ANDREA CARTA, 1959-2003
“Nota ofiical da Associação Nacional de Editores de Revistas”, copyright IstoÉ, 23/09/03
“É com enorme dor que manifesto, em nome da Associação Nacional de Editores de Revistas, o meu mais profundo pesar aos familiares do jornalista Andrea Carta, editor responsável pela Carta Editorial, pelo seu falecimento.
Andrea deixa sua empreitada jornalística em seu melhor momento. Guerreiro dos melhores deste nosso difícil campo de batalha editorial, Andrea venceu e deixa a Carta Editorial e seus títulos Vogue em rota vitoriosa para a continuidade de sua família.
O querido Andrea, que repetia com orgulho que sua editora era prima da Editora Três, ouvia de mim: ?Com muito orgulho.?
O pai de Andrea, Luís Carta, irmão de Mino, e o empresário Fabrizio Fasano fundaram, há 31 anos, com Domingo e Catia Alzugaray, meus pais, a Editora Três.
A Carta Editorial é uma das mais antigas associadas da Aner, e em nome de todos os nossos sócios transmito sentimentos de tristeza aos familiares e aos amigos da editora.
Carlos Domingo Alzugaray (Caco)
Presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner)”
“Morre o empresário Andrea Carta, diretor da ?Vogue?”, copyright O Estado de S. Paulo, 17/09/03
“O empresário Andrea Carta, de 44 anos, um dos diretores da Carta Editorial, que tem entre suas publicações a revista Vogue, morreu na madrugada de ontem, ao cair da janela do apartamento 51, da Rua Sarandi, no Jardim Paulista, residência do empresário Rogério Fasano, de 41 anos.
O corpo caiu na lateral do edifício. O porteiro José Gonçalves pediu ajuda do Resgate do Corpo de Bombeiros. Quando os médicos chegaram, Carta já estava morto.
A delegada Ana Luísa Guimarães Junqueira, de plantão no 78.? Distrito Policial, dos Jardins, esteve no prédio e instaurou inquérito por ?morte a esclarecer?. Ela disse, na tarde de ontem, que sua investigação ?caminha para um provável suicídio?.
Fasano, que comanda os restaurantes e Hotel Fasano, inaugurado há duas semanas, na Rua Vitório Fasano, nos Jardins, declarou que Carta chegou ao bar do hotel por volta das 22 horas de anteontem. Do jantar participaram além de Carta e Fasano, o jornalista Nirlando Beirão e o publicitário Erh Ray e o assunto em discussão era a edição da revista Vogue Fasano, um número especial focando justamente o novo empreendimento de luxo de São Paulo.
Durante a conversa, regada a vinho, Carta se alterou. ?Em determinado momento, Andrea ficou um pouco descontrolado. Pedi que se acalmasse e como ele continuou a reclamar falei que iria para casa?, afirmou Fasano em seu depoimento à polícia. Segundo ainda o empresário, Carta reclamava que Fasano não lhe dava atenção. ?Somos amigos desde a infância, muito amigos, fomos criados juntos e, para evitar qualquer problema, eu o deixei no bar e fui embora.?
Uns 15 minutos após chegar ao seu apartamento, a duas quadras do hotel, Fasano disse que o interfone tocou e o porteiro avisou que Carta queria subir. ?Autorizei, queria acalmá-lo, mas ele continuou exaltado.?
Em determinado momento, Fasano disse ao amigo que ficasse no apartamento, pois ele voltaria para o hotel e iria dormir. Estava cansado. ?Andrea abriu a janela da sala de estar e gritou que iria pular. Eu não acreditei que ele faria isso, mas ele subiu no parapeito e começou a se equilibrar.?
Ainda em seu depoimento à delegada, Fasano disse que, ao perceber que o amigo falava a verdade, se aproximou da janela, pegou a manta que estava sobre o sofá e a jogou para Carta na tentativa de ?trazê-lo de volta para a sala?.
O empresário afirmou que Carta tentou pegar a manta ?enrolada como se fosse uma corda?, ficou sem equilíbrio, fez uma tentativa de agarrar a caixa do ar condicionado, do lado externo, e caiu do 5.? andar.
No inquérito instaurado, três pessoas foram arroladas como testemunhas:
Fasano, o funcionário do bar do hotel Carlos Sérgio Almeida da Silva e o porteiro Gonçalves.
Os peritos do Instituto de Polícia Técnica e os policiais do 78.? DP estiveram no apartamento e não constataram vestígios de luta. ?Estava tudo no lugar. Apenas um puff usado pela vítima para subir ao parapeito da janela estava quebrado?, explicou a delegada. Os legistas do Instituto Médico-Legal (IML), para onde o corpo foi levado, colheram na necropsia material para prova e contraprova para a elaboração dos exames toxicológicos e anatomopatológico. ?O toxicológico servirá para verificar o álcool que a vítima ingeriu. O anatomopatológico vai definir a causa da morte e o exame atingirá ainda os tecidos?, explicou Celso Perioli, diretor da Superintendência de Polícia Técnico-Científica.
Dor – Consternadas, as famílias Carta e Fasano distribuíram no começo da tarde de ontem a seguinte nota: ?Profundamente consternada com a fatalidade ocorrida nesta madrugada, a família do editor Andrea Carta encontra-se sem condições de atender à imprensa e pede a compreensão dos meios de comunicação. Rogério Fasano e seus familiares compartilham a dor de perder um amigo de infância nesta situação trágica.
Todas as medidas cabíveis já foram tomadas e as autoridades acompanham o ocorrido.?
A cerimônia de sepultamento de Carta foi simples e discreta. Reuniu cerca de 80 pessoas, entre nomes da moda e da sociedade paulistanas. Enlutadas, as famílias Fasano e Carta ainda buscavam uma explicação para a fatalidade, assim como amigos próximos de Carta, como o publicitário Washington Olivetto e o escritor e editor da Vogue, Ignácio de Loyola Brandão.
O patriarca dos Fasano, Fabrizio, contou que Luiz Carta, pai de Andrea, era seu melhor amigo e, desde a infância, nos anos 60, os filhos passaram a constituir uma única família. Rogério Fasano não escondia a dor de não ter conseguido salvar a vida do amigo.
Os funcionários da revista Vogue, que optaram pela discrição e pediram para não ter os nomes publicados, não escondiam a importância e o pulso firme de Andrea para tocar os negócios. ?Ele era o coração da Vogue?, disse uma funcionária. Já o publicitário Washington Olivetto afirmou que a perplexidade é maior porque ?Andrea era um bon vivant, uma pessoa que adorava tudo o que há de melhor. Tanto pior que a fatalidade tivesse como testemunha o Rogério, que era praticamente irmão do Andrea, tamanha a afinidade e amizade entre ambos?.
Outro publicitário, Luiz Marcello Sales, também não escondia a surpresa: ?Na noite anterior os encontrei felizes, falando de projetos para o futuro no restaurante Fasano.? Ehr Ray, que participou da mesa, também estava chocado.
?Ele estava animado e sempre estimulava novos projetos. Foi uma fatalidade.?
Nomes da moda como os estilistas Reynaldo Lourenço e Gloria Coelho ou os empresários André Brett e Paulo Skaf também procuravam encontrar uma explicação para a morte prematura de Carta. Mas nada se comparava à dor dos dois filhos de Carta, um de 14 anos e outro de 7. O editor também tinha a guarda da filha do terceiro casamento do pai, que morreu há nove anos.”
“Editor da ?Vogue? morre ao cair do 5? andar”, copyright Folha de S. Paulo, 17/09/03
“Andrea Carta, diretor da Carta Editorial, que publica a revista ?Vogue?, morreu na madrugada de ontem após queda do 5? andar de um prédio nos Jardins, na zona oeste de São Paulo. Ele tinha 44 anos. Carta estava no apartamento de seu amigo de infância Rogério Fasano, 41, dono de um hotel recém-inaugurado e de dois restaurantes, o Gero e o Fasano -um dos mais famosos do país.
A delegada Ana Lúcia Junqueira, plantonista do 78? DP (Distrito Policial), disse que Fasano contou informalmente que Carta chegou embriagado ao seu apartamento, na rua Sarandi, e que começaram a discutir. Fasano disse que iria embora, e Carta ameaçou pular da janela. Desequilibrou-se, caiu, mas conseguiu se agarrar no aparelho de ar-condicionado. Fasano relatou à delegada que tentou resgatá-lo usando uma manta como corda, mas não conseguiu.
As discussões entre Carta e Fasano haviam começado horas antes, no bar do restaurante Fasano, um dos mais sofisticados de São Paulo. Continuaram no restaurante. Eles participavam de uma reunião de trabalho com o jornalista Nirlando Beirão e o diretor de arte Ehr Ray.
Fasano contou à delegada que Carta, já alcoolizado, reclamava que ele não lhe dava mais atenção depois da abertura do hotel, ocorrida há uma semana.
O empresário disse à delegada que decidiu ir para casa. Queria evitar que a discussão gerasse constrangimento no restaurante. Depois disso, Carta apareceu no apartamento do amigo.
Mais discussões
Pelo interfone, Fasano autorizou a sua subida. Começou uma segunda rodada de discussões, segundo a versão do empresário. Fasano disse que iria dormir no seu hotel caso Carta insistisse em ficar no apartamento.
Foi então que Carta amea&ccediccedil;ou saltar do quinto andar, sempre segundo o relato informal de Fasano à delegada. O jornalista teria subido em um pufe, se apoiado no parapeito do lado de fora do prédio e perdido o equilíbrio. Carta caiu e morreu antes da chegada do resgate médico.
O porteiro da noite, José Gonçalves da Silva, 54, disse à Folha não ter ouvido a discussão entre os dois; só escutou o baque provocado pela queda do corpo.
A delegada disse que não havia sinais de briga no apartamento após a morte de Carta. ?Não havia nenhum indício de violência que possa determinar outra teoria que não o suicídio?, afirmou.
Para Junqueira, se é difícil apurar ?objetivamente? o que teria provocado a queda de Carta, é praticamente certo que houve ?descontrole?: ?A informação que a gente tem é que eles seriam amigos há muitos anos, e o distanciamento causado por motivos profissionais gerou um conflito por parte da vítima?.
Bebida e ?nervosismo excessivo? podem ter precipitado a queda, na interpretação da delegada.
Exames
O corpo do jornalista apresentava ?politraumatismo?, segundo a Folha apurou no IML (Instituto Médico Legal), mas não tinha sinais de violência.
Amostras de tecidos do estômago, do fígado e do intestino foram recolhidas para a realização de exames. Eles devem apontar se Carta havia tomado bebida alcoólica, consumido drogas ou ingerido medicamentos e se ele tinha algum problema de saúde.
Ontem, a delegada determinou que Fasano passasse por exame de corpo de delito no IML. A intenção era apurar se o empresário teria algum tipo de ferimento.
A delegada Elisabete Sato, titular do 78? DP e responsável pelo inquérito que apura a morte, não descarta nenhuma possibilidade. ?Não posso afirmar que foi suicídio nem posso descartar a possibilidade de ter havido um homicídio?, disse. Ela também avalia a hipótese de ter ocorrido uma queda acidental de Carta.
Todas as testemunhas dos encontros de ontem entre Carta e Fasano deverão ser ouvidas pela polícia. Ontem, apenas um porteiro do hotel prestou depoimento. Outros funcionários do estabelecimento eram esperados à tarde, mas não compareceram. Eles trabalham à noite e têm folga durante o dia.
As famílias Carta e Fasano divulgaram uma nota conjunta à imprensa em que lamentam a ?fatalidade ocorrida?.
O corpo de Andrea Carta foi enterrado ontem, por volta das 17h, no Cemitério São Paulo, em Pinheiros (zona oeste).”
***
“Carta começou a trabalhar em revista aos 18”, copyright Folha de S. Paulo, 17/09/03
“Filho e sobrinho de jornalistas, Andrea Carta, diretor da Carta Editorial, tinha apenas 18 anos quando começou a trabalhar como assistente da revista ?Casa Vogue?. Em 1986, dez anos depois, ele assumiria a ?Vogue?, principal criação de seu pai, Luis Carta (1936-1994), que aceitara um convite da Conde Nest, editora dos títulos internacionais da ?Vogue?, para lançar a versão espanhola da revista.
Aos 28 anos, Andrea tornara-se o diretor dos negócios que seu pai iniciara em 1972, com a Editora Três. Um dos três sócios da empresa era Fabrizio Fasano, o pai de Rogério, que presenciou a morte de Andrea na madrugada de ontem. Os outros eram Luis Carta e Domingo Alzugaray.
Andrea foi casado duas vezes, com Sandra Bighetti (com quem teve dois filhos, hoje com 15 e 10 anos) e Ana Cristina Ferreira Leite.
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, 67, diretor de redação da ?Vogue?, diz que criou uma ligação profunda com Andrea quando Luis Carta morreu. ?Tínhamos uma relação de pai para filho. Diziam que eu era o ?consigliere? da editora.?
Andrea, segundo Loyola Brandão, era dado a explosões e exigente, mas de um jeito especial. ?Quando ele brigava, não era com você, era com uma entidade abstrata. Com uma idéia, não com a pessoa.?
Giovanni Frasson, 40, que trabalhou com Andrea desde 1984 como editor de moda, diz que ele era obcecado por qualidade: ?Era um perfeccionista. Mandava refazer qualquer coisa que não estivesse de acordo com seus padrões. O negócio dele era oferecer qualidade?.”