VIOLÊNCIA CONTRA JORNALISTAS
A russa Togliatti foi apelidada recentemente por um jornal moscovita de "a cidade dos jornalistas mortos". Em 18 meses, o jornal local Togliattinskoe Obozrenie ? conhecido por suas investigações sobre a complicada mistura entre crime organizado, negócios e política da Rússia pós-soviética ? perdeu dois editores assassinados. O último, Aleksei Sidorov, já havia amenizado a combatividade da publicação, mas parece não ter sido o suficiente. No dia 9/10, foi esfaqueado em frente ao prédio onde morava.
As autoridades se apressaram em dar declarações de que encontrariam os responsáveis. O ministro do Interior, Boris Gryzlov, classificou o caso de "questão de honra" ? críticos atribuem sua preocupação à proximidade das eleições parlamentares, marcadas para dezembro. Um operário de 29 anos foi preso, aparentemente para pôr fim à repercussão do caso. Antes, um policial local chegou a dizer que Sidorov fora assassinado por não querer dividir com um passante a bebida que levava.
Exemplo pós-comunista
Cidade-sede da indústria de automóveis Avtovaz, Togliatti tem 745 mil habitantes. Como reporta Sophia Kishlkovsky, para The New York Times [23/10/03], o fim do comunismo é visível em suas ruas. Novos shopping centers, cinemas modernos e um luxuoso clube de tênis contrastam com os velhos edifícios de apartamentos e as cinzentas indústrias químicas.
A disputa entre grupos criminosos pelo controle da Avtovaz foi dura e o Obozrenie a investigava a fundo. Jornalistas locais que não trabalham para ele, no entanto, apontam que o jornal, já sob o comando de Sidorov, passou a publicar artigos pagos pela empresa (entre "matérias-anúncio" de outras companhias, prática comum no jornalismo russo).
A editora do caderno policial do Obozrenie, Anastasiya Strizhevskaya, disse que sua equipe está tentando descobrir quem matou o editor. Os motivos mais prováveis para o crime são artigos sobre a luta entre mafiosos pelo controle de uma pedreira e a intenção de uma empresa de mídia regional de comprar o jornal.