Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniel Piza

MULHERES APAIXONADAS

“Mulheres”, copyright O Estado de S. Paulo, 7/09/03

“O assunto está em toda parte – em novelas, jornais, quadrinhos, filmes, livros. As mulheres, apesar dos penares, enfim estariam atingindo sua real independência. Ainda que reste muito a evoluir no campo profissional e no político, porque as mulheres continuam a ganhar e mandar menos que os homens, e ainda que as exigências modernas tenham depositado um fardo pesado sobre sua rotina, porque elas acabam se desdobrando mais que eles para serem profissionais & esposas & mães, a ?atitude? já seria totalmente independente, segura, ?de igual para igual? com os homens. Mas será mesmo?

Um sinal de que esse ideal ainda não foi realizado é a própria necessidade de tratar os homens de forma reducionista. É da tradição cultural que um grupo social, para se afirmar, num primeiro momento reaja de modo exagerado, rotulatório, contra aquele que o discrimina. Mas acho que essa etapa já deveria ter passado, em média; afinal, homens da minha geração procuram ser, embora nem sempre consigam, mais solidários nas tarefas caseiras, ajudando a criar os filhos até onde for possível a partilha.

No entanto, a atual novela das nove da Globo, por exemplo, poderia muito bem se chamar Homens Apalermados, em vez de Mulheres Apaixonadas. Raros representantes do sexo masculino se salvam ali. Um deles, Sérgio, é casado com uma mulher doentiamente possessiva, mas entre suas qualidades não está a coragem sadia de largá-la. César, um cirurgião respeitado, só quer saber de reconquistar a mulher que o traiu no passado, enquanto se diverte com as colegas no próprio local de trabalho. Diogo, apaixonado pela prima, não gosta de trabalhar e também passa os dias ?galinhando?. Cláudio, o certinho, engravida a filha da empregada, sem lhe ocorrer usar a camisinha. E assim por diante, numa sucessão de bonitões simpáticos mas ocos, ocos.

É claro que a novela já no título propõe que os homens sejam coadjuvantes. E é claro que ela, com seu excesso de merchandising e melodrama, tampouco consegue fazer que as personagens femininas sejam mais que estereótipos – a ciumenta, a submissa, a poderosa, a maternal, a revoltada, a exuberante, etc. Mas é esse o problema. Os homens são tipos ainda mais rasos; não há nenhum com as forças e os dilemas, digamos, de Lorena ou Helena. Assim sendo, não entendemos por que elas se descabelam tanto por eles, a não ser que seja pela razão da aparência. Lorena defende com muita dignidade o direito de namorar um cara mais moço, mas, de qualquer modo, continuamos a não entender o que ela viu nele além da fachada de modelo.

Mesmo num programa mais inteligente, como Sex and the City, o esquema não muda muito. Os diálogos e as atuações são consideravelmente superiores, mas o fato é que lá estão quatro tipos de mulher, e não quatro mulheres.

Samantha é a ?liberada?, pronta para transar com qualquer bonitinho a qualquer instante. Charlotte é o tipo clássico espera-marido, que por isso se dá mal em Manhattan e chega ao ponto de se casar sem amor com um filhinho de papai bobalhão. Miranda é a exigente que, por não ser sexy, não pode exigir muito. E Carrie, a narradora (a charmosa e espirituosa Sarah Jessica Parker, na vida real muito menos indecisa que Carrie), vive oscilando entre um sujeito mais velho, com quem se dá bem na cama, e o namorado, com quem, apesar de bonito, inteligente e compreensivo, ela não quer compromisso fixo.

Assim fica difícil.

Carrie, certo, é uma personagem novaiorquinamente plausível: não é volúvel como Samantha, nem careta como Charlotte, nem mal-amada como Miranda; é um pouco de todas elas, dependendo do momento – ?la donna è mobile?. No fundo, porém, todas elas são muito parecidas entre si e com as mulheres da novela global: no fundo, buscam o homem da sua vida (até Samantha, numa crise de gripe, passa um episódio inteiro a clamar por um companheiro estável), em torno do qual essa vida possa continuar a girar. O complicador, agora, é que essa vida está ainda mais cheia de obrigações e ocupações, especialmente nas metrópoles e especialmente para as mulheres.

Não basta ganhar dinheiro e ter companheiro; é preciso, ainda, adquirir o corpo de uma modelo ou atleta, aprender a transar sem gamar, disputar os homens com outros homens e, claro, acompanhar a moda da estação. O ideal é ser Gisele Bündchen ou Luana Piovani, mulheres lindas, famosas e ricas, que, como naquela propaganda da Coca-Cola em que a menina coleciona uma latinha por namoradinho, dizem ficar com os homens como eles sempre ficaram com as mulheres – ou seja, sem telefonema no dia seguinte. Mas, puxa, bem que elas podiam se acertar com o Leonardo DiCaprio e o Rodrigo Santoro, né?

Também em bons programas da TV brasileira essa contradição capciosa pode ser notada. Compare, por exemplo, Saia Justa e Manhattan Connection. Na mesa-redonda feminina, o papo sempre migra para a intimidade, e o programa causa mais repercussão com as inconfidências do que com as opiniões emitidas. Na mesa-redonda masculina, quebrada apenas no último bloco pela presença sofisticada de Lúcia Guimarães, tudo é muito sério, objetivo, assertivo. O melhor, claro, seria um Saia Connection. Mas quem ainda não notou que a Vani perde quase todas as discussões para o Ruy em Os Normais?

Algumas mulheres, como a argentina Maitena, autora de Mulheres Alteradas, já perceberam que certas coisas não mudaram. Ela mostra como as mulheres ainda se preocupam demais com as aparências, como são possessivas, como misturam as estações. Por tabela, mostra como esse jogo, até certo ponto, convém aos homens, pelo menos os maduros, que logo aprendem a explorar essas encanações femininas. Elas, afinal, são mais cobradas pela aparência que eles (?Um homem mais velho com uma menina de vinte é um gostosão, uma mulher mais velha com um garotão de vinte é um escândalo de mau gosto?, escreve Maitena) e, como disse H.L. Mencken, os homens continuam se ofendendo mais quando alguém diz que sua mulher é feia do que quando diz que ela é burra.

Se as mulheres pensassem um pouco menos no visual, haveria esperança. A esperança nos homens eu já perdi.

De la musique Gostei muito do show de Luciana Souza no Sesc Vila Mariana, embora o lugar mais apropriado fosse um Bourbon Street. Ela cantou músicas de seus dois discos mais famosos, Brazilian Duos e North and South (da gravadora Biscoito Fino, que vem fazendo jus ao nome), este recém-lançado aqui. O que é bacana em Luciana é que sua voz, de um timbre rico e bonito, ainda que não inconfundível, também ?jazzeia?, usando as ótimas respiração e dicção com estilo brasileiramente suave, bossanovístico. Luciana, acompanhada de um trio excelente, em especial o violonista Marco Pereira, surpreendeu ao reler ?standards? como All of Me e, num arranjo de chorinho, Chega de Saudade; e nos presenteou ainda com Edu Lobo, Paulinho da Viola e outros, num show cujo defeito foi ser curto.

O mais recente CD de Cida Moreira, Uma Canção pelo Ar… (Kuarup), é outro show. Cida é capaz de seqüenciar Se Todos Fossem Iguais a Você, de Tom e Vinicius, Tarzan, o Filho do Alfaiate, de Noel Rosa e Vadico, Estrada do Sertão, de João Pernambuco e Hermínio Bello de Carvalho, e Tempo e Artista, de Chico Buarque, para citar minhas preferidas, e encontrar uma estranha unidade em tal diversidade. Isso inclui a linda interpretação de uma modinha imperial anônima, Si te Adoro, que é um emblema da simplicidade sofisticada de todo o disco.

Por que não me ufano Muito bom o diálogo de Faustão e Caetano Veloso no último domingo. Faustão perguntou sobre a conjuntura brasileira e Caetano respondeu com sua conhecida dialética baiana: ?Acho que estamos mal. Mas sinto que vamos bem.?

Faustão: ?Não é o que a gente vem dizendo desde sempre??

Aforismos sem juízo A mulher mora nos detalhes. O homem viaja nos conjuntos.”

 

ANJO MAU

“?Anjo Mau? bate recorde no ?Vale a Pena?”, copyright O Estado de S. Paulo, 6/09/03

“Novela boa é novela boa e ponto. Mesmo sendo reprisada. Se as últimas tramas das 6 da Globo não andaram tão bem em audiência – alguns capítulos de Sabor da Paixão e Agora É Que São Elas chegaram a registrar 25 pontos de ibope, média baixa para o horário – a Globo está mais do que satisfeita com suas últimas apostas no Vale a Pena Ver de Novo. A bola da vez é Anjo Mau (1997), remake da trama de Ivani Ribeiro.

Os 15 capítulos iniciais da saga da babá Nice (Glória Pires) alcançou 25 pontos de média de audiência no Painel Nacional de Ibope, com 63% de share (participação no total de TVs ligadas no horário). Essa é a maior média do horário que os 15 capítulos iniciais de uma reprise alcançou desde 2001.

O Cravo e a Rosa (2000), que foi bem em audiência na primeira e na segunda exibição, registrou 24 pontos de ibope em suas duas primeiras semanas no ar no Vale a Pena.

O crescimento do ibope da exibição das ? velhinhas? começou com a reprise de História de Amor (1995) e, na seqüência, de Por Amor (1997), ambas de Manoel Carlos. O Vale Pena, que até então registrava média de 16 pontos de audiência, ultrapassou a casa dos 20 pontos.

A escolha de Anjo Mau para reprisar foi baseada no passado de audiência da trama – esse é um dos critérios de escolha para o Vale a Pena – e não nos pedidos do público. A novela mal era lembrada nas cartas e e-mails dos telespectadores que chegam a Globo.

Na fila de sucessos esperando a reexibição já estão Laços de Família ( 2000) e Terra Nostra (1999).”

 

DOMINGO LEGAL

“?Domingo Legal? enfrenta crise e perde diretor”, copyright O Estado de S. Paulo, 6/09/03

“A crise tomou conta do Domingo Legal, do SBT. Há vários meses perdendo audiência para o concorrente Domingão do Faustão, da Globo, o programa de Gugu perdeu anteontem o seu diretor-geral, Roberto Manzoni, que há quase 15 anos comandava a atração.

Manzoni, que já tinha pedido demissão em maio – na época, Silvio Santos o convenceu a ficar -, deixou seu cargo na quarta-feira à noite. Em reunião com a direção da emissora, alegou que não concordava com as novas diretrizes que o programa vem tomando. Tentando reverter o quadro de constantes derrotas para Faustão, o Domingo Legal ganhou novos quadros, todos na linha de ?assistencialismo sensacionalista?, e um novo diretor foi contratado, Maurício Nunes, ex- RedeTV!, para ajudar a alavancar o ibope. A estratégia, como indicam os últimos placares de audiência, não surtiu efeito. Segundo medição do Ibope na Grande São Paulo, no dia 3 de agosto o Domingo Legal registrou 19 pontos de audiência, ante 23 de Faustão. Na seqüência, no dia 17, perdeu novamente, obtendo 19, ante 25 da Globo. No dia 31 de agosto, Faustão registrou 28 pontos no Ibope, e Gugu, 22. Um dos últimos bons resultados do programa foi em junho, com empate, no dia 15, de 22 pontos.

Cada ponto equivale a 48,5 mil domicílios na Grande São Paulo.

Na manhã de ontem, a equipe do Domingo Legal se reuniu para acertar os ponteiros sobre a saída de Manzoni. O diretor se reunirá com Silvio Santos na segunda-feira para decidir seu rumo na emissora. Manzoni já vinha trabalhando na direção artística de alguns programas de SS.

Até o fechamento desta coluna não havia informações oficiais sobre quem seria o novo diretor-geral do Domingo Legal.”

“Diretor se demite do ?Domingo Legal?”, copyright Folha de S. Paulo, 5/09/03

“Crise no ?Domingo Legal?, do SBT. Diretor-geral do programa há oito anos, Roberto Manzoni pediu demissão do cargo anteontem à tarde. Magrão, como é conhecido Manzoni, discutiu a decisão diretamente com Silvio Santos. O diretor não falou sobre o assunto com Gugu Liberato, apresentador do ?Domingo Legal?.

As relações entre Manzoni e Liberato estão estremecidas desde o final do ano passado, quando o ?Domingo Legal? perdeu a liderança no Ibope para o ?Domingão do Faustão?, da Globo.

Em maio, Manzoni chegou a entregar o cargo, após Gugu Liberato contratar Maurício Nunes para ser co-diretor do ?Domingo Legal?. Mas voltou atrás. Desta vez, segundo sua assessoria, o afastamento do programa é irreversível. A assessoria de Manzoni afirma que ele só irá falar com a imprensa na semana que vem.

Manzoni estava insatisfeito com o rumo tomado pelo programa nos últimos meses, devido à pressão da campanha ?Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania?. Liberato se comprometeu com a campanha a fazer um programa menos apelativo. Assim, cortou ?ensaios sensuais?, pegadinhas e musicais _o que desagradou ao diretor Manzoni.

Manzoni terá reunião com Silvio Santos na semana que vem. Se continuar na emissora (ele tem sido sondado por concorrentes), deve assumir o comando de programas da linha de shows.”

 

TV RECORD

“Record investe US$ 20 mi para passar SBT”, copyright Folha de S. Paulo, 8/09/03

“A Record vai investir cerca de US$ 20 milhões (R$ 58 milhões) na programação que prevê estrear em março de 2004. Quase a totalidade desses recursos será consumida por uma telenovela nacional, por um pacote de filmes ?competitivos? e pelo incremento da programação dominical.

?Nossa expectativa, com esse investimento, é disputar o segundo lugar no Ibope com o SBT. O SBT tem uma história, temos que respeitá-lo, mas acredito que temos todas as possibilidades para isso e estamos no caminho certo?, afirma Luciano Callegari, superintendente de programação e artístico da Record.

A meta é alcançar o SBT até o final de 2004. No ano passado, a Record teve média diária de 4 pontos na Grande SP e o SBT, de 10.

A telenovela será produzida pela independente Casablanca (que já realiza ?Turma do Gueto?). A parceria foi fechada sexta-feira. A novela terá 144 capítulos, ao custo de US$ 50 mil cada, com ?elenco de peso? e padrão ?próximo do da Globo?. Com o título provisório de ?Beleza Artificial?, será uma trama sobre estética.

Aos domingos, segundo Callegari, poderá haver um programa para competir com o ?Fantástico?, da Globo, ?com perfil parecido, mas em outra linha?. O ?Domingo da Gente?, de Netinho de Paula, deverá ter mais duas horas.

A parceria com a Globo pelo futebol deverá ser mantida, segundo Luciano Callegari.

OUTRO CANAL

Força Silvio Santos compareceu na última sexta à redação de jornalismo do SBT. Foi prestigiar Hermano Henning e a equipe que realiza o ?Jornal do SBT – 1? Edição?. O telejornal, na linha americana, é um projeto do próprio Silvio. No SBT, diz-se, em tom de brincadeira, que o empresário é o editor-chefe do jornal.

Vilã Regina Duarte vai reforçar o elenco de ?Kubanacan?, novela das sete da Globo. Nesta semana, ela começa a gravar sua participação especial. Interpretará Maria Félix, a mulher ?mais perigosa? da fictícia Kubanacan _um papel diferente no currículo de Regina, acostumada a fazer heroínas.

Mistério 1 Em 12 de junho, o ?Hora da Verdade?, da Band, chegou a empatar com a Globo no Ibope com uma história de uma mulher que dizia ter descoberto que namorava o próprio filho, que abandonara quando bebê. Diante de suspeitas de que o caso era armação, a produção providenciou um exame de DNA.

Mistério 2 O resultado do exame continua inédito. A Band afirma que o Unigen, que realizou o teste, só entrega o resultado à suposta mãe ou ao suposto filho _informação confirmada à Folha pelo laboratório. Diz ainda que a produção do programa não mais localizou o casal. No SBT e na Record, no entanto, exames de DNA são retirados pelas próprias produções dos programas.”