Edição: Beatriz Singer (com Dennis Barbosa)
FONTES DA CIA
O renomado colunista americano Robert Novak disse no dia 29/9 que ninguém do governo lhe avisou que a mulher de Joe Wilson, um crítico de Bush, era funcionária da CIA. Wilson, embaixador dos EUA no Iraque pouco antes da Guerra do Golfo de 1991, disse que funcionários da Casa Branca revelaram a identidade de sua mulher a Novak em retaliação por ter exposto falhas da inteligência pré-guerra no Iraque.
Novak, que escreve para, entre outros títulos, Chicago Sun-Times, disse que soube da identidade da mulher de Wilson, Valerie Plame, ao preparar artigo para ser publicado em 14/7 sobre relatório de Wilson à CIA no começo de 2002, que questionava se o Iraque tentara comprar urânio na Nigéria e em outras partes da África.
"Ninguém do governo Bush me pediu para vazar essa informação", disse Novak ao programa Crossfire, da CNN, do qual é co-apresentador. "Não há nenhum crime aqui". Novak afirmou não ter sido informado de que citar seu nome poria a agente em perigo, embora reconheça ter sido solicitado a não divulgá-lo. "De acordo com uma fonte confidencial da CIA, a senhora Wilson era uma analista, não uma espiã", disse.
O Washington Post, em reportagem de 28/9, citou um "funcionário sênior do governo" dizendo que dois funcionários de elite da Casa Branca revelaram a identidade de Valerie em telefonemas para no mínimo seis jornalistas da capital americana. Novak, segundo o Post, foi o único que a publicou. Na coluna de julho Novak revelou o nome da agente ao tratar do relatório de Wilson à CIA.
O Departamento de Justiça, a pedido da CIA, está investigando se alguém do governo infringiu a lei ao divulgar o nome de Valerie. A Casa Branca, segundo a CNN [30/9/03], disse que vai cooperar com a investigação.
Questão de ética
Apesar de a coluna de Novak ter sido publicada há mais de dois meses, chamou atenção só agora, depois que John Ashcroft, procurador-geral dos EUA, anunciou que uma investigação federal foi iniciada para descobrir quem denunciou a mulher de Wilson.
A história levanta questões éticas. Especialistas entrevistados por Joe Strupp [Editor & Publisher, 1o/10] também discutiram se os repórteres que não publicaram a informação poderiam ter denunciado Novak às autoridades federais, e se afinal a identidade da agente teria valor noticioso.
"Foi e é antiético apontar alguém da inteligência, particularmente quando essa pessoa nada tem a ver com o assunto", disse Orville Schell, reitor da Escola de Graduação em Jornalismo da Universidade da Califórnia, Berkeley. Outros acham que Novak tinha o direito de publicar o nome de Valerie. "Foi uma ótima reportagem", disse George Harmon, professor associado da Medill School of Journalism, na Northwestern University. "Não se sabe o quanto isso a pôs em perigo, mas é justificável pelo valor noticioso."
Doyle McManus, chefe da sucursal do Los Angeles Times em Washington, também apóia o direito de Novak de dar a informação, com ressalva à relevância da informação. "Acho que era um fato peculiar a ser reportado porque não pareceu significativo", afirmou. "Normalmente cedemos ao pedido do governo de não publicar a identidade de um funcionário da CIA, mas vejo razões para quebrar essa regra."
A maioria dos entrevistados da Editor & Publisher disse que os repórteres que preferiram não revelar a identidade de Valerie demonstraram bom julgamento jornalístico e não deveriam ser criticados. Um deles foi MacManus. "Eu teria feito o mesmo", disse, em relação aos outros jornalistas, "a menos que eu achasse uma forma de tornar relevante informar sua identidade". Defendendo os repórteres, alegou que esse não é o trabalho do jornalista. "É função do governo policiar seus funcionários, não da mídia."