NOTAS DE UM LEITOR
Luiz Weis
Em três dias seguidos (10, 11 e 12/10), a Folha de S.Paulo embocou três belas matérias exclusivas sobre os transgênicos no Brasil.
A primeira, de André Soliani, informa que o governo proibiu os plantadores de soja transgênica de usar nelas o agrotóxico glifosato. A vantagem da soja transgência é justamente ser resistente ao glifosato.
"Na prática", esclarece o texto, "a proibição significa que os produtores de soja, embora autorizados por medida provisória a usar as sementes modificadas, correm o risco de serem presos, de pagarem multas e de terem a sua colheita destruída".
A segunda matéria, de Marta Salomon, revela que o projeto de lei em preparo no Planalto sobre os transgênicos em geral pretende dar a um comitê de ministros a última palavra sobre a sua liberação, caso a caso.
Na Lei de Biossegurança de Fernando Henrique, ainda em vigor, o parecer conclusivo em cada pedido de plantio e comércio cabe à CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). Desde 1998 a autoridade desse órgão vem sendo contestada na Justiça.
Se o projeto que o governo deverá propor ao Congresso contiver o que a repórter diz que contém, a palavra da CTNBio será a penúltima: depois dela, se for favorável ao transgênico em questão, os ministros é que terão de dizer sim ou não. É uma forma de o Planalto manter as decisões sob seu controle. É o presidente do clube batendo o pênalti, diria o eterno Neném Prancha.
Assim é que funciona na Austrália, diz a reportagem. Falta checar.
A terceira matéria, de José Alan Dias, traz uma surpresa. O presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, se une àqueles que acham que a soja transgênica não deveria ser liberada porque a sua segurança para a saúde e o ambiente não foi pesquisada no Brasil. Para ele não basta dizer: "Foi feito estudo no exterior, logo está tudo bem".
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) é um dos centros mundiais de excelência no ramo. Estuda, em laboratório, soja, milho, mamão, batata, feijão e algodão transgênicos. O pessoal ali se queixa de que o seu trabalho tem sido sabotado pela facção antitransgênica do governo.
A Embrapa é do Ministério da Agricultura, cujo titular, Roberto Rodrigues não só é pró-transgênico até debaixo d?água, como foi quem mais se bateu no governo pela MP que liberou a safra passada de soja transgência e pela MP que libera a safra futura.
O que diz o presidente da Embrapa está mais perto do que pensa a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, com quem Roberto Rodrigues trava uma briga de foice no escuro.
A entrevista traz, como pertence, um box sobre o caso da soja. Nele se lê, a certa altura, que "o governo subverteu-se ao lobby dos agricultores do Rio Grande do Sul". Subvertido foi o verbo submeter-se.
Segundo o competente repórter Cristiano Romero, do Valor, "o Palácio do Planalto já não vê o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com a mesma reverência…Seu prestígio, dentro do núcleo do poder, está em queda?Palocci pode estar vivendo o seu primeiro desgaste junto ao chefe" (9/10, página A 4).
Segundo o competente repórter Kennedy Alencar, da Folha, "a angústia de Lula [com a crise social e os seus efeitos na eleição do ano que vem] está longe de se traduzir em perda de força de Palocci. Pelo contrário. O presidente avalia que Palocci é o fiador da credibilidade do governo perante o mercado?" (12/10, página A 5).