Um mapa da prostituição

BOCA DO LIXO

Qualquer pessoa que passe pelo quadrilátero formado pela rua Aurora e pelas avenidas Ipiranga, São João e Rio Branco, no centro de São Paulo, não deixa de notar as casas de shows eróticos e os cinemas de filmes de sexo explícito. Além das cores e luzes chamativas desses estabelecimentos, a presença constante de prostitutas e travestis não deixa dúvidas aos transeuntes: ali é a Boca do Lixo. Isto sem falar dos "laçadores", que assediam os pedestres para que vejam os espetáculos e gastem em bebidas.

Mas o que acontece dentro das casas de show e dos cinemas? Como funciona a rotina da prostituição na Boca do Lixo? O que acontece por trás das cortinas?

Com essas perguntas em mente, três jornalistas mergulharam na Boca do Lixo paulistana ao longo de mais de um ano, procurando mapear a indústria do sexo e apresentar uma visão sem preconceitos da prostituição feminina da região. O resultado é o livro Contos de Bordel: a prostituição feminina na Boca do Lixo de São Paulo, de Renata Bortoleto, Ana Laura Diniz e Michele Izawa.

A obra é baseada em depoimentos e entrevistas colhidas pelas autoras, que não mediram esforços ? e riscos ? para entrevistar prostitutas, clientes, funcionários das casas de strip-tease e empresários do sexo que circulam pela região. A metodologia de pesquisa das jornalistas mereceu um anexo especial no livro, um making of no qual elas, jovens entre 20 e 25 anos, contam como venceram medos e preconceitos para encarar e entender o underground do centro velho de São Paulo. Ali está o relato de alguns dos riscos que as autoras correram, como quando foram perseguidas por skinheads em um local próximo à praça da República, ou quando Ana Laura teve sua blusa cortada pela faca de um homem que perseguia uma garota de programa, escapando por pouco de ser ferida gravemente.

Como o jornalista Carlos Dias escreve na orelha do livro, Contos de Bordel é "uma passagem de primeira classe, com direito a carro alugado e guia, para uma excursão ? melhor dizendo, uma incursão ? à Boca do Lixo". Ao longo desta viagem, Renata, Ana Laura e Michele apresentam uma radiografia sem distorções da prostituição feminina da região e, como escreve Marcelo Coelho, "dão mostras de maturidade e compreensão humana raras nos mais experientes jornalistas".