Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Leila Cordeiro

PCC SUPERSTAR

“Jornalismo Mentira”, copyright Direto da Redação (http://www.diretodaredacao.com/), 14/09/03

“Em qualquer emissora de TV do mundo, um programa jornalístico deve respeitar basicamente os princípios da ética e da verdade. Nenhuma entrevista ou reportagem pode ir ao ar sem antes passar pelo crivo de um departamento de jornalismo responsável, onde profissionais têm condições de avaliar o conteúdo do que vai ao ar. No caso recente ocorrido no SBT, a situação é mais grave porque o departamento de jornalismo da emissora é deficiente e o Domingo Legal supria essa falta com equipe e critérios de avaliação próprios.

O que foi ao ar no programa do Gugu é o que se pode chamar de absurdo e bizarro: pretensos bandidos ameaçando apresentadores de TV e autoridades. Com essa atitude, o programa praticamente se aliou ao crime organizado, permitindo que seus porta-vozes (se não se provar que tudo não passou de encenação) utilizassem uma rede nacional de TV para fazerem a apologia da violência. A atitude minimamente correta da produção do programa seria avisar às pessoas ameaçadas que suas vidas estavam em perigo. Como repórter, ouvi muitas vezes os chefes alertarem: ?bandido não fala, só o advogado dele?.

O que se lamenta num momento como esse é que o jornalismo já teve importância na grade de programação do SBT. Apesar da existência do apelidado ?muro da vergonha?, que separava a equipe do TJ Brasil da redação dos demais telejornais, em função de uma disputa de poder entre Boris Casoy e o então diretor Marcos Wilson, o jornalismo do SBT teve seu momento de glória, conquistando audiência e dando credibilidade à TV de Silvio Santos. Profissionais respeitáveis vestiram a camisa da emissora nos tempos heróicos da Vila Guilherme, onde nem as enchentes do Rio Tietê tiravam a tesão de uma equipe dedicada que chegou a incomodar a concorrência.

Mas Silvio Santos, a quem considero um gênio como artista, talvez tenha cometido um erro de avaliação como empresário ,ao exigir do jornalismo os altos índices de pontuação no Ibope que os programas da linha de show conseguiam. Mesmo prestigiado pelos anunciantes e pela mídia, o jornalismo não dava a pontuação que ele esperava. Com a mudança da Vila Guilherme para o complexo da Anhanguera, Silvio passou a comandar pessoalmente a grade da programação. Os telejornais da emissora pulavam de horário como os âncoras mudavam de roupa. O público foi perdendo a referência e o departamento se esvaziando. Até que em 1997, depois de um desentendimento com Boris, que levou o titular do TJ para a Record, Silvio resolveu acabar com o que restava do jornalismo, deixando no ar apenas um arremedo de noticiário com uma equipe de jornalistas que podia ser contada nos dedos das duas mãos.

O problema é que a ânsia de conseguir os pontinhos no Ibope está levando as produções dos programas sensacionalistas que infestam a nossa TV a montarem situações que causem impacto e induzam o público a sentir medo. No caso do programa do Gugu, a irresponsabilidade é ainda mais grave se for comprovado que a entrevista foi forjada. O Domingo Legal, que durante muito tempo bateu o Faustão, vinha perdendo audiência para o concorrente. E a obsessão pelos números do Ibope certamente levaram a produção do programa a ultrapassar o bom senso, o que pode balançar o prestígio de toda a programação da emissora.

Será que Gugu precisava ter apelado desse jeito? Ele sempre conduziu seus programas no SBT com simplicidade e alegria, mas a guerra pelos famigerados números do Ibope levam as pessoas a perderem a lucidez e o resultado pode ser desastroso. Gugu e a concorrência não podem perder de vista que mesmo um programa popular precisa respeitar os limites da ética e, acima de tudo, o telespectador.”

“Domingo Ilegal”, copyright Veja, 17/09/03

“Cerca de duas semanas atrás, o apresentador Gugu Liberato havia dado um passo razoável no sentido de elevar o nível de seu programa dominical – o rompimento com seu diretor de produção, Roberto Manzoni, que tinha o hábito de colocar baixarias no ar. Mas tudo veio por água abaixo no último fim de semana. Gugu agora está envolvido num autêntico caso de polícia. Na edição do dia 7 do seu Domingo Legal, a produção do programa realizou uma entrevista com dois sujeitos encapuzados, que se apresentaram como membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e fizeram ameaças de morte a personalidades como o padre Marcelo Rossi e o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, e aos apresentadores de programas policiais José Luiz Datena (Bandeirantes), Marcelo Rezende (RedeTV!) e Oscar Roberto de Godoy (Record). A repercussão foi péssima. Não só a decisão de abrir espaço no ar para criminosos seria por definição irresponsável, como chovem denúncias de que a entrevista foi forjada.

Na maior parte, essas acusações vêm sendo bradadas pelos apresentadores citados pelos supostos bandidos – e cuja indignação, curiosamente, só fez aumentar ao longo da semana, na medida em que subia o ibope de seus programas. ?Vou provar que tudo isso foi combinado?, desafiou Rezende, que enviou um repórter para a frente do condomínio do apresentador do SBT. ?Até pensei em ir atrás dos seus pais e da mãe de seu filho, mas tive bom senso, coisa que você não teve?, completou ele, em seu programa de quarta-feira. No imbróglio que se seguiu, até um advogado da organização criminosa foi desmentir a entrevista do Domingo Legal. ?Esses encapuzados não são do PCC?, garantiu ele. Por meio de seus assessores, Gugu divulgou que, se houve fraude, ele não tinha conhecimento dela. Trata-se de uma alegação discutível. Primeiro, porque o apresentador tem por costume acompanhar de perto os passos de sua equipe de produção. Depois, porque ele já protagonizou armações antes (ainda que nenhuma com teor tão explosivo). É o caso do Táxi do Gugu, quadro que empregava atores passando-se por gente pega de surpresa e que foi desmascarado por VEJA.

As implicações, agora, vão muito além dos apresentadores descontentes. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo colocou quinze policiais atrás de ?Alfa? e ?Beta?, codinomes dos supostos integrantes do PCC. ?Esses indivíduos fizeram ameaças de morte. Sejam elas verdadeiras ou não, isso é crime?, disse um funcionário da secretaria. O Ministério Público Federal e o do Estado iniciaram investigação para apurar a autenticidade da entrevista. Silvio Santos cogita fazer com que o Domingo Legal passe a ser gravado de antemão, a fim de evitar surpresas. O Ministério da Justiça vai mandar uma advertência – e há uma ala dele que defende a reclassificação do programa para as 10 da noite. Para completar, o episódio pode devolver Gugu ao ranking da baixaria na TV elaborado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Há alguns meses, Gugu chegou a liderar a lista, à frente de nomes como João Kléber e Sérgio Mallandro. Preocupado, enviou um representante a Brasília para conversar com o coordenador da campanha, o deputado federal Orlando Fantazzini (PT-SP), e levar a mensagem de que faria qualquer coisa para limpar seu nome – sem o que não pode nem sonhar com a tão cobiçada concessão de uma emissora. Até agora, tudo o que ele conseguiu foi fazer com que seu programa ganhasse um novo apelido: Domingo Ilegal.”

“Quantas malas Itamar levou para a Itália?”, excerto, copyright Folha de S. Paulo, 12/09/03

“Não tem choro nem vela: o apresentador do SBT Gugu Liberato agora pode dizer o que quiser para justificar a farsa que promoveu no último domingo, ao exibir uma entrevista com supostos membros do PCC. No SBT, no entanto, não é segredo para ninguém que a entrevista que deu o que falar nesta semana passou pelo crivo do próprio Gugu antes de ir ao ar.

Aos sábados, no aconchego do lar, ele costuma assistir religiosamente a todas as reportagens que serão mostradas em seu programa no dia seguinte. No caso da entrevista com os sequestradores falsos, Gugu sabia dos riscos que corria e, mesmo assim, resolveu desafiar o bom senso. O afã lunático pela conquista do primeiro lugar nas pesquisas de audiência só pode acabar mesmo nesse tipo de encrenca.”

“Deputados convocam repórter do SBT para falar de reportagem sobre PCC”, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 15/09/03

“Os deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de São Paulo convocaram o repórter Wagner Maffezoli para prestar esclarecimentos sobre reportagem relacionada ao PCC (Primeiro Comando da Capital) veiculada pelo SBT no programa ?Domingo Legal? no dia 7 de setembro.

Na reportagem, dois homens encapuzados, que se diziam da facção criminosa, ameaçavam assassinar apresentadores de outras emissoras.

O deputado Romeu Tuma Júnior (PPS), presidente da comissão, disse que o objetivo da audiência é ?esclarecer os fatos?. Para o deputado, ?a televisão é uma aliada no combate à violência e não deve criar bandidos como se fossem heróis?. O que a reportagem fez foi ?criar um clima de insegurança na população?, disse.

A assessoria do apresentador Gugu Liberato não deu declarações sobre o assunto, seguindo instruções do departamento jurídico da emissora. A audiência ainda não tem data marcada, mas deverá ser realizada entre quarta e sexta-feira desta semana.”