TV ABERTA
Renato Auar (*)
Por acaso fiquei em casa à tarde vendo canais de TV aberta. Até um certo horário há programas que divertem ou, pelo menos, que não agridem de alguma forma. Certamente nada acrescentam às vidas de quem os assiste, mas por mera falta do que fazer é que são vistos. Alguns de fofocas, outros de jogos, brincadeiras… Enfim, coisas fúteis.
Em certo momento da tarde, parece que o público-alvo vai se alterando. E este fato não se dá isoladamente, pois quase todos os canais adotam a mesma fórmula ultrapassada, criticada, mal conduzida, e o pior, por apresentadores claramente desqualificados. Talvez se tivessem a oportunidade (?) de se aperfeiçoar não teríamos coisas como essas na nossa TV. O fato é que se tais programas ainda conseguem se manter é porque têm público, que consome os produtos anunciados por patrocinadores que lá estão bancando o início do fim da televisão brasileira de qualidade. Aí entra também o debate sobre o caso. Se este hilário programa fosse veiculado nas tardes dos dias úteis conseguiríamos perceber a irresponsabilidade que foi cometida? É difícil dizer, mas muito fácil imaginar. Com tanta porcaria produzida, uma a mais ou uma a menos não faria diferença.
Num canal passa Wagner Montes, cujo passado nem vale a pena lembrar. Com conteúdo similar a de Wagner Montes é o programa da concorrente Márcia Goldschmidt, que conduz o Hora da Verdade, cujo nome é paradoxo do conteúdo. Zapeando mais um pouco assistimos à velha briguinha de Datena e Marcelo Rezende, que por várias vezes apresentam reportagens iguais, e os repórteres se esbofeteando para ver quem entrevista primeiro em alguma dessas delegacias de São Paulo o delegado de plantão. E, por último, João Kleber, que reformulou seus programas depois de vários apelos por ética na TV.
Boa notícia
Fica claro a todos que aquela velha frase "não está satisfeito? Então mude de canal" perde sentido, uma vez que pode ser respondida da seguinte forma: "Se correr a baixaria pega, se ficar a baixaria come". Para onde o telespectador for estará vendo o mesmo conteúdo, apenas com apresentador diferente. Para onde correr? TV por assinatura, com seus altos preços, são excludentes até mesmo a setores da classe média, que prefere investir em outras coisas, como lazer.
A violência está em evidência na mídia. É impossível dizer o que o público quer, já que ele não tem opções. A sociedade está mais violenta com apoio da mídia? Talvez. Mas isso não é o fator de maior relevância, pois todas as sociedades contemporâneas são violentas. A diferença é o assédio e a importância dados a ela.
A mídia está pautando o telespectador. Está pautando a violência, o crime, os escândalos… Como disse a jornalista Sônia Bridi ao receber o título de melhor reportagem do 5? Prêmio Embratel na categoria Brasil Bonito: "Notícia boa pode ser uma boa notícia." Ou muda a mídia ou o público se muda (frase da mesma jornalista cotada na coluna de Zuenir Ventura, de 8/10, jornal O Globo).
(*) Estudante de Jornalismo