Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leila Reis

CERRADO, URGENTE

“Assunto sério tratado como se deve”, copyright O Estado de S. Paulo, 31/08/03

“Em TV é possível tratar de qualquer assunto em 30 segundos (medida base para a propaganda), um, dois, cinco ou dez minutos. Aprofundar um tema, no entanto, exige muito mais tempo. Como na televisão tempo é literalmente dinheiro, assuntos que exigem uma abordagem mais demorada para a compreensão do público estão fora de cogitação. Mesmo quando o tema é grandioso para a sociedade – por isso não pode ficar totalmente fora de pauta – a TV passa por ele de maneira desembestada só para dizer que registrou.

Diante desse modus operandi das redes comerciais, mais uma vez a TV Cultura – a despeito de sua precária saúde financeira – comprova que cabe a ela abrir horário para documentários de longo alcance e profundidade como os da série Doc.Brasil, que ontem exibiu (e certamente reprisará) Cerrado, Urgente.

Dirigido pelo jornalista e ambientalista Washington Novaes, Cerrado, Urgente traça um duplo perfil da região que tem mais de 2 milhões de metros quadrados e detém 5% da biodiversidade do planeta (com 320 mil espécies de plantas e animais): o da imensa riqueza e o da ameaça de devastação. Tem gente que pode acusar o documentário de ser alarmista. É mesmo, e daí? Este país tem de saber que é privilegiado pela natureza, mas também que a irresponsabilidade de uma parcela de sua população está comprometendo ecossistemas vitais para a manutenção da espécie.

O militante Washington Novaes já foi responsável por grandes produções, entre elas, a série Xingu e outra sobre o lixo, ambas exibidas na própria Cultura. Para levantar mais esta bandeira contra a ameaça ao cerrado brasileiro, ele percorreu quase 10 mil quilômetros, gravou reportagens em sete Estados em 40 dias.

Para ajudar a composição de seu quadro sobre o cerrado, Novaes buscou informações com uma ?junta? de técnicos de todas especialidades afins – geólogos, economistas, pesquisadores, geógrafos, etc. – e com personagens nativos da região, como o fazendeiro seu Meco, o índio Samuel Karajá e o pescador seu Norberto. Mostrou, na prática, que o conhecimento científico e a sabedoria popular são convergentes, tratam da mesma coisa com palavras diferentes.

A preocupação dos cientistas com o perigo da poluição, erosão e desmatamento – levantado por pesquisas e instrumentos – é a mesma do povo da região que observa no cotidiano o detectado em laboratório.

Aqueles que acham que coisas sérias são necessariamente chatas vão se surpreender. Cerrado, Urgente tem imagens belíssimas dos lugares que visitou e uma trilha musical muito bem cuidada pelas mãos do violeiro e professor Roberto Corrêa. O discurso dos personagens não trata só de ambiente e ecologia. No meio da conversa, eles entremeiam receitas para vários males pinçando no cenário verde as ervas apropriadas, contam ?causos?, falam da vida. Artistas – músicos, poetas e pintores – exibem a sua relação por meio de suas obras no documentário.

Darcy Ribeiro e Guimarães Rosa são convocados no texto de Novaes para reforçar a poesia do Cerrado que, segundo o poeta local Carlos Bernardos, ?é uma floresta de cabeça para baixo?.”

 

FALANDO PRECOCEMENTE

“Programa levanta bandeira da alfabetização”, copyright O Estado de S. Paulo, 31/08/03

“Uma crítica negativa pode resultar em uma grande ação social. Há cerca de um mês, uma colunista carioca deu nota zero para o programa Falando Francamente, que abre a programação vespertina do SBT. Até aí, tudo bem. ?Estou acostumada a receber críticas, boas e ruins. Já estive do outro lado e sei como é?, diz a apresentadora Sônia Abrão, que já foi colunista de jornal e revista. O problema é que a crítica atingiu – e de forma ofensiva – o telespectador. ?Disseram que meu programa era para analfabetos. Para que esse preconceito todo??, questionou-se. ?Como se ser analfabeto fosse uma opção e não uma condição.?

Foi a partir dessa crítica que a apresentadora decidiu fazer algo para ajudar na erradicação do analfabetismo no País. O primeiro obstáculo seria responder a uma questão aparentemente simples: como fazer isso por meio da televisão? Mas a resposta não foi tão simples como se esperava. ?Não temos nada igual na TV. O Telecurso, por exemplo, tem como objetivo difundir conhecimento. E minha idéia é alfabetizar adultos. É muito mais difícil?, explica Sônia. Uma tarefa complicada, mas que deve ser cumprida até outubro, quando a apresentadora pretende estrear o quadro Alfabetizando, dentro de seu programa vespertino.

O primeiro passo já foi dado: o programa tem um método a seguir. A educadora Léa Duprat, que estava assistindo ao programa quando Sônia falou sobre sua idéia, ligou para a produção e ofereceu um método de alfabetização desenvolvido por ela mesma, o Processo Silábico Viso-Motor. ?Gostei do método e agora estamos tentando adaptá-lo para a linguagem televisiva?, conta Sônia. ?É isso que está emperrando o projeto. Na verdade, queria colocar no ar assim que decidimos fazer, mas não é bem assim?, conforma-se.

Projeto – O formato e quem vai apresentar o quadro são questões ainda sem resposta. ?Consultamos alguns especialistas em televisão e a dica foi a mesma: temos de chamar a atenção do telespectador e por isso o apelo deve ser visual. Mas não definimos, ainda, um formato?, conta Sônia.

Enquanto o método não toma forma para a TV, a apresentadora vai divulgar os workshops promovidos pela educadora. ?Queremos ir além. Entidades e pessoas comuns podem aprender o método e repassá-lo, montar uma classe de alfabetização na comunidade. Enfim, o objetivo é difundir a idéia de erradicar o analfabetismo.?

Há pouco mais de um ano no ar, o Falando Francamente é um programa voltado basicamente para o público feminino. Um dos pratos preferidos do público, segundo a audiência instantânea do Ibope, são a leitura e os comentários da apresentadora para manchetes e notícias de revistas e jornais. ?Foi por causa disso que começaram a falar que meu público é analfabeto?, lembra Sônia.

Se o que dizem é verdade, essa condição poderá mudar em breve. No plano das intenções, pelo menos, a idéia é muito bem-vinda.”

 

REALITY SHOW / POLÍTICA

“O canal francês TF1 promove reality show com políticos”, copyright O Estado de S. Paulo, 30/08/03

“Eles serão convidados a passar 36 horas na casa de famílias voluntárias; estréia em outubro Já pensou em abrigar Paulo Maluf ou Marta Suplicy na sua casa por 36 horas?

Famílias francesas vão comer, dormir, trabalhar e se divertir com seus próprios políticos ?internados? em suas casas num novo reality show, que estréia em outubro.

Tentando diminuir o abismo entre os franceses e seus dirigentes políticos, o 36 Hours, da TF1, seguirá uma família voluntária por quase dois dias, enquanto ela cuida de seu cotidiano na presença de um importante político.

A primeira anfitriã é uma parteira de um subúrbio de classe trabalhadora de Paris, que recebe, num episódio piloto, o vice-ministro da Justiça, Pierre Bédier, íntimo aliado do presidente Jacques Chirac.

?A política em si já é uma realidade. Isto humilha a política, em vez de elevá-la. Não vou participar?, disse François Hollande, líder da oposição socialista.

Para o horror da elite intelectual do país, os franceses têm devorado uma sucessão de reality shows. Os formatos já incluíram mulheres brigando para seduzir um jovem milionário e os testes e provações da vida numa academia da fama para jovens cantores.

A TF1, maior emissora comercial da França, rejeitou as críticas. ?Não há nada indigno no fato de eles passarem dois dias com uma família. É o trabalho deles. Você não vai vê-los de pijama ou no banho?, disse Etienne Mougeotte, vice-presidente da TF1. (Reuters)”

 

TV PAGA

“TV paga volta a crescer após três anos perdendo receita”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 1/09/03

“O mercado de TV paga voltou a crescer, após três anos de base estagnada e receita em declínio. As operadoras de TV por assinatura tiveram faturamento bruto de R$ 845 milhões no segundo trimestre, um crescimento de 4,3% em relação aos primeiros três meses do ano. O faturamento acumulado no semestre é de R$ 1,6 bilhão, 15% a mais que o mesmo período do ano passado.

Os dados são do relatório de Resultados Setoriais da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), realizado em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas Operadoras de Sistema de Televisão por Assinatura (Seta).

O levantamento reflete os bons resultados das empresas e confirma o otimismo para o segundo semestre. Recentemente, as maiores operadoras, a Net, Sky e TVA, divulgaram balanços positivos no segundo trimestre.

A indústria da TV por assinatura vem apresentando saldos positivos, como aumento da rentabilidade, crescimento do serviço de internet em alta velocidade e estréia de novos canais. Com a queda nas taxas de juros e retomada do crescimento econômico, a ABTA espera resultados ainda melhores no segundo semestre.

O serviço de internet em alta velocidade foi o que apresentou maior crescimento no segundo trimestre. Em junho, eram 156.405 usuários de banda larga por cable modem, contra 147.750 em março. O aumento foi de 5,5% no segundo trimestre sobre o primeiro.

Os serviços de banda larga foram responsáveis por 5% do faturamento das operadoras de TV por assinatura no segundo trimestre. As assinaturas representaram 85% da composição do faturamento.

A base de assinantes chegou a 3.461.046 clientes em junho. Dois 2 milhões, ou 60%, recebem o sinal por cabo. Cerca de 223.000, ou 6% da base, recebem por MMDS, e 1.162 milhão, ou 34%, por DTH (satélite).

O relatório revela ainda que a TV por assinatura atualmente possui uma extensão de cabos ópticos e coaxiais de 61.220 Km, contando com 11 milhões de domicílios com acesso ao serviço.”