Edição: Beatriz Singer (com Dennis Barbosa)
THE NEW YORK TIMES
Da última vez em que Daniel Okrent trabalhou para o New York Times foi como free-lancer. Ainda estudante da Universidade de Michigan, jamais imaginou que ocuparia, aos 55 anos, o cargo do primeiro ombudsman ? ou editor público, nos termos do Times ? do jornalão. Dos tempos da faculdade aos dias de hoje, muita coisa mudou.
Autor de alguns livros ? um deles sobre o Rockefeller Center ? e detentor de cargos editoriais importantes em toda a empresa Time Inc., Okrent é experiente com revistas e foi justamente isso que chamou a atenção de Bill Keller, atual editor-executivo do Times. Keller, que não conhecia Okrent até entrevistá-lo para o cargo, disse que o ombudsman que assumirá o cargo em 7 de dezembro próximo foi escolhido por não fazer parte do mundo dos jornais e do Times em especial. "Conclui que pessoas de fora do jornal tendem a fazer perguntas mais interessantes sobre o mesmo", afirmou o editor-executivo.
NY Times pós-crise
A opinião de Okrent sobre o Times de meses atrás, sob a batuta de Howell Raines e Gerald Boyd, não é negativa. De acordo com Sridhar Pappu [The New York Observer, 3/11/03], havia coisas que Okrent gostava de suas versões do jornal, como a escrita, a fotografia e as escolhas de primeira página que muitas vezes o surpreendia. Tudo isso fazia do Times um produto "vibrante", disse o novo ombudsman. Mas também houve situações que desgostasse, como a decisão de Boyd de exterminar as colunas de esportes de Dave Anderson e Harvey Araton, que discordavam da linha editorial do jornal.
As colunas eram apenas prenúncio do inferno astral que viria em seguida. Primeiro veio a revelação de que o jovem repórter Jayson Blair havia fraudado uma série de artigos para o jornal. Depois, a reputação do jornalão ficou ainda mais fragilizada com a notícia de que Rick Bragg, premiado correspondente nacional e queridinho de Raines, fez mau uso de créditos ao usar free-lancers sem mencioná-los.
Nada disso, diz quase todo professor de jornalismo de Salt Lake City, teria acontecido se houvesse um profissional no Times com o cargo que Okrent acaba de ocupar. Este, no entanto, discorda. "É interessante que quem primeiro chamou a atenção para as fabricações de Blair não foi um leitor, e sim um editor sênior", disse. "Isso teria ocorrido a um ombudsman? Não. Eles precisarão de um ombudsman agora se algo do gênero ocorrer novamente? Não. Acredite, se não tivessem me indicado ou a alguma outra pessoa para esse cargo, e outro editor enviasse um memorando interno, seria suficiente. Não estou aqui para isso".
Então para que o Times precisa de Okrent? Há décadas, desde que vários jornais americanos adotaram um ombudsman, a old gray lady manteve-se cética quanto ao cargo. Okrent só entrou em cena por causa das recomendações do comitê Siegal, montado para apurar os erros do jornal com a crise desencadeada por Blair e indicar reformas para restaurar sua reputação. Segundo Okrent, essa é uma forma de restabelecer a fé do público do jornal.
Norman Pearlstine, que recomendou Okrent a John Geddes, editor-administrativo do Times, disse que o novo ombudsman é o leitor mais cuidadoso que conhece. "Não há seção do jornal que ele não leia ou não aprecie", afirmou.
Okrent, de sua parte, disse que hesitou muito antes de assumir tão importante cargo. A saber, sua função o obrigará a comparecer a reuniões de pauta da primeira página, a estar na redação antes do trabalho começar, mas não depois, e a analisar artigos, reportando sua análise a editores e autores. "Escrevo para o público", disse. "Se o pessoal do Times quer ler o que escrevo para sua própria informação, tudo bem. Mas escrevo para o público. Estou nessa pelos leitores ? sou seu representante".