NOTAS DE UM LEITOR
Luiz Weis
O correspondente do Estado em Buenos Aires, Ariel Palacios, e os editores do jornal fizeram um excelente trabalho sobre "A refinada fé de Benedita" (sexta, 26/9).
Esse foi o pontiagudo título de primeira página, em três colunas, sob uma foto também de primeira, que espetou a viagem à Argentina da ministra da Assistência e Promoção Social, Benedita da Silva, "para um encontro religioso num dos três mais caros hotéis de Buenos Aires", financiado pelo contribuinte, como se lê na chamada da matéria.
"Oficialmente", informa a chamada, "ela teria ido para um encontro com a ministra argentina do Desenvolvimento Social, mas essa reunião só foi solicitada quando a viagem já havia sido marcada e anunciada por portaria no Diário Oficial".
Dentro, o Estadão deu meia página ao escândalo e as reações que provocou, na oposição e no governo. A Folha, em comparação, deu a matéria em uma coluna. O título do primeiro foi na veia: "Benedita faz viagem religiosa com verba pública". O do segundo, uma ode à desimportância: "Benedita marca reunião às pressas na Argentina".
No governo Fernando Henrique, nem a mídia nem os procuradores federais deixaram passar batidas as viagens com finalidade pessoal, em aviões da FAB, dos ministros Francisco Weffort, Ronaldo Sardenberg e Raul Jungmann.
O caso da ministra Benedita é claramente mais grave. Mas não consta que algum repórter tenha procurado o procurador-geral da República, Claudio Fontelles, ou o controlador-geral da União, Waldir Pires, para saber como é que fica.