LIMITES
Luiz Antonio Magalhães
Durante a campanha eleitoral do ano passado, o presidente Lula disse várias vezes, nos intervalos das inúmeras entrevistas coletivas do dia-a-dia de candidato, que uma das suas primeiras "reformas" seria relativa ao trabalho dos "companheiros fotógrafos". Apesar da experiência de todas as campanhas anteriores, no ano passado Lula ficou muito impressionado com a audácia dos profissionais, especialmente após presenciar a performance de um fotógrafo que, em plena Rodovia dos Imigrantes e a pelo menos 130 quilômetros por hora, se debruçou para fora do automóvel da reportagem para fazer as imagens da viagem do então candidato.
No último domingo (7/09), a trágica notícia da morte do estudante Raphael Lima Pereira no Autódromo Internacional de Campo Grande (leia mais sobre o episódio na seção Entre Aspas) de certa maneira foi uma comprovação dos temores do presidente. No momento, é impossível dizer quem é ou quais são os culpados pela tragédia. Os organizadores do evento credenciaram o repórter e permitiram a sua presença em um local perigoso do autódromo; o jornal Raça enviou para cobrir o evento um jornalista inexperiente; e o próprio repórter se colocou em um local sabidamente perigoso ? talvez no afã de obter imagens exclusivas para a sua futura carreira, abreviada de maneira estúpida. É provável que a culpa esteja distribuída entre todos os envolvidos e só uma investigação séria pode dizer em que proporção.
Não é o momento, porém, de disparar acusações, que neste momento só poderiam ser precipitadas, mas de dizer que o exemplo de Raphael deve servir de alerta, especialmente aos jovens. É certo que o mercado de trabalho passa por uma crise aguda, talvez sem precedentes, fazendo com que o início de carreira de jornalistas se torne uma verdadeira guerra por espaço e visibilidade. A morte de Raphael é um aviso de que, como tudo na vida, existem limites que não devem ser ultrapassados. O preço, como se viu em Campo Grande, pode ser caro demais.