Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mídia acuada nos últimos dias de Lozada

BOLÍVIA

Uma explosão que detonou um transmissor da rádio católica Pio XII e da emissora Televisión Universitaria, em Oruro, Bolívia, em 15/10, levou a organização Repórteres Sem Fronteiras [17/10/03] a se pronunciarem sobre o país pela segunda vez na mesma semana. Ambas as estações estão desativadas em conseqüência da explosão. Aparentemente, dois homens puseram explosivos na antena. Funcionários do governo boliviano haviam criticado anteriormente a estação de rádio por sua cobertura da crise no país.

Durante os três dias precedentes, diversas ameaças foram dirigidas à Pio XII em Cochabamba, que faz parte da rede de emissoras de rádio Erbol (Educación Radiofónica de Bolivia), à rádio Pachamama e à rádio Celestial.

Em 15/10, agentes da inteligência confiscaram as edições daquele dia do jornal El Diario e do semanário Pulso. O primeiro exibia editorial de primeira página pedindo a saída do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que ocorreria em 17/10; o segundo noticiou que especialistas militares da embaixada americana ensinaram as forças armadas bolivianas a lidar com crises e protestos.

Monica Medina, chefe da Radio Televisión Popular (RTP), disse em 15/10 que suas linhas telefônicas foram cortadas. A estação é antigovernista e recebera no passado ameaças anônimas de ataques à redação e a seus funcionários se continuasse no ar. A estação de TV de oposição Cadena A também afirmou ter recebido ameaças do Exército. No dia 15, sua programação foi brevemente suspensa e substituída por música.

De acordo com reportagem da Agence France Presse, o ministro do Trabalho, Adalberto Kuajara, disse que houve um "mal-entendido", e que o governo respeita a liberdade de imprensa.

Walter Chávez, editor da edição boliviana do Le Monde Diplomatique e do quinzenal El Juguete Rabioso, acusou em 15/10 agentes da inteligência de perturbá-lo em La Paz. Ele recebera diversos telefonemas com ameaças e fora forçado a suspender uma edição especial na qual o jornal se posicionaria a favor da saída do presidente. Carlos Colque, correspondente da Erbol em Patacamaya, foi atingido nas costas por uma bala de borracha disparada por um soldado logo após ser ameaçado por um coronel do Exército.

Repórteres Sem Fronteiras já haviam denunciado em 15/10/03 ameaças feitas contra jornalistas cobrindo a crise política e social da Bolívia. Funcionários da rádio Fides e das emissoras de TV Canal 2 e Canal 39 receberam ligações anônimas no dia 13/10, da mesma forma que as rádios Pachamama, Celestial e Erbol dois dias antes.

As três rádios receberam em 11/10 um aviso de que "algo" lhes iria acontecer e que deveriam tomar cuidado, parar de transmitir e que as estações seriam bombardeadas. Manifestantes tentaram apedrejar os estúdios da rádio Fides no dia 13, mas a polícia os conteve.

No dia 12/10, sete jornalistas da TV estatal boliviana pediram demissão em protesto ao que chamam de "distorção" das notícias e "mentira por omissão" por parte do governo. Acusavam o Estado de impedir que notícias sobre os protestos sejam transmitidas.

CPJ também demonstra preocupação

O Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) também demonstrou forte preocupação com o cerco à mídia de oposição nos últimos dias de Lozada no poder. Em 17/10, o grupo emitiu comunicado no qual se diz incomodado com os ataques e ameaças a jornalistas durante os protestos antigovernistas que levariam à renúncia do presidente.

O CPJ reporta que também em 15/10 dissidentes do Movimento ao Socialismo (MAS), principal formação de oposição, atacaram Eduardo Pinzón, cameraman espanhol da Radio Televisión Española, de acordo com o noticiário local.