PRISÃO DE ALOUNI
Danton Boattini (*)
No início de setembro os principais jornais do Brasil noticiaram a prisão do jornalista da rede al-Jazira Teyseer Alouni. Os textos foram transcritos da agência de notícias Associated Press. De acordo com a notícia, Alouni foi preso no dia 5 por agentes que foram até sua casa, na Espanha. A acusação, sua suposta ligação com a al-Qaida. No entanto, nenhuma prova de seu envolvimento com o terrorismo é mencionada.
No ar desde 1996, a al-Jazira é a alternativa árabe à vergonhosa deturpação dos meios de comunicação ocidentais. Durante a invasão americana ao Afeganistão, foi a única fonte televisiva autorizada pelo regime talibã a permanecer em território afegão. Na ocasião, a sede da emissora em Cabul foi bombardeada por tropas aliadas. O principal repórter da cobertura do conflito era Teyseer Alouni.
Ao que parece, o fato de Alouni ter sido um dos únicos repórteres tolerados pelo talibã fez soar o alarme na Casa Branca. Silenciar fontes alternativas de informação é uma das armas da guerra contra o terror. Para isso, acusações infundadas são inventadas como pretexto.
Encarnações do diabo
Esta guerra despudorada da informação é retratada com detalhes no livro Deus é inocente, do jornalista Carlos Dornelles. O repórter da Globo faz investigação minuciosa da política baseada na desinformação que nem sempre é motivada por declarações governamentais, mas também pelo sentimento de patriotismo da mídia ianque.
Os contratos com redes de notícias fazem das seções internacionais dos jornais um grande jogo de interesses. O editor faz de conta que aquilo é notícia. Mesmo que não tenha nenhum fundamento, mesmo que as provas não sejam divulgadas. Mesmo que as fontes nunca sejam identificadas. A objetividade, aqui, não tem vez. Uma simples suposição é motivo de alarde.
Não se trata de martirizar Alouni pela causa jornalística, mas sim de apurar os fatos que realmente o levaram à prisão, podendo então ser discutida sua legitimidade.
Pela acusação, o jornalista está sujeito a se transformar em mais uma das tantas encarnações do diabo que os Estados Unidos já forjaram. Ou, como diriam tais jornais, supostamente.
(*) Estudante de Jornalismo da Universidade de Cruz Alta (Unicruz), Catuípe, RS