JORNALISTAS NO IRAQUE
Christiane Amanpour, correspondente internacional da CNN, está reclamando de “autocensura” na cobertura de guerra da emissora. Em abril, o ex-executivo da CNN Eason Jordan reconheceu que a CNN de fato estava se autocensurando, suprimindo a verdade sobre o regime de Saddam Hussein por medo de perder “acesso”.
Impressionantemente, porém, não é disso que Christiane reclama. Ela acha que a emissora foi insuficientemente pró-Saddam. Quando a apresentadora Tina Brown perguntou se “nós da mídia, assim como oficiais do governo, tomamos [o refresco] Kool-Aid quando foram à guerra”, Christiane respondeu que acha que a imprensa foi amordaçada e se auto-amordaçou. “Sinto dizer, (…) mas minha estação foi intimidada pelo governo e seus soldados da Fox News. E isso criou um clima de medo e autocensura.”
De acordo com reportagem de James Taranto [The Wall Street Journal Online, 16/9], a Fox News retrucou, por meio da porta-voz Irena Briganti, no USA Today: “Dadas as opções, é melhor ser visto como soldado de Bush que como porta-voz da al-Qaeda.”
Como os soldados americanos, os jornalistas que ainda estão no Iraque nem em sonhos vêem uma rotina tranqüila. De Bagdá, a repórter do Los Angeles Times [19/9] Carol Williams conta que um dos assuntos entre os colegas que estão hospedados com ela no hotel Hamra é com que facilidade terroristas conseguiriam passar com um veículo cheio de explosivos por sobre os blocos de concreto colocados diante do edifício.
Especialistas em segurança contratados pelos veículos de comunicação americanos já alertaram que o Hamra é um lugar vulnerável. Por isso, alguns jornalistas já o deixaram – alguns deles foram para o hotel Palestine, um lugar muito mais chamativo, mas que ao menos está protegido por uma barreira militar.
Em encontro organizado pelo consulado dos EUA para civis americanos, a frase “não quero assustar vocês, mas…” introduzia quase todas as recomendações de segurança dadas pelos militares. Estrangeiros que não andam armados não devem circular pela cidade exceto quando necessário. Além disso, devem dormir em quartos longe da rua e sempre carregar algum aparelho de comunicação. Os motoristas têm que evitar congestionamentos e mudar de faixa constantemente, para que ninguém possa jogar uma bomba ou granada no veículo. “Fomos orientados a deixar nossos motoristas iraquianos ligarem os carros antes de entrarmos neles e a viajar sempre de vidros fechados”, relata Carol.
Mesmo para deixar a cidade, a situação não está tranqüila. É difícil saber qual das duas opções possíveis – por terra ou por ar ? é mais arriscada. A estrada que liga a capital iraquiana a Amã, na Jordânia, está cheia de grupos armados que assaltam os viajantes. O único vôo diário que deixa o aeroporto de Bagdá, por sua vez, é possível alvo de defensores de Saddam Hussein. O jordaniano Ranya Kadri, que planeja a logística de dúzias de correspondentes que optam pela viagem de carro, faz sua propaganda: “As pessoas estão sendo roubadas na estrada, mas não estão sendo mortas. Os aviões são um grande troféu para os terroristas e, se eles derrubarem um, definitivamente não haverá sobreviventes”.