Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Protagonista processa autora de livro

THE BOOKSELLER OF KABUL

Quase um ano após Asne Seierstad, jornalista norueguesa, publicar The Bookseller of Kabul ("O Vendedor de Livros de Cabul", tradução livre), sobre a vida de uma família afegã, ela continua sendo destaque no mundo editorial escandinavo. Com 220 mil exemplares vendidos apenas na Noruega, seu livro é o maior sucesso de vendas entre obras de não-ficção de todos os tempos no país, com feito semelhante na Suécia e na Dinamarca.

É claro que ajudou bastante o fato de Asne, repórter de TV e jornal de 33 anos, que cobriu guerras em Kosovo, Afeganistão e Iraque, ser uma celebridade na Noruega. Mas seu depoimento da experiência vivendo com a família de um vendedor de livros, a quem considera um homem liberal para o mundo e tirano dentro de casa, chocou o público nórdico pela descrição íntima da condição das mulheres afegãs.

Em agosto, pouco depois que o livro foi publicado na Grã-Bretanha, alguns exemplares em inglês chegaram ao vendedor, chamado Shah Mohammed Rais. De acordo com Alan Riding [The New York Times, 29/10/03], inconformado com o que disse ser mentira, distorção e indiscrições perigosas, viajou para Oslo em setembro para denunciar Asne e entrar com processo contra a jornalista e sua editora, Cappelen. Desde então, esse tem sido o principal assunto público na Noruega, debatido em programas de TV e artigos de jornal das mais diversas estirpes.

Rais, de sua parte, listou uma série de imprecisões do livro, inclusive a alegação de que seus pais venderam sua irmã por 300 libras a fim de pagar sua educação. Ele também se sentiu ofendido com a descrição de sua mãe nua no hammam (banheiro público), entre outras coisas. Asne reconhece que esta descrição em especial foi desnecessariamente íntima e retirou o trecho da edição que está chegando agora aos EUA. Mesmo com algumas mudanças que poderiam aquietar Rais, o afegão não arredou o pé: contratou Brynjar Meling, renomado advogado, para representá-lo na Noruega e prometeu processar a autora e as editoras onde quer que o livro seja publicado.

Asne, por sua vez, disse estar confiante de sua vitória no tribunal. "Ainda acho que é um livro muito honesto", afirmou.