NOTAS DE UM LEITOR
Luiz Weis
O equilíbrio e a objetividade da matéria "Transgênicos ? os grãos que assustam", que ocupa 10 páginas e a capa da Veja desta semana (n? 1.826, 29/10/03), estão escancarados na passagem que descreve as partes em conflito no caso. É assim:
"De um lado, concentram-se os que tendem a aprovar os avanços científicos e os benefícios que trazem para a humanidade e para os fabricantes dos novos produtos que saem dos laboratórios. De outro, estão os que reprovam, principalmente ambientalistas e, de maneira geral, militantes de partidos de esquerda. Não importa o que digam os cientistas independentes a favor dos transgênicos, essa ala já decidiu que eles são um malefício ? e acabou."
Conhecida na praça como a publicação que manda repórteres colher opiniões de gente que conta, e que sirvam apenas para endossar os pré-conceitos firmados pela revista diante de tal ou qual assunto ? e acabou ?, Veja gastou naquele trecho 71 palavras para dizer o que poderia ter dito em dez: "De um lado, é a luz. Do outro, a treva".
Não é a primeira nem será a última vez que a Veja bate recordes de facciosismo e usa as palavras para maltratar os fatos. Mas, diante desse antológico espetáculo de desinformação, até este leitor, que sabe uma ou duas coisas sobre o assunto e que, na complicada soma algébrica dos prós e contras, acha que a engenharia genética de alimentos pode ser antes um bem do que um mal, se sentiu tentado a ligar para a entidade "Brasil livre de transgênicos" e perguntar onde assina.