HISTÓRIAS DO DIA-A-DIA
Allegro ? tragicomédias, delírios,
realismo, ambigüidade, de Fernando Portela, 416 pp, Editora Terceiro
Nome, São Paulo, 2003; <www.terceironome.com.br>;
tel/fax (11) 5044-5540; e-mail <editora@terceironome.com.br>
[do release da editora]
Allegro reúne 91 histórias em que o escritor e jornalista Fernando Portela brinca com a condição humana e percorre caminhos inusitados para relatar (quase sempre com muito bom humor) histórias do dia-a-dia.
Em seus contos não há os bons e os maus, nem mesmo os vivos e os mortos ? tudo se mistura, inclusive o real e o imaginário. Humberto Werneck, que assina o prefácio, adverte: "o que ele escreve é bizarro e é normal. Como em Nelson Rodrigues, inútil tentar distinguir uma coisa da outra. Inútil tentar ver fronteiras claras entre, por exemplo, malignidade e compaixão. Mais vale entregar-se, deixar-se levar pela imprevisível imaginação do autor".
O traço fundamental do trabalho literário de Fernando Portela talvez seja o uso que ele faz do humor, o que torna seus contos saborosos e dá um encanto particular até mesmo a certas histórias aparentemente terríveis. O autor também costuma mergulhar, quase sempre de cabeça, no chamado realismo mágico. Assim, de repente, você acha normal a preocupação de um fantasma com sua própria mãe; ou a relação entre o lojista português e o adolescente mongolóide; ou, ainda, o difícil diálogo entre Nossa Senhora e o menino que não sabe se a viu.
Não há limites para Fernando Portela. Ele próprio revela que, para quem nasceu na policromia colonial de Olinda, em Pernambuco, e passou a infância ouvindo histórias, o mundo tinha de parecer assim, diverso, surpreendente, gostoso de ser vivido.
Mas há, ainda, outros atrativos nesse trabalho realizado pela Editora Terceiro Nome por meio da Lei Rouanet, com o patrocínio de uma empresa do segmento metal-mec&aacirc;nico, a gaúcha Kepler-Weber. Foi esse apoio que garantiu a possibilidade de produzir um livro que resgata um tipo de edição meio esquecida hoje em dia: a que usa a sofisticação gráfica (o projeto é de Guto Lacaz) e a ilustração como estímulos complementares à leitura. Há, em Allegro, 48 desenhos de Alex Cerveny, Dudi Maia Rosa, Marcelo Cipis, Mário Cafiero e Vallandro Keating. Um time da pesada. Lembram daquelas edições de antigamente, de Shakespeare a Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Malba Tahan?
O autor
Fernando Portela nasceu em Olinda, Pernambuco. Aos 13 anos escreveu sua primeira história e nunca mais abandonou a ficção. Desde 1965 está ligado ao Jornal da Tarde, de São Paulo, do qual foi um dos fundadores e onde exerceu quase todos os cargos na redação e onde é responsável pelos projetos especiais. A partir dos anos 1970, sempre no JT, foi um brilhante seguidor do "new journalism": texto literário, desenvolvimento de personagens, frases precisas, informação ampla e, no seu caso, o humor, sempre o humor, como pano de fundo. Portela também foi redator de publicidade e responsável pela área de comunicação da Fiat do Brasil S.A .
Sua matéria de maior repercussão, sobre a guerrilha do Araguaia, dobrou a tiragem do Jornal da Tarde durante uma semana, em 1979, quando foi publicada, e transformou-se no livro Guerra de guerrilhas no Brasil ? A saga do Araguaia, um clássico do jornalismo investigativo, com nove edições até 1986 e uma nova, revista, em 2002, pela Editora Terceiro Nome. Portela é autor de mais de trinta obras, entre ficção, reportagens e livros infanto-juvenis.