AÉCIO &
CENSURA
“Aécio Neves censura imprensa em Minas Gerais”, copyleft
CMI Brasil (www.brasil.indymedia.org), 4/09/03
“Contrariando a Constituição Nacional e suas próprias
palavras de ?apreço e respeito pela imprensa e seus profissionais?,
o Governador de Minas Gerais, Aécio Neves, vem ressuscitando
uma prática muito comum durante a ditadura militar no Brasil:
perseguição política a jornais e jornalistas
mineiros tem sido uma constante nos últimos meses. Denúncias
têm sido encaminhadas à diretoria do Sindicato dos
Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), dando conta da
interferência direta do governo no dia-a-dia das redações
e ingerência nos assuntos internos de empresas de comunicação.
Exemplos dessa interferência estão na censura de matérias
do jornal Estado de Minas, censura à coluna de Cláudio
Humberto, do Hoje em Dia, e demissões de jornalistas na TV
Globo, Rede Minas e Rádio Itatiaia.
De acordo com o Juiz da Infância, Dr. Tarcísio Martins
Costa, ?matérias da Vara da Infância, que demonstravam
descaso e insensibilidade do Estado não foram publicadas
pelo jornal Estado de Minas, porque comprometiam a imagem do Governador.
Estas matérias diziam respeito à violência,
tráfico de drogas e aos cortes promovidos pelo Estado em
convênios com entidades assistenciais, que comprometiam inclusive
a alimentação de crianças e adolescentes.?
As manifestações populares de todos os tipos também
têm sido boicotadas. Até o presidente da Associação
dos Oficiais da PM e Corpo de Bombeiros do Estado bateu às
portas do Sindicato dos Jornalistas denunciando a deturpação
nas coberturas das manifestações de policiais.
Ainda seguindo os moldes do regime militar, Aécio Neves
colocou sua própria irmã, Andréia Neves, para
vigiar as redações dos jornais e emissoras de rádio
e TV mineiras. Durante o lançamento de um projeto do Governo,
na última semana de junho, Andréia Neves passou a
tarde na redação da Rádio Itatiaia. Nenhum
texto foi ao ar sem antes passar pelo crivo da irmã do governador.
Um chefe de redação foi impedido de marcar entrevista
com um sindicato. O mesmo se rebelou e pediu demissão.
Nem a poderosa Rede Globo resistiu às pressões do
governador. Depois da série de matérias sobre a venda
de crack a poucos metros do Departamento de Investigações
da Polícia Civil, caso noticiado no Jornal Nacional, a Globo
Minas teve que transferir seu diretor de Jornalismo para Alagoas,
após um telefonema da irmã de Aécio para a
sede da emissora. Também por interferência do Palácio
da Liberdade, o jornalista Gilberto Menezes perdeu seus programas
Palavra Cruzada, na Rede Minas, e Café com Notícia,
na TV Comunitária, neste último caso envolvendo interesses
do PT mineiro.”
TRANSGÊNCIOS
& MÍDIA
“Patacoadas transgênicas”, copyright Folha de S. Paulo,
14/09/03
“Está difícil
ler coisas sérias sobre alimentos transgênicos, contra
ou a favor, em particular na imprensa leiga. Na véspera da
tardia decisão do Executivo federal sobre a questão,
muita gente que pouco ou nada entendia do riscado se meteu a pontificar
sobre biotecnologia. Foi chute e lobby para todo lado.
Houve até quem dissesse que os inimigos dos transgênicos
os atacam porque provocariam alterações da genética
humana, o que constitui um disparate duplo. Para o bem da verdade,
registre-se que esse argumento ensandecido nunca foi usado por adversários
dos OGMs (organismos geneticamente modificados).
Teme-se pela passagem de transgenes das plantas engenheiradas para
ervas daninhas aparentadas (e é bom que se diga que a soja
não tem parentes silvestres no Brasil). No máximo,
para bactérias do trato intestinal humano, hipótese
ainda muito polêmica (o que não impede os mais exaltados
de aventá-la, para apavorar um pouco mais o consumidor).
Seres humanos comem há milênios um bocado de DNA (genes)
nas células animais e vegetais que ingerem. Nem por isso
começaram a mugir, a criar penas ou a fazer fotossíntese.
Mesmo crus e vivos, plantas e bichos não têm a capacidade
de enxertar os próprios genes em outros organismos, como
fazem os vírus.
De vez em quando, porém, o desalento é temperado
por algum texto inteligente. É mais provável que isso
ocorra numa língua estrangeira, como o inglês. Foi
o caso do artigo ?Unnatural Selection? (seleção não-natural),
de Allison Snow, da Universidade Estadual de Ohio (EUA). Saiu na
seção Concepts da revista científica ?Nature?
(www.nature.com) de 7 de agosto, mas não perderá tão
cedo a validade -ao contrário do que há para ler na
Terra dos Papagaios. Confira na pág. 619 da publicação
científica britânica.
Snow já havia atraído atenção em agosto
de 1998, quando uma pesquisa sua mostrou que transgenes inseridos
na canola (Brassica napus) se transferiam para ervas daninhas do
mesmo gênero, como a Brassica rapa. Pior, o estudo comprovava
que a erva daninha continuava bem de saúde depois de assimilar
o gene estrangeiro, contrariando previsão dos defensores
dos transgênicos de que se tornaria inviável.
Snow não é uma inimiga dos OGMs, mas sim uma cientista.
Parte do texto é uma defesa da expressão ?geneticamente
engenheirado? (GE, em lugar de ?geneticamente modificado?, GM).
Segundo ela, ?GE? descreve com mais precisão o que fazem
os biólogos moleculares. Exatidão terminológica,
como se sabe, é condição essencial da pesquisa
científica.
No campo mais programático, Snow afirma no artigo, com todas
as letras: ?Variedades geneticamente engenheiradas que aumentem
colheitas, melhorem a saúde humana e tornem a agricultura
mais sustentável devem ser encorajadas?. Mas também
afirma que ?a promessa humanitária dos OGEs está no
futuro, mais do que nos produtos hoje usados?, e que ?os principais
riscos da tecnologia ainda estão eles próprios por
se manifestar, provavelmente?.
Opiniões abalizadas como a de Snow bastam, ou deveriam bastar,
para pôr um grão de sal nas afirmações
de que há um consenso entre cientistas a favor dos transgênicos.
Depende do cientista e depende do transgênico. Mas quem vai
se dar ao trabalho de ler o que ela tem para dizer, se a decisão
já está tomada e as cabeças, feitas?”