ABI
“São Jorge sem dragão”, copyright O Globo, 14/09/03
“Há uma coincidência curiosa, talvez perversa, na história da Associação Brasileira de Imprensa: seus melhores momentos coincidiram com maus momentos para o Brasil. Ela foi mais necessária e importante precisamente quando havia ditadura no país.
No Estado Novo, o seu presidente, Herbert Moses, usou muita diplomacia para proteger os jornais, tanto quanto lhe era possível, do peso da censura. E também para ajudar jornalistas a escapar da cadeia. No regime militar, Barbosa Lima Sobrinho foi um espinho permanente na ilharga da ditadura.
Hoje, a instituição parece desnecessária. É um São Jorge sem dragão – e, pior, pobre.
A imprensa, que tem seus sindicatos, uma federação de jornalistas e uma associação nacional de jornais, precisa ter mais um órgão a agir por ela, a falar por ela? Diria que sim, em boa parte municiado pelo que ouvi num dos debates que a própria ABI promoveu para discutir o que fazer para não morrer de velhice.
Não sei se você acha que, reanimada, ela poderia ajudá-lo a ser mais bem informado. É um dado crucial: se a opinião pública é indiferente ao tema, será sinal de que a instituição está pior do que a gente pensava.
Mas há muita coisa a ser tentada. Por exemplo, tratar – em debates, pesquisas, grupos de trabalho – de temas como estes:
1. O relacionamento entre escolas de jornalismo e empresas de jornalismo. Hoje, existe escassa interação. Pior, há preconceito de parte a parte, principalmente sobre o diploma obrigatório (para quem não sabe, é uma originalidade nacional: só pode ser jornalista quem for diplomado em jornalismo). Seria valiosa uma ponte entre quem prepara a mão-de-obra e quem a usa.
2. O mercado de trabalho. A ABI poderia fazer análises periódicas da oferta de emprego, mostrando que profissionais os empregadores querem e podem absorver. Valerá a pena ter dados sobre a oferta de emprego em mercados secundários, fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília.
3. A Lei de Imprensa. É ridículo que ainda esteja em vigor uma lei do tempo do regime militar. O projeto de uma nova lei dorme na Câmara há anos. E não existe sequer a certeza de que seja um bom projeto. Nunca foi discutido pela massa dos jornalistas.
4. A situação da média e da pequena imprensa. A ABI poderia se lembrar que seu nome do meio é ?Brasileira?, e provocar o debate sobre as dificuldades enfrentadas pelos jornais do interior, atentando, por exemplo, para o que sofrem nas mãos de membros do Judiciário, que não perdoam a menor crítica. Há poucos dias um diretor de jornal de Miracema, no Estado do Rio, foi preso por publicar algo que ofendeu um juiz. A ANJ cumpriu o seu papel de protestar – mas também há lugar para a ABI numa briga dessas.
Para rejuvenescer, a associação precisará – é óbvio, não? – atrair o jovem jornalista (vai ver, basta dar uma facada na IBM e montar um centro de treinamento de uso da internet). Precisará dele para voltar a exercer a autoridade moral que teve um dia e não chegou a perder – apenas deixou de usar.”
O DIA
“Ariane presidirá conselho de administração de O Dia”, copyright Meio & Mensagem, 8/09/03
“Spencer Stuart já busca CEO para substituir Fernando Portella e mais dois consultores independentes
Pouco mais de dois meses depois da morte de Ary de Carvalho, presidente do Grupo O Dia, a sua filha e sucessora Ariane de Carvalho Barros fala pela primeira vez e com exclusividade para M&M sobre como tem sido o processo de sucessão na empresa. Ariane não atribuiu a divergências profissionais a saída do CEO Fernando Portella, mas a diferentes visões pessoais sobre como conduzir a empresa nesse difícil momento. Desde sua saída, oficializada em 28 de agosto, Ariane acumula a função de Portella com a de presidente do Grupo O Dia. Ela anuncia que a consultoria de headhunting Spencer Stuart já está em busca de um executivo para substituir Portella como diretor-presidente e mais dois conselheiros independentes para integrar o conselho de administração do Grupo O Dia, que Ariane presidirá se dedicando a questões mais institucionais. Ela espera anunciar os nomes desse conselho, que terá suas irmãs Lígia e Eliane, até o final deste mês.
Meio & Mensagem – Você já vinha se preparando há algum tempo para um dia suceder seu pai, Ary de Carvalho, na presidência do Grupo. Certamente haveria um tempo de transição, mas a morte dele acabou antecipando essa responsabilidade. Pretende fazer alguma mudança na política de administração do Grupo?
Ariane de Carvalho Barros – Quando meu pai comprou O Dia, em 1983, trabalhei aqui quatro anos na área de recursos humanos e depois saí. Voltei há quase sete anos, quando entrei na área de novos negócios para dirigir as mídias eletrônicas e tudo o que não fosse mídia impressa. A idéia era desenvolver a televisão, para a qual temos a concessão, e cuidar das quest&otilotilde;es técnicas e legais. Mesmo cuidando só dessas áreas, sempre participei das reuniões do comitê executivo e acompanhei os outros negócios. Começamos na ocasião um trabalho de sucessão, feito com o auxílio do consultor Renato Berhoff. Tínhamos o conselho consultivo, do qual minhas irmãs Lígia e Eliane participavam, e houve consenso na minha indicação. O conselho deixou de existir, mas senti a necessidade de voltarmos a ter um conselho de administração para pensar os negócios de forma mais abrangente e estratégica. Queríamos um fórum aberto para discussões com consultores independentes. Eu já vinha conversando com meu pai e a idéia era implantá-lo ainda neste ano. Com a morte dele, as coisas foram um pouco atropeladas.
M&M – Muitos atribuíram a saída de Fernando Portella a incompatibilidades com você. Como foi o entendimento com o executivo depois de assumir a presidência do Grupo?
Ariane – O Portella já estava na linha da constituição desse conselho, mas chegou um momento em que não houve um acordo entre nós acionistas – eu e minhas irmãs – e o Portella quanto à continuidade dele como CEO. Isso ocorreu por várias razões. Ele tinha alguns projetos sobre os quais não chegamos a um consenso e optou por sair de comum acordo conosco. Não houve divergências quanto a questões profissionais, mas quanto a questões pessoais sobre o que ele pretendia e como nós estávamos vendo a empresa. Hoje estou acumulando as suas funções como diretora-presidente, que será o novo cargo do próximo CEO ou executivo-chefe. Depois, passarei à presidência do conselho de administração que estamos criando, do qual minhas irmãs farão parte. A empresa de headhunting Spencer Stuart já está fazendo a busca deste executivo-chefe para substituir o Portella e dois conselheiros externos para integrar nosso conselho de administração.
M&M – Qual é o perfil desse executivo-chefe?
Ariane – Não colocamos a experiência em mídia como fundamental no perfil desse profissional. O mais importante é habilidade para trabalhar com acionistas e com o conselho de administração, além de um forte conhecimento em finanças. É importante também que tenha a visão do poder, pois a posição de um executivo em empresas de mídia tem muito destaque. Ele tem acesso a informações e ao meio político, algo que não ocorre em outras organizações. É preciso, portanto, lidar com a vaidade e transitar por diferentes meios. É uma função complexa por causa dessas particularidades. Os conselheiros que estão sendo pensados também precisam ter essa visão clara do que está acontecendo. Um deles seria alguém mais focado em mercado, na área de bens de consumo, marketing e mídia. Mas é difícil encontrar alguém que não tenha problema de conflito de interesses, que não esteja em outra mídia. Chegamos a convidar o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-superintendente da TV Globo), porque além de ter amizade e carinho pelo meu pai, ele tem uma visão a acrescentar para um grupo de comunicação, mas não pôde. O outro conselheiro seria um profissional com uma visão mais global da macroeconomia, mais focado na área financeira. Esperamos defini-los ainda neste mês.
M&M – Hoje existe uma tendência de os grupos familiares buscarem serviços de consultoria para auxiliar na condução de seus negócios. Como será sua atuação na presidência do conselho?
Ariane – Voltamos a ter uma consultoria na área familiar, as Organizações Berhoff, especializada na questão. Estão nos assessorando tanto em nosso conselho de administração quanto nas questões pertinentes a nós acionistas. Sabemos que é importante dividir bem as questões da empresa, da propriedade e da gestão. Há coisas que só dizem respeito a nós como família, outras a nós como acionistas e outras que são da empresa e da gestão. Na medida em que haja pessoas que entendam desses assuntos, acredito que elas vão intermediar melhor as nossas relações. Minhas irmãs estão participando mesmo sem estar presentes. Temos feito reuniões mensais ainda sem o conselho formado, nas quais elas são atualizadas do que ocorre. Quando o conselho estiver formado, quero poder me concentrar em questões importantes como projetos de expansão e possibilidades estratégicas para o jornal. Quando estamos vivendo o operacional, no dia-a-dia, acabamos perdendo um pouco a visão de novas oportunidades e tecnologias. Quero estar mais disponível para ver isso. Politicamente, esse espaço tem que ser do acionista. A linha editorial sempre vai ser ditada pelos acionistas, pelo conselho de administração e seu presidente. Vamos definir politicamente o que se espera do jornal. Disso não vamos abrir mão. Vou fortalecer também o Instituto Ary de Carvalho com projetos de responsabilidade social. Fisicamente quero continuar dentro do jornal, ter minha sala, mas fora da operação. Eu e minhas irmãs vamos preservar o patrimônio e dar continuidade ao legado de nosso pai.
M&M – Como você avalia a experiência do consórcio com o JB?
Ariane – Continuaremos prestando serviços para o JB, que nos pediu para estudar a possibilidade de também fazer a impressão da Gazeta Mercantil aqui no Rio de Janeiro. Não temos a pretensão de fazer nenhum tipo de parceria como a que foi o Consórcio. Na minha opinião, o Consórcio fez todo o sentido nessa aproximação de O Dia com o JB, havia uma sinergia natural. Trata-se de um jornal com marca importante a ser resgatada, que tem um segmento diferente de O Dia. Em qualquer parceria como essa, há problema de cultura das empresas, de valores, formas e processos de se administrar e conduzir os negócios. Faltou avaliar isso e algumas coisas foram precipitadas na condução das equipes. Pegamos também uma fase difícil, que foi o primeiro trimestre deste ano. Criou-se uma expectativa de crescimento de vendas que não houve, aliás, para ninguém. O mercado continua difícil, mas as empresas começam a investir um pouco mais nesse segundo semestre. Isso também prejudicou o Consórcio, além dos pontos que citei.”
GZM EM CRISE
“Pessoal da Gazeta aceita proposta de Tanure”, copyright Blue Bus (www.bluebus.com.br), 11/09/03“
Em assembleia no final da tarde de ontem, os funcionarios da Gazeta Mercantil aceitaram a proposta apresentada pelo empresario Nelson Tanure para o pagamento dos salarios atrasados de junho, julho e agosto, o chamado ?passivinho?. O pacote inclui também o salario de setembro. Segundo fonte ouvida esta manha por Blue Bus, o total será quitado em 5 parcelas, com a 1a sendo depositada na semana que vem. A concordância sobre a proposta será levada logo mais, as 13:00, ao Juiz do TRT de Sao Paulo para homologaçao. Com isso, se encerra o processo de dissidio de greve, que seria julgado hoje, anterior aqui.
Também ficou acordado que a partir de amanha serao iniciadas conversas entre a Associaçao dos Empregados, ex Funcionarios e credores e diretores da empresa de midia de Tanure para decidir dois outros assuntos. Vao ser negociados o processo de demissao dos funcionarios da Gazeta Mercantil SA e sua recontrataçao e também o pagamento do passivo maior, que envolve ex funcionarios e a marca do jornal, atualmente em poder da Associaçao por conta de liminar.
TRT confirma acordo entre pessoal e Gazeta – O Tribunal Regional do Trabalho de Sao Paulo homologou esta tarde o acordo entre os funcionarios e a Gazeta Mercantil, leia nota da manha aqui. Com isso, fica extinto o processo do dissidio de greve. A empresa se comprometeu a pagar os atrasadaos de junho a agosto e mais setembro em 5 parcelas, começando na semana que vem. Formalmente, o acordo foi assinado com a Gazeta Mercantil, mas a proposta e a negociaçao foram desenvolvidas entre o pessoal e executivos representantes do empresario Nelson Tanure.”
“Funcionários da GZM conversam sobre cooperativa”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 15/09/03
“Uma comissão de funcionários da Gazeta Mercantil foi recebida pelo economista Paul Singer, na manhã desta segunda-feira (15/09), em São Paulo. A idéia do encontro partiu do ministro do Trabalho, Jacques Wagner, durante audiência realizada no dia 12/08 com funcionários da GZM. Singer explicou como funciona uma cooperativa.
Fonte na redação da Gazeta contou que nenhuma decisão foi tomada a respeito e que o objetivo da conversa com Singer era apenas saber mais sobre o assunto. ?O futuro é incerto. Estamos negociando os passivos e não sabemos ainda como será a forma de contratação dos funcionários da Gazeta por Nelson Tanure. A cooperativa pode ser uma alternativa se o acordo entre a Gazeta e o JB de arrendamento da marca GZM não der certo?, disse a fonte.”