RADIOBRÁS & ESTADÃO
No domingo, 14/9, o jornal O Estado de S.Paulo publicou reportagem assinada por João Domingos [veja remissão abaixo] sobre a estrutura montada na Radiobrás para produção e divulgação de material jornalístico de interesse do governo. A matéria rendeu suítes nos dias seguintes. Na quarta-feira (17/9), o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, encaminhou ao diretor de Redação do Estado a carta que o OI reproduz abaixo.
Ao Senhor Sandro Vaia, Diretor de Redação de O Estado de S.Paulo
C/c: Senhor Luiz Fernando Rila, Chefe da Sucursal de Brasília
C/c: Senhor João Domingos, Repórter Especial
Brasília, 17 de setembro de 2003
Prezado Senhor,
No dia 14, O Estado de S. Paulo publicou uma extensa reportagem assinada por João Domingos que faz várias referências à Radiobrás e ao serviço de notícias que ela oferece na Internet, a Agência Brasil. Fui entrevistado pelo jornalista e devo dizer que todas as falas a mim atribuídas são fiéis e representam meu pensamento. Isso não me surpreendeu. Tenho grande respeito pelo O Estado de S.Paulo, jornal para o qual já trabalhei como colunista. Conheço a seriedade e a excelência jornalística que são suas marcas tradicionais. O que me surpreendeu foi encontrar, na reportagem do dia 14, algumas incorreções factuais. Cabe a mim apontá-las agora, tendo em vista, especialmente, a repercussão que o assunto alcançou nos dias subseqüentes.
1. Diferentemente do que foi afirmado, não houve um ?agigantamento? do noticiário da Agência Brasil. Ao contrário, a nossa opção foi reduzir o volume de notícias e elevar sua qualidade. Em janeiro de 2003, a Agência Brasil produziu 9.387 textos. Destes, 6.371 eram breves comunicados, dando conta de pormenores como uma alteração na agenda de alguma autoridade federal. Em agosto, a agência produziu 8.253 textos, reduzindo o número de notas breves para 3.069 (nenhuma, aliás, sobre modificações em agenda).
2. Também não houve ?agigantamento? do número de pessoas empregadas na Radiobrás. Em 31 de dezembro de 2002, ela contava com 1.147 funcionários, entre quadros de carreira e ocupantes de cargos de confiança (ou funções comissionadas). Em 31 de agosto de 2003, contava com um total de 1.151. A diferença é desprezível. No que se refere especificamente ao número de jornalistas, a empresa tinha, em 31 de dezembro de 2002, 282 profissionais. Em 31 de agosto de 2003, eram 295 jornalistas. Das 13 novas vagas, 11 foram preenchidas por servidores aprovados em concurso e 2 por profissionais contratados para cargos de
confiança.
3. A reportagem diz que a Radiobrás ?iniciou uma ampla reestruturação em sua equipe, demitindo antigos funcionários de carreira e atraindo profissionais da iniciativa privada com salários competitivos?. (…) ?Os que estão sendo contratados chegam para funções de confiança com salários entre R$ 6 mil e R$ 8 mil?. Não é verdade. Funcionários de
carreira só podem ser substituídos por servidores aprovados em concurso. Trata-se de uma determinação legal. Dos novos concursados, nenhum ganha mais do que 6 mil reais. Os valores, a propósito, são bem menores. Quanto aos ocupantes de cargos de confiança contratados pela atual gestão (não concursados, portanto), todos recebem salários
inferiores a 5,5 mil reais (muito raros são os que recebem mais de 4 mil reais). Há uma única exceção, de um funcionário que acumulou temporariamente uma gratificação, cujo salário total atingiu, por poucos meses, 6,2 mil reais. Os editores da Agência Brasil ganham em média R$ 3 mil. O chefe da Agência recebe R$ 5,4 mil, o mesmo valor pago na administração anterior.
4. O sistema de envio de notícias via satélite (para rádios) existe desde 1995, ou seja, não faz parte de uma estratégia recente como sugere a reportagem.
5. O fato de a Radiobrás cobrir assuntos que não fazem parte da agenda de solenidades, eventos e atos do governo não é uma novidade inaugurada em 2003. Embora francamente minoritárias, reportagens sobre essas áreas são produzidas pela Radiobrás há vários anos. A editoria de Cultura desde 2001. A seção de Ciência e Tecnologia foi criada em 1989 e já foi premiada três vezes: duas pelo CNPq e uma vez com o Prêmio Embrapa de Jornalismo.
6. A Radiobrás não quer concorrer com nenhuma agência privada. Em lugar disso, adota uma orientação expressa de evitar concorrência. Mais ainda: atua para abastecer com suas notícias, sem nada cobrar por isso, agências e veículos jornalísticos, públicos ou privados. A Radiobrás dispõe seu material jornalístico a todos, independentemente do porte ou
da localização geográfica. Só neste ano, a Agência Estado, por exemplo, aproveitou 149 matérias da Agência Brasil (algumas na área de cultura), citando a fonte.
7. Jamais elaborei projeto de comunicação que tenha por objetivo atingir 100 milhões de pessoas. Desconheço qualquer projeto desse tipo. Não há projeto similar em curso na Radiobrás.
8. Por fim, esclareço que não trabalhei no jornal O Globo, como foi informado. O único diário do Rio de Janeiro com o qual colaborei, na condição de colunista, é o Jornal do Brasil. Também não sou professor licenciado da Faculdade Cásper Líbero: pedi demissão do posto no início do ano.
É fundamental que a imprensa discuta aberta e livremente todos os atos do governo e das empresas públicas. É fundamental, também, que essa discussão se baseie em dados verdadeiros. É com essa convicção que, respeitosamente, faço essas poucas correções.
Atenciosamente,
Eugênio Bucci, Presidente da Radiobrás
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