REMORSOS IMPRESSOS
Alberto Dines
O carro-chefe da mídia impressa das Organizações Roberto Marinho destaca-se agora como um dos mais empenhados no jornalismo investigativo, sobretudo no tocante a essa terra-de-ninguém em que se transformou o Rio de Janeiro. O casal Garotinho pinta e borda no seu arraial e não fosse a bravura do jornal fundado por Irineu Marinho, a governadora estaria fazendo curso de bordado e o marido estaria despachando no Palácio Guanabara.
No dia 22/8, o jornal denunciou e comprovou um escândalo envolvendo diversas universidades privadas locais que nos últimos três anos receberam do governo estadual cerca de 500 milhões de reais, sem licitação. Destas, a minúscula Unicarioca, que pertence ao "imortal" Arnaldo Niskier, recebeu cerca de 50 milhões de reais, quase 10% da mamata (O Globo, "Contratos sob suspeita", 31/8/03, pág. 22).
O escândalo foi comentado na edição passada deste Observatório [remissão abaixo] e, diante da repercussão, mexeram-se alguns pauzinhos: logo em seguida, o reitor da Unicarioca, Celso Niskier, colocado pelo indômito Globo no banco dos suspeitos era alçado à condição de autoridade em matéria educacional. No quinta-feira (11/9), abrindo o noticiário nacional, O Globo colocou o indigitado ao lado do representante da Unesco e de um membro do Conselho Nacional de Educação para palpitar a respeito de uma desastrada declaração do ministro Cristovam Buarque ("Vamos pedir mais dinheiro", pág. 3).
Considerando o desagravo insuficiente, o jornal decidiu reabilitar o reitor suspeito de embolsar 50 milhões de reais do erário estadual colocando-o com todas as galas na página de opinião (segunda-feira, 15/9). E nela o preclaro declara com todas as letras: "Um curso superior não pode ser medido só pelos alunos que está formando".
Então, Magnífico, como é se que se mede um curso superior ? pela grana que os acionistas embolsam?
É evidente que a instantânea reabilitação do acusado (filho do "imortal") não partiu da redação. Graças à sua equipe de jornalistas, O Globo alcançou hoje um padrão ímpar de isenção e esmero. Tudo indica que a ordem de branqueamento do reitor-empresário veio "de cima" ou "de lado". E foi uma ordem vigorosa porque acabou chutando para escanteio um freqüentador contumaz da página de opinião das segundas-feiras, o representante da Opus Dei no Brasil, Carlos Alberto Di Franco.
Com estas súbitas reviravoltas e inspiradas penitência, quem sai perdendo é o jornal, é a empresa, é o grupo. O maior da mídia brasileira, um dos maiores do mundo.
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