Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ana Maria Bahiana

JORNALISMO CULTURAL

“Reflexos do Baile”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 26/08/03

“Muito interessante a recente movimentação, no mercado americano, em torno de títulos de música. Tão interessante que merece uma reflexão mais detalhada. Uma grande fuzarca ou o baile da Ilha Fiscal? Ou nem um nem outro?

Para quem perdeu, aqui vai o resumo da ópera: a Viacom, mega-conglomerado de midia que engloba, entre outras, as marcas MTV, Nickelodeon e Paramount, anunciou que, após uma verdadeira gestação de elefanta (que começou pouco depois do lançamento do canal, nos anos 80) vai finalmente lançar a revista MTV nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo Alan White, veterano da indústria de mídia e ex-tenente de Bob Guccione na Spin, está preparando mais uma concorrente, a Tracks.

As duas publicações vão se encarar, nas bancas americanas, neste outono do hemisfério norte.

A primeira coisa a notar é o tempo atrás dos dois projetos. Enquanto o Brasil já tem revista MTV há um par de anos, nos EUA a Viacom andou flertando, sem sucesso, com praticamente todo o universo das segmentadas, à procura de um parceiro para a revista, num processo de quase vinte anos. Até Jann Wenner, o homem da Rolling Stone, andou na dança. No fim, a Viacom resolveu partir para a empreitada sozinha, instalando o título no mesmo grupo que já publica a bem sucedida revista da Nickelodeon.

Já a Tracks foi uma decisão razoavelmente rápida, nascida da experiência direta de White com a Spin, a primeira publicação a fazer frente, de verdade à hegemonia da Rolling Stone.

A lentidão do parto da MTV é típica, de um lado, da morosidade dos grandes conglomerados, nos quais ninguém quer ser o responsável por um fracasso e todos querem assinar um sucesso. Por outro, reflete as oscilações da própria MTV no mercado americano. Enquanto, no Brasil, o canal rapidamente assumiu um contorno e cravou as garras com firmeza num segmento do mercado, nos EUA ele se dividiu em várias sub-marcas, como a VH1 – dirigida ao público com mais de 30 anos – e a MTV2, que faz o que a MTV original fazia, ou seja, exibir videoclipes.

Não se deve presumir instantâneamente que a revista MTV americana será o que se costuma chamar de ?uma revista de música?. Na pauta das duas primeiras edições (o título será bimestral, com datas de banca de Outubro e Dezembro) estão uma matéria casada com um novo programa do canal, Spankin? New – vitrine lançadora de artistas – e uma retrospectiva do ano. Mas a MTV americana é, hoje, uma marca associada essencialmente a um sem número de reality shows como The Real World, Road Rules e Jack Ass, e seria tola de não explorar estes elementos nas páginas de sua publicação.

Na verdade, a música será tratada num departamento a parte – um encarte da revista, completo com um DVD de videoclipes para dar aquela esquentada nas bancas.

Já a Tracks é, sim, uma ?revista de música? no sentido clássico. E, como se suspeita e o mercado confirma, uma publicação dirigida aos mais de 30, aqueles que ainda consomem música como um produto distinto, associado a discos e aos conceitos de obra e coleção.

Enquanto isso, por onde valsaria a titia de todos, a Rolling Stone? Não percam o próximo capítulo.”

 

TELEJORNALISMO

“Bye, bye, Brasil…”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 29/08/03

“Estou me despedindo. Embarco esta semana para os Estados Unidos onde assumo o cargo de ?professor visitante? na Escola de Jornalismo da Rutgers University de Nova Jersey. Trata-se de mais uma grande aventura. Em outros tempos, ainda muito jovem, somente com uma câmera na mão e pouquíssimas idéias na cabeça, em tempos de censura e ditadura, partia para Londres, pela Globo, para testemunhar os anos pioneiros do nosso telejornalismo internacional. Hoje, em clima de mudanças políticas e grandes dificuldades econômicas, sigo novamente em busca de novas alternativas para o meio televisivo.

Mas, apesar de inúmeras obrigações acadêmicas e profissionais, espero enviar notícias e comentários sobre a TV e as novas tecnologias para os amigos do Comunique-se diretamente do olho do furacão ou seria da terra do ?apagão?. Perdão!

Escrever essa coluna tem sido uma experiência extremamente gratificante. A pesquisa e produção semanal de textos sobre o meio televisivo são sempre importantes. Mas a interação regular com os nossos leitores é responsável pela criação de uma forma totalmente nova de comunicação e produção de conhecimento. Nesse espaço, o autor dos textos passou a ser um mero mediador da informação. Os leitores agregam valor à informação original com o rigor documental do texto impresso que se soma à velocidade e agilidade dos meios eletrônicos como o rádio e a TV para benefício de todos. Presenciamos uma nova forma de produzir um jornalismo interativo.

Mas o principal objetivo dessa ?viagem? para os EUA é pesquisar o futuro da TV e, principalmente, os efeitos da migração dos nossos telejornais para um novo ambiente comunicacional pela Internet. Estamos interessados em estudar as novas possibilidades de interação do público nos próprios noticiários de TV.

A experiência de produzir um telejornalismo universitário experimental na Internet com programas ao vivo de baixo custo durante três anos em uma instituição pública como a UERJ despertou o interesse de algumas universidades americanas. Durante uma palestra no Newsworld 2002 em Dublin na Irlanda, ao descrever a simplicidade da proposta e as possibilidades do projeto para o ensino de telejornalismo, fui surpreendido pelo comentário de um colega: por que nós não pensamos nisso antes? Assim como outras boas idéias desenvolvidas em nosso país, temos que aguardar o reconhecimento internacional para que possamos obter o mínimo de condições de trabalho.

Dessa forma, fui convidado para repetir essa experiência em condições menos dramáticas nos EUA. Tem sido um grande desafio tentar produzir e pesquisar novos formatos para telejornalismo com recursos tecnológicos e financeiros muito limitados. É difícil, mas não é impossível.

Na UERJ, em meio a tantas dificuldades políticas e financeiras, evitamos o atalho fácil de reproduzir os modelos de jornalismo televisivo impostos pelo mercado. A verdadeira função da universidade não é garantir emprego para os alunos, mas sim apontar e pesquisar as alternativas para a sociedade. Ao recusar as imposições do presente, nos tornamos uma das únicas quatro escolas de jornalismo brasileiras a receber o conceito A no último provão. Apesar de todas as restrições a essas avaliações do MEC, sentimos orgulho de produzir excelência em condições tão precárias. Sempre digo aos alunos que os equipamentos dos nossos laboratórios de TV se parecem mais com uma ?Brasília amarela? e ainda por cima, com o pneu furado. Mas por trás do volante, só tem piloto de alto nível como um Schumacher, Ayrton Sena ou Nelson Piquet. O comentário é sincero e faz justiça ao empenho dos alunos de superar as dificuldades. Muitos desses alunos não estão somente em busca de um emprego em um mercado que os obriga a repetir os modelos estabelecidos.

Compensamos as nossas deficiências tecnológicas e financeiras com a qualidade e garra dos alunos. Todos nós merecíamos uma universidade pública melhor. Mas ter a oportunidade de desenvolver um projeto pioneiro de TV Universitária utilizando as novas tecnologias com esses alunos compensa todas as dificuldades. Os diversos prêmios nacionais e o reconhecimento internacional fazem do jornalismo universitário diário e ?ao vivo? na Internet uma alternativa viável para todos aqueles que não se conformam com as restrições impostas pelas TV Universitárias. Os interesses institucionais das reitorias e as eternas desculpas de falta de recursos procuram justificar uma total acomodação dessas TVs. O público que não é bobo continua ignorando a produção universitária na TV. TV universitária com liberdade para produzir um telejornalismo de interesse para professores e alunos, sem restrições ou censuras institucionais, só existe na Internet.

É nesse clima de mudanças e alternativas para a TV que vamos procurar soluções mais viáveis e econômicas para a produção e para o ensino de TV. Não podemos ficar eternamente culpando as nossas dificuldades financeiras pela nossa omissão. Ao buscar soluções de baixo custo para a produção televisiva, procuramos democratizar o meio poderoso.

Sigo em frente em busca de boas novidades sobre o meio televisivo e novas tecnologias. Para alguns, já vou tarde! Mas para os amigos e companheiros do Comunique-se, despeço-me com um ?até logo?!”

 

FOTOJORNALISMO

“A memória congelada no papel”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 1/09/03

“Quando cobriu o Pan, nosso correspondente Marcos Linhares entrevistou vários profissionais de comunicação. Entre elas, a fotojornalista Jocelyn Ventura (foto), que fala da relação pessoal que ela possui com texto e imagem, entre outras coisas.

Jocelyn Ventura Hilario nasceu em Santo Domingo, na República Dominicana. Ela tem 32 anos e estudou Fotografia e Publicidade na Universidad Autonoma de Santo Domingo (UASD). Com dez anos de estrada, já trabalhou no jornal El Hoy, na revista Mercado, e, atualmente, é fotógrafa do caderno de cultura ?Pasiones? do jornal El Caribe.

Para Jocelyn, trabalhar com fotojornalismo proporciona a oportunidade de estar junto aos acontecimentos. ?Em meu caso, que trabalho com cultura, o trabalho em um jornal me abriu as portas da arte e me mantém informada sobre os escritores, artistas, teatro e fotografia. Me encanta cobrir essa área. O que é bem diferente da fotografia de cidades, por exemplo, que também tem sua beleza e particularidades, mantendo você informado sobre o que se passa ao seu redor e descobrindo como informar as coisas, através das imagens?, defende.

Trabalhar contra o tempo, segundo a Jocelyn, não tem muito mistério. ?Em meu caso, minhas fotografias são planejadas e produzidas. Contudo, há situações que necessitam de rapidez que, apesar de poder limitar sua criatividade, também ajudam no desafio de desenvolvê-la em situações de pressão e estresse?, revela.

No que diz respeito às relações com repórteres e editores, a fotógrafa afirma que, no fim, sempre tudo se acerta. ?Nos relacionamos muito bem. Às vezes enfrentamos certa situações inconvenientes, mas que se resolvem através da premissa maior: a comunicação. O melhor é estar a tempo com o que se exige. Ser pontual e responsável é a melhor receita para evitar problemas com trabalhos pendentes, agendas, enfim com o que quer que seja?, explica.

O casamento entre imagem e texto, de acordo com Jocelyn, não é difícil. ?Se você conhece seu trabalho, se gosta do que faz, o viverá, o desfrutará e terá conceito claro do que vai fazer, do que quer comunicar através da imagem. Sempre conseguirá transmitir bem uma informação?, afirma. A fotógrafa dominicana se diz encantada com a profissão. ?O que mais gosto nesta profissão é a vivência de cada dia, da oportunidade de poder desfrutar dos detalhes da vida que estão aí e, às vezes, não nos damos conta. Gosto de, através do meu trabalho, conhecer meu país, minha gente, nossa cultura, nossa forma de pensar, os povoados, nossas coisas típicas, nossos bailes, música, entre tantas outras coisas. Também gosto dessa experiência de conhecer pessoas diariamente e, às vezes, de nacionalidades e cultura diferentes. Gosto de fazer um bom retrato, captar as melhores expressões do ser humano: tristeza, dor ,alegria… A fotografia é como viver duas vezes, é como congelar a memória num papel?, finaliza.”

 

CASO PIMENTA NEVES

“Pimenta Neves: medidas protelatórias e mais tempo para se defender”, copyright Jornalistas & Cia, 27/8-2/9/2003

“Continua enredado nas malhas jurídicas e da Justiça o julgamento de Pimenta Neves, réu confesso no assassinato de Sandra Gomide. Em liberdade desde março de 2001, por decisão do STF e após cumprir sete meses de detenção, Pimenta ganhou mais tempo, em relação ao julgamento, com a decisão do desembargador Haroldo Luz, da 6? Câmara Criminal do TJ de SP, de converter em diligência o julgamento de recurso impetrado pela advogada de defesa Maria José da Costa Ferreira. Ou seja, a decisão remete novamente os autos à 1? Vara Criminal de Ibiúna (SP), para que Pimenta seja interrogado outra vez. Segundo informou o site Consultor Jurídico (www.consultorjuridico.com.br), em 21/8, ?essa decisão não será tomada de imediato, uma vez que o desembargador Ribeiro do Santos, um dos três que apreciariam o recurso, pediu tempo para analisar o caso, e com isso o julgamento do recurso foi remarcado para esta 5?.feira (28/8)?.

Em junho do ano passado, a juíza Eduarda Maria Romeiro Correia, da 1? Vara Criminal de Ibiúna, decidiu levar Pimenta Neves a júri popular, denunciando-o por homicídio duplamente qualificado (sem

dar chance de defesa à vítima e por motivo fútil). A defesa recorreu dessa decisão e quer julgamento por homicídio simples, o que reduziria a pena.

Várias foram as manobras já utilizadas pela defesa para adiar o julgamento, entre elas a de colocar a ex-mulher dele como testemunha (como se sabe, ela morava nos EUA, e isso atrasou o processo em meses, sem contar a decisão dela de não responder às perguntas da Justiça) e retardar a entrega da defesa prévia (o que só foi feito depois que a juíza Eduarda, esgotados todos os prazos, tomou uma medida radical e nomeou, à revelia, um defensor de Ibiúna para Pimenta Neves).

Diz uma fonte jurídica a este J&Cia que ?tais procedimentos representam o que há de pior, mais velhaco e apodrecido no Brasil de hoje?.”