito disputados por fabricantes
de computadores, veículos de comunicação e
provedores de internet. Na Cásper, sou um dos últimos
professores de carne e osso à disposição daqueles
alunos que ainda vêm à escola ouvir a minha voz.

Uma pesquisa de marketing educacional mostrou que a maioria do
corpo discente prefere os professores-delivery. Suspeito que os
alunos que me procuram são atraídos por alguns objetos
que eu guardo em uma pequena caixa prateada: um punhado de gizes
brancos, folhas de prova, o último exemplar, em papel jornal,
da Gazeta Esportiva, um sapo de verdade do Rio Nilo e fotos
de alunos e de professores do ano de 2003.

Vocês não os esqueceram, não é?

(*) Jornalista, professor de Comunicação Organizacional
da Cásper Líbero; texto publicado originalmente em
A Imprensa, revista interna da Fundação Cásper
Líbero