THE NEW YORK TIMES
Bill Keller, o editor-executivo do New York Times que assumiu o cargo depois que Howell Raines pediu demissão após o escândalo Blair, não pensa em outra coisa senão na dura tarefa de reconstruir a reputação de um dos maiores jornais americanos.
Primeiro, Keller precisa terminar de pôr em prática todas as metas traçadas pelo Comitê Siegal, entre elas a criação do cargo de editor público, em outras palavras, ombudsman ? muitos funcionários do jornal acreditam que a vaga será ocupada pela colunista Joyce Purnick. Há, ainda, algumas áreas de cobertura que precisam ser reformuladas, de acordo com o editor, que não quis entrar em detalhes. "Não montei uma lista", disse. "Acho que alguns setores do jornal precisam de muita atenção. Um dos mais óbvios, porque foi montado por Raines, é o departamento de cultura."
No momento, porém, o Times vive um período sentimental e avesso a mudanças radicais, mais passíveis de acabar em tragédia, de acordo com Sridhar Pappu [The New York Observer, 29/9]. Adam Moss, novo subeditor administrativo de features (o equivalente, grosso modo, a reportagens de gaveta, atemporais, sobre assuntos variados, ou matérias frias), conseguiu reunir numa mesma sala editores e repórteres que nunca estiveram no mesmo lugar para coordenar a cobertura entrelaçada entre seções do jornal que quase nunca interagem. "Não precisou de mais de 25 minutos para que desenhássemos uma linha de cobertura agressiva para a reportagem", disse Glenn Kramon, editor de negócios e finanças. "No final, ele [Moss] disse: ?Concordamos em que é isso que temos de fazer?? E fomos e fizemos."
"Há pessoas espertas aqui", disse Keller. "Ponha-as no lugar certo, salpique-lhes água benta e coisas boas vão acontecer". Um exemplo apontado pelo editor foi o blecaute que assolou Nova York e outras cidades nos EUA e no Canadá em agosto. Na época, Keller estava de férias, mas acompanhou os desdobramentos e não só achou a cobertura do Times muito bem feita como acreditou que ali ocorria um ponto de mutação para uma equipe que passou todo o verão americano (inverno no Brasil) lendo notícias (ruins) sobre si mesma.
"Foi um momento catártico para a redação", afirmou Keller. "Precisávamos de uma grande reportagem, como essa, em que todo mundo trabalhou com poucos computadores e tentou descobrir a melhor forma de fazer o jornal sair sem eletricidade."
Embora tente se reerguer, a Gray Lady ainda é alvejada pelos concorrentes. Um editorial do New York Post [25/9] ataca o jornalão dizendo que ele está "de volta com seus truques" ao "distorcer a imagem do Iraque, enterrando boas notícias e exaltando as ruins".
O Post observa as notícias veiculadas pelo Times em 24/9. Uma das notícias do Iraque mais importantes dos últimos tempos, na opinião do editorial, veio de um relatório do Gallup sobre residentes de Bagdá. A pesquisa revelou que dois terços dos moradores da capital iraquiana acham que a expulsão de Saddam Hussein valeu a pena.
"E onde a notícia apareceu? Enterrada no meio do jornal, no fim da página 16 do primeiro caderno", disse o Post, que admitiu que pelo menos a notícia foi veiculada apropriadamente. "Mesmo tendo sido factualmente correta, a localização da matéria ainda é surpreendente em um jornal que se gaba da busca por notícias sob medida para publicação."
O editorial do Post diz que se a pesquisa tivesse apurado o resultado oposto, de que os residentes de Bagdá estariam contra a campanha da coalizão, "pode ter certeza de que estaria na primeira página do Times". "Os lapsos da Gray Lady sobre a notícia de Bagdá deveria enfurecer os americanos. As coisas estão melhorando no Iraque ? e os iraquianos sabem disso. Os leitores do Times também deveriam saber."