Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Russio

CRÔNICA ESPORTIVA

“Por que o popular tem que ser ruim?”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 8/09/03

“Olá, amigos. Neste fim de semana, por conta de uma folga de fim-de-semana muito bem-vinda, estava na estrada no momento em que o Brasil iniciava sua caminhada rumo à Copa do Mundo de 2006. Por conta disso, tive de acompanhar boa parte do jogo contra a Colômbia pelo rádio. Isso me fez pensar, na medida em que a partida se desenrolava, na qualidade do rádio comparada à qualidade da TV.

A conclusão a que cheguei foi que o rádio hoje adotou um estilo popularesco, que parece determinar que quanto mais popular, pior a qualidade da programação. A minha pergunta é: por que tem de ser assim? Por que as atrações voltadas para o grande público têm de ser niveladas por baixo? Qual a razão de se fazer uma transmissão de rádio com vinhetas toscas, comentários que agridem a inteligência de qualquer ouvinte consciente e, pior, atrações complementares totalmente dispensáveis e sem sentido?

O que se diz por aí é que não se pode elevar demais o nível de um programa de rádio, já que o alcance dos ouvintes – em sua maioria pessoas com poucas oportunidades de acesso à cultura e ao aprendizado – é limitado e que eles, com um eventual aumento do nível da programação, imediatamente trocariam de estação, passando a ouvir uma que lhes desse o besteirol. O circo, melhor dizendo.

Eu discordo veementemente disso. Acho, sim, que fazer o óbvio e dar continuidade infinita ao que já é feito há anos (ou melhor, décadas) é o mais fácil. ?Catequisar? o ouvinte com as mesmas chamadas, os mesmos comentários feitos sempre nas mesmas horas, pelos mesmos comunicadores é uma forma fácil de manter a fidelidade do ouvinte, que sabe a que horas ouvirá as mesmas coisas que já ouve desde sempre.

Não quero dizer, com isso, que a TV tenha um nível esplêndido de cobertura esportiva, mas o fato é que ela se modernizou, seja pela concorrência, seja pela visão dos seus gestores, ou seja pela maior quantidade de dinheiro circulando por este meio. A TV possui muito mais variedade de atrações, se permite ousar mais que o rádio, ao ponto de ter canais pagos e outros recursos próprios que lhe dão a preferência do público em geral.

Não creio que as imagens sejam o que motiva a migração do público do rádio para a TV. Creio, sim, que o seu conteúdo precisa urgentemente ser repensado, seus formatos precisam ser revistos e, principalmente, a qualificação de seus profissionais deve ser reciclada. Caso isso não aconteça, a vontade de ouvir música e ficar ligando periodicamente para um amigo para saber o placar do jogo (que foi o que aconteceu comigo) vai aumentar cada vez mais.

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Parecia que eu estava tendo uma premonição na semana passada, quando comentei a presença do ex-deputado Eurico MIranda em um programa de TV aqui do Rio de Janeiro. Ontem, em rede nacional, lá estava Eurico no programa do Milton Neves. Mas, desta vez, a coisa foi um pouco diferente. Não muito, mas, ainda assim, melhor. Tanto o apresentador quanto uma série de jornalistas convidados fizeram perguntas muito incisivas ao presidente do Vasco. Algumas contundentes, de verdade. Mas, ao contrário do que eu esperava, Eurico respondeu a todas, sem exceção.

Não que eu esperasse que ele não as respondesse. Ele sempre responde. A minha surpresa foi ver que Eurico respondeu BEM a todas as perguntas. Chegou a dar a impressão, para mim até verdadeira, de que ele, sim, se preparou para agir da forma que age. Eurico demonstrou conhecer a fundo as leis e as normas que regem o futebol brasileiro. Naturalmente, conhecendo-as a fundo, ele conhece também suas brechas e suas imperfeições.

Por outro lado, os jornalistas que fizeram perguntas ao ex-deputado preferiam usar a ironia e o ataque frontal para formular as suas perguntas. E, verdade seja dita, ninguém é melhor na arte de atacar e ironizar que o presidente vascaíno. Por isso, em quase todos os casos, Eurico pareceu sair como o vencedor das mini-disputas entre as perguntas dos jornalistas e as suas respostas. Exceção feita ao ótimo Sérgio Xavier, da Placar, que teve a calma e a inteligência de não querer confrontar pessoalmente o cartola. Xavier fazia perguntas de forma equilibrada, com conteúdo e sem armadilhas óbvias, nas quais Eurico ou qualquer dirigente com a sua experiência dificilmente caem.

Enfim, mesmo não tendo conseguido colocar o cartola em situação difícil, a sabatina serviu para mostrar que é possível confrontar dirigentes como Eurico sem parecer tolo ou sem bajulá-lo descaradamente, como foi feito no programa da semana passada.

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Será que a presença do Brasil em três finais seguidas de Copa do Mundo amansaram a imprensa esportiva brasileira? Nos últimos 12 anos a Seleção sempre saiu daqui debaixo de vaiais e fez bonito nos Mundiais. E sempre a imprensa teve de encontrar justificativas para ter criticado tão duramente times que se mostravam extremamente competitivos e vencedores a nível mundial.

Dessa vez, mesmo não jogando um futebol maravilhoso, o Brasil venceu e a imprensa elogiou como há muito tempo não elogiava uma Seleção em Eliminatórias. Estranhei, pois já vi o Brasil jogar melhor em circunstâncias parecidas e ser destroçado por críticas. Enfim, parece que amadurecemos em nossa postura. Tomara que esse amadurecimento dure até, pelo menos, a Seleção engrenar na disputa por uma vaga para a Copa da Alemanha.”

 

PORTUGAL

“Títulos Obscenos Generalizam-se na Imprensa”, copyright Público (www.publico.pt), 14/09/03

“Nas últimas semanas, saltaram para as primeiras páginas dos jornais e revistas, títulos grosseiros, explícitos e com linguagem brejeira. São casos como o da manchete do ?Correio da Manhã? da última quarta-feira, que dizia, a propósito da cassete documental do 25 de Abril distribuída a escolas e que continha pornografia: ?Vi uma dupla penetração?.

Duas revistas de TV optaram também esta semana por chamar à capa linguagem deste género. A ?TV Guia? colocou entre aspas a frase ?A mãe dele é prostituta?, sobre um participante de um ?reality-show?. A expressão, que não corresponde de facto a uma citação textual do conteúdo para o qual remete, tem contraponto na manchete do ?24 Horas? de quinta-feira, que assegura: ?Ela nunca foi prostituta?. A ?TV 7 Dias? exibe na primeira página a fotografia de um moinho e o rosto de um concorrente de um ?reality show? para afirmar: ?É aqui que ele dá as quecas?.

No caso da ?TV Guia?, e segundo a edição de ontem do ?Jornal de Notícias?, um juiz decidiu anteontem atender à providência cautelar interposta pela mulher visada, a mãe de um concorrente do programa Big Brother, e mandou a PSP e a GNR confiscarem todos os exemplares da edição posta à venda no passado domingo.

Para a investigadora de ?media? Cristina Ponte, especialmente sensível à questão dos mais novos como sujeito e objecto das notícias, a tendência para títulos e notícias do género não é totalmente nova. Afinal, as revistas de televisão, como de resto as ?femininas? e ?masculinas? e alguma imprensa generalista que explora o sensacionalismo, ?há muito que colocam em primeira página temas relacionados com a sexualidade, recorrendo sobretudo a trocadilhos e subentendidos?. Estes títulos constituem frequentemente ?iscos para conteúdos que nas páginas de interior não correspondem ao sugerido?.

Estrela Serrano, provedora do leitor no ?Diário de Notícias?, lembra aliás que os historiadores dos ?media? ?situam no século XVIII o aparecimento, na imprensa, desse tipo de temas?. ?Os fins eram, como são hoje, comerciais. A sedução do público, através do choque, da emoção e do insólito parece ser o objectivo principal.?

Nisso também está de acordo o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, que considera que estas manchetes ?são piscadelas de olho às pulsões do mercado e evidenciam uma perigosa deriva da imprensa.?.

O que tem vindo a crescer, defende Cristina Ponte, é a intensificação de ?uma linguagem brejeira, do foro privado de alguns, que assim se expõe nos escaparates à leitura de todos, dos mais novos aos mais velhos?.

Segundo a professora universitária, o crescimento desta linguagem explícita, ?capaz de invocar em sua defesa a ?liberdade de expressão??, é indissociável de outros conteúdos sexuais explorados à exaustão nos ?media?, ?das cenas de cama no Big Brother aos depoimentos repetidos à exaustão de crianças abusadas sexualmente?, por exemplo.

Para Alfredo Maia, mais do que os temas – ?e todos os temas são tratáveis na imprensa como nos serões familiares? – a linguagem vulgar, e por vezes obscena, exige uma reflexão dos jornalistas e especialmente dos conselhos de redacção. ?Por exemplo: estarão eles de acordo com estas opções editoriais? Trata-se realmente de opções editoriais, isto é, ditadas pela convicção de que é realmente importante para o público conhecer este ou aquele detalhe da vida desta ou daquela pessoa, ou tais opções são comandadas por estratégias de marketing, ou seja, destinadas exclusivamente a promover o aumento das vendas? Se os ?media? desceram já até aqui, para que precipício vão lançar-se a seguir??, questiona o presidente do sindicato.

Afredo Maia teme que estes excessos sirvam mais ?objectivos de entidades exteriores (como aumentar as audiências de programas de TV) do que os objectivos da empresa jornalística, mesmo que sejam os das suas próprias audiências e até da sua sobrevivência?.

Cristina Ponte, por seu turno, pensa haver matéria para questionar os limites desta liberdade de expressão, ?quando choca não só com o direito ao bom nome e à privacidade de cidadãos, de qualquer idade, mas também – em particular, nos mais novos – com o seu direito ao saber, da sexualidade como de outras matérias, que respeite o seu nível de compreensão?.

A mediatização de temas sexuais associados a escândalo e pornografia, com uma linguagem grosseira, diz Estrela Serrano, ?não pode ser vista isolada de outros fenómenos que ocorrem na sociedade portuguesa (e internacional). Podemos reprovar os excessos que lhes estão associados, (mesmo correndo o risco de parecermos moralistas) sobretudo quando esses ?produtos? são expostos em meios acessíveis a todos os públicos, mesmo àqueles que involuntariamente se deparam com eles nos escaparates?.

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“Porque É Que o Sexo Vende?”, copyright Público (www.publico.pt), 14/09/03

“A ?corrida ao sexo? é, na opinião da provedora do ?Diário de Notícias?, Estrela Serrano, uma situação ?própria de uma sociedade incapaz de mobilizar as energias e as paixões dos seus cidadãos? e em que ?os ?grandes ideais? se perderam?.

A actual explosão desse tipo de ?produtos?, adverte, ?não pode ser desligada de acontecimentos recentes, como o escândalo da pedofilia, os ?reality-shows? cujo fio condutor é a expectativa de ocorrência de cenas de sexo ou sítios na Internet em que o discurso sobre sexo é levado a um achincalhamento absoluto?.

Por outro lado, muitos dos valores difundidos pela publicidade e pela moda ?contribuem para o ?sexo-centrismo? que caracteriza a sociedade actual e que conhece agora entre nós, na imprensa tablóide e nas revistas ?do coração?, uma deriva grotesca?.

A mediatização do sexo e da pornografia funciona ainda como ?uma espécie de ?réplica? dos casos, reais ou ficcionais, que a imprensa de referência também relata, embora sem os excessos verbais que caracterizam aquela?, caso dos relatos com descrição de cenas de violação no processo Casa Pia.

Alfredo Maia, que é presidente do Sindicato de Jornalistas e redactor do ?Jornal de Notícias?, deixa, a propósito, um alerta: ?Não desejo transformar a imprensa num baluarte de virtudes, mas também não devemos transformá-la num buraco de fechadura para espreitar as intimidades e as vulgaridades de personagens circunstanciais ou de pessoas eventualmente com algum interesse?.

O que interessa ao público que aprecia esse género de produtos, explica Estrela Serrano, é ler no jornal ou na revista ?uma história que poderá vir a acontecer-lhe ou que se passa com alguém que se encontra em proximidade socio-cultural ou geográfica consigo. Trata-se de factos que são próximos do público, mas que saem da ordem ordinária, justificando, assim, a sua mediatização?.

Os fins são, sem dúvida comerciais mas ?esses produtos mediáticos cumprem um papel social e respondem, também, a necessidades profundas inscritas em cada um de nós?. ?Podemos perguntar se serão uma forma de ópio do povo, destinados a divertir as massas e a distraí-las dos verdadeiros problemas, ou se desempenham um papel catártico de regulação social. As respostas não são fáceis?, comenta a provedora do ?DN?.”

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“Revistas com Mais Cama e Menos TV”, copyright Público (www.publico.pt), 14/09/03

“As revistas de televisão, a avaliar pelas capas, títulos e temas de eleição, começam a distinguir-se cada vez menos das chamadas revistas ?cor-de-rosa?, sobre ?assuntos? do coração do ?jet set? mediático. São cada vez menos centradas na programação, nas grelhas, na análise e efeitos do audiovisual, para se dedicarem a desvendar segredos – mesmo que nem sempre confirmados ou correctos – da intimidade de pessoas que aparecem nos ecrãs.

Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, lamenta esta deriva, que a alienação da ?TV Guia? por parte da RTP veio tornar mais arriscada. É que, assinala, não sobra uma publicação neste mercado regida pelo serviço público e que ?nivele por cima? a formação do telespectadores.

?Receio que a recente vocação de revistas de televisão – assim como a de outros periódicos – para as descobertas sensacionalistas das privacidades de pessoas transitoriamente objecto de exposição e de atenção confirmem a deriva mercantil também desta imprensa, mais interessada em explorar a curiosidade dos espectadores do que em contribuir para a formação de públicos do audiovisual qualitativamente mais exigentes?.

Todavia, o jornalista acredita que, nas publicações vocacionadas para a televisão, como nas publicações em geral, ?os jornalistas são desafiados a demonstrar que, independentemente dos temas que tratam e dos públicos a que se destinam, a qualidade também vende e que não é necessário fazer cedências à vulgaridade e à obscenidade, sob pena de perderem a sua identidade profissional e arrastarem-na para um abismo de equívocos?.”

 

COLÔMBIA

“Jornalista colombiano enganado é demitido”, copyright O Estado de S. Paulo, 12/09/03

“Um mês depois de ter publicado uma bombástica entrevista no mais antigo jornal da Colômbia, o jornalista Ricardo Santamaría foi demitido anteontem, diante da revelação de que o conteúdo da reportagem era falso. Santamaría, diretor do El Espectador, havia entrevistado um ex-militar venezuelano que dissera ter transportado de avião um dos comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) até a Venezuela para tratamento médico por ordem do governo do presidente Hugo Chávez.

Na entrevista, Moisés Boyer Riobueno fez uma descrição sobre como levou Raúl Reys do território colombiano até o país vizinho. Disse que a viagem tinha sido autorizada pelo vice-presidente venezuelano José Vicente Rangel. Pouco depois da publicação, serviços de inteligência da Colômbia ouviram a fonte do jornalista e concluíram que as declarações de Riobueno não passavam de mentira. Ele teria interesse em obter asilo político na Colômbia.

O jornal admitiu ter sido enganado. Mas afirmou que também errou ?ao conferir plena credibilidade? à versão de Riobueno ?sem confirmar totalmente suas declarações nem consultar? o governo venezuelano.

Santamaría disse ter agido de boa-fé e alegou que publicou um editorial pedindo desculpas. A direção do El Espectador reconheceu o mea culpa, mas afastou o jornalista. ?A atividade jornalística tem um alto nível de compromisso e responsabilidade com a verdade e com a sociedade que informa.?

Na segunda-feira, outro escândalo jornalístico – este na distante Estônia – já provocara a demissão de um repórter. Argo Riistan, free lance de 21 anos, fazia sucesso na imprensa do país com suas entrevistas ?exclusivas? com personalidades como Milan Kundera e Milos Forman. Mas as reportagens eram, na verdade, colagens de entrevistas publicadas por veículos estrangeiros.

O editor de uma revista desconfiou do jovem quando ele lhe ofereceu uma entrevista com o investidor George Soros. O editor checou com a assessoria de Soros. A entrevista não tinha sido feita. Confrontado, Riistan admitiu as mentiras. A história é semelhante à de Jayson Blair, o repórter-plagiador do The New York Times desmascarado em maio. (Reuters, AFP e AP)”