NOTAS DE UM LEITOR
Luiz Weis
Nas redações esvaziadas e mal pagas, o erro deita e rola, e o leitor que se lixe. Sem goleiros para salvar o time, é um gol contra atrás do outro. Alguns frangos recentes, de variado peso, em ordem cronológica:
** Na primeira página do Estado de S.Paulo de 6/11, duas das três fotos de um quadro de quase meia página sobre os preparativos para o 450? aniversário de São Paulo, em janeiro do ano que vem, hão de ter deixado os leitores perplexos. Uma traz a legenda "Em paz ? Padre José Fernandes escreve no Pátio do Colégio". A outra, "Em festa ? Funcionários do Hotel Jaraguá, no centro, fazem homenagem ao chefe de cozinha Ambroisr Zafferey". Na chamada ao lado, nenhuma referência a padres ou a chefs. Para saber o que o jacu tem com as garças, o leitor precisou viajar até a página C 1.
** Na página A 7 do Valor de 6/11, título em quatro colunas informa que "Marcos Barbosa assume vaga no conselho da agência". (A agência é a Anatel, referida em manchete na mesma página.) Nos cinco parágrafos do texto, o nome presumivelmente verdadeiro do burocrata é citado cinco vezes. No entanto, perderá o tempo e a paciência o incauto leitor que se interessar pelo senhor Marcos Barbosa. Na Anatel ele não existe. O Marcos real, a julgar ao menos pelo número de citações, tem o sobrenome Bafutto.
** Na página A 13 do Estado de 7/11, título em uma coluna com a foto da personagem logo abaixo, informa: "Soldado Jessica foi violentada por iraquianos". Já o texto diz que ela "teria sido" sodomizada, segundo trecho de um livro sobre a sua história, antecipado pelo tablóide nova-iorquino Daily News. No dia seguinte, nem o "teria sido" se agüentou. O jornal publica relatos de agência de uma entrevista da própria Jessica à TV americana (quando, por sinal, ela acusa o Pentágono de ter usado a sua saga para fins de propaganda), em que o suposto estupro nem é mencionado. As agências ouviram também, em Bagdá, o ortopedista que a atendeu quando foi capturada, com múltiplas fraturas. O homem foi taxativo. Disse que a examinou minuciosamente e não constatou marcas de violência sexual nem traço algum de sêmen no seu corpo. Mas o "foi" ficou por isso mesmo.
** Na página B 7 da Folha de 7/11, uma tabela, sob o título "Empresário pede dólar a R$ 3 para exportar", diz em poucas palavras quem ganha com o dólar baixo e quem ganha com o dólar mais alto. E aí se lê, sob o titulete "Turismo interno": "Um real mais fraco pode estimular as viagens internacionais". Como se pergunta no Nordeste, cumá?
** Na página A 8 do Estado de 8/11, a propósito do já famoso "quem chega a Windhoek não parece que está num país africano", por causa da limpeza e da beleza da capital da Namíbia, um quadro elegantemente intitulado "Improviso, véspera do deslize" cita a "fileira de maus momentos" do presidente Lula. Um dos deslizes foi ele considerar a tragédia de Alcântara um mal que poderá vir para o bem. O jornal diz onde e quando o presidente cometeu essa gafe: "Base de Alcântara, 22 de agosto, ao lado de Vladimir Putin". Ao lado de Putin, de fato Lula estava. Mas não foi em Alcântara e sim em Nova York. E não foi em 22 de agosto (quando o foguete explodiu), mas em 24 de setembro (depois da abertura da Assembléia Geral da ONU).