UM SÓ CORAÇÃO
“O bolo da festa”, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/03
“Escrita por Maria Adelaide Amaral, 61, e Alcides Nogueira, 53, e em gravação há duas semanas, a minissérie ?Um Só Coração? será o maior produto comemorativo dos 450 anos de São Paulo, em janeiro, que mobilizará boa parte das programações de Globo, SBT, Record e Band.
Com 52 capítulos, mais de 70 atores e um orçamento de cerca de R$ 10 milhões, a minissérie, que estréia em 5 de janeiro (uma segunda-feira, em edição dupla com mais de 180 cenas), irá retratar 32 anos da história da cidade.
Começa em 1922, pouco antes da Semana de Arte Moderna, e termina em 1954, nas comemorações do Quarto Centenário, passando por duas revoluções e por uma guerra mundial. Mistura personagens reais e fictícios com fatos históricos. Será, na definição de Alcides Nogueira, um ?tapete?, que irá costurar a transformação da pacata cidade em metrópole.
A trama central será a de Yolanda Penteado (Ana Paula Arósio) e Ciccillo Matarazzo (Edson Celulari), ambos personagens reais, mecenas dos modernistas. Na história, Yolanda se apaixona pelo estudante de medicina e simpatizante do anarquismo Martim (Erik Marmo). Sua tradicional família o rejeita. Ela se casa com um primo, Fernão (Hérson Capri). Traída, se separa e, depois, passa a viver com o industrial Ciccillo.
De fato, Yolanda teve uma paixão reprimida, mas não foi por Martim. Os autores preferiram criar um personagem fictício para evitar atritos com herdeiros. Pelo mesmo motivo, mudaram o nome do primo com quem se casou.
Assim como Yolanda e Ciccillo, personagens reais dos livros de história irão povoar a minissérie, alguns envolvidos em casos romanceados pelos autores. Estarão em ?Um Só Coração? os modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp, entre outros.
?Pela primeira vez vai ser refeita a Semana de Arte Moderna como ela foi montada em 1922. Guiomar Novaes (pianista), Villa-Lobos (maestro), todo mundo vai estar no Teatro Municipal?, diz Nogueira. ?Sempre se mostrou São Paulo como a locomotiva. Agora a cidade será humanizada. A história cultural de São Paulo nesse período se confunde com a do Brasil. E foram Ciccillo e Yolanda que a colocaram no mapa cultural mundial?, completa Maria Adelaide.
Os autores trabalham como adolescentes entusiasmados. Vibram com as idéias que aparecem e com as descobertas de ?fuxicos? sobre os modernistas nos livros e revistas que servem de fonte de pesquisa -na última quarta, quando recebeu a Folha em seu apartamento, Maria Adelaide espalhou 37 deles sobre uma mesa.
A minissérie, conta Maria Adelaide, nasceu em uma tarde de abril, quando um executivo da Globo lhe perguntou se tinha alguma idéia de série sobre São Paulo. Lembrou do material que sobrou da pesquisa para a peça ?Tarsila? e propôs ?uma trama sobre a história cultural da cidade?, em parceria com Nogueira.
?É o trabalho mais difícil da minha vida?, diz Maria Adelaide, autora de ?A Muralha? e ?A Casa das Sete Mulheres?. ?Para fazer essa tapeçaria histórica é preciso escrever com propriedade?, afirma. ?Imagina a responsabilidade de contar que a revolução de 1924 foi uma zona??, indaga Nogueira.”
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“Personagens representam fases da cidade”, copyright Folha de S. Paulo, 27/10/03
“A seguir, trechos de entrevista com Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira sobre ?Um Só Coração?.
Folha – Como evitar que uma minissérie que está sendo ?vendida? como comemorativa dos 450 anos de SP pareça oportunismo comercial?
Alcides Nogueira – Realmente não é um oportunismo comercial. Trata-se de uma homenagem a São Paulo. Em momento algum a idéia de ?vender? os 450 anos se sobrepôs.
Folha – Como foi o processo de criação da trama?
Nogueira – A primeira idéia, de focar a minissérie nas figuras de Yolanda Penteado e Ciccillo Matarazzo, foi de Maria Adelaide. Foi a descoberta da ?espinha cultural? da trama. A partir daí, nós dois começamos a montar essa saga paulistana, usando a ficção e a realidade.
Folha – A minissérie será fiel à história dos modernistas?
Nogueira – A idéia é cruzar as histórias de personagens reais e fictícios para termos uma tapeçaria do que foi esse período [1922/54]. Os fatos e pessoas reais são enfocados fielmente. Mas, mesmo assim, em determinados momentos o real também é romanceado, sem perder a verossimilhança.
Montamos núcleos cujas tramas representem fases da história da cidade. Assim, o Coronel Totonho Sousa Borba é a República Velha, em seu esplendor e, depois, em sua decadência; Ernesto é um anarquista; as colônias que vieram para a cidade estão representadas por Avelino e sua família (portugueses), por Samir e sua mãe Sálua (libaneses), pela família Fujihara (japoneses), pelos italianos (ricos, como os Matarazzo e os em ascensão).
O interessante é que a realidade e a ficção acabam se fundindo ou interagindo, e isso cria um movimento narrativo muito peculiar.
Folha – A sra. pretende escrever uma novela? Aquele seu projeto de novela das seis que iria entrar no ar em 2002 (?A Dança da Vida?) foi definitivamente enterrado?
Maria Adelaide – Se me mandarem fazer uma novela, faço. Sobre aquela novela que dançou, foi melhor assim. Por causa disso escrevi ?Tarsila?, e foi esse trabalho que me levou a sugerir ?Um Só Coração?. Algumas coisas ruins não são de todo más. Por mim continuaria fazendo apenas minisséries.
Folha – Qual o segredo para uma minissérie com fundo histórico fazer sucesso?
Maria Adelaide – Não sei se é bem um segredo, mas a história começa como pano de fundo. Em primeiro plano, estão as tramas amorosas. É através da emoção que o público acaba se interessando pela história. E, quando isso acontece, eu aumento a dose de informação.
Folha – Por que ?Os Maias? foi um sucesso de crítica, mas um fracasso de público?
Maria Adelaide – Porque o ritmo era lento e a trama ambientada em uma Portugal muito distante da realidade brasileira para poder interessar ao grande público. E realmente não fizemos concessões: nem eu no texto, nem o Luís Fernando [Carvalho] na direção.”
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“Ex-ministro sugeriu Celulari”, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/03
“A minissérie ?Um Só Coração?, que estréia em janeiro na Globo, já teve até ex-ministro dando opinião no elenco. Andrea Matarazzo, secretário nacional de Comunicação de Fernando Henrique Cardoso, sugeriu que Edson Celulari vivesse Ciccillo Matarazzo (1898-1977), seu tio-avô.
O ator interpretará o industrial que, a partir dos anos 40, se envolveu em quase todas as empreitadas culturais de SP: fundou o MAM, o Museu de Arte Contemporânea da USP, o Teatro Brasileiro de Comédia, criou a Bienal de Artes, ajudou a fundar a Cinemateca Brasileira, a Cinematográfica Vera Cruz e a construir o parque Ibirapuera.
?Quando a gente vê o currículo do Ciccillo, percebe que ele estava à frente do seu tempo. Para mim é uma honra representá-lo?, diz Celulari, 45, que é paulista, mas vive há mais de 20 anos no Rio.
O ator conta que mergulhou na história de Matarazzo desde que foi chamado para o papel. Nesta semana, ele viaja a São Paulo para se encontrar com ?seu? Neco, o último secretário de Ciccillo.
Mas Ciccillo só entrará na segunda fase da minissérie. Antes, o foco será Yolanda Penteado, sua mulher, também uma grande incentivadora das artes em São Paulo, vivida por Ana Paula Arósio.
A atriz diz que não se envolveu tanto com a personagem. ?O próprio diretor, Carlos Manga, pediu que não fizéssemos uma cópia da Yolanda, porque ela será um personagem, com ficção e realidade.?
O contato virá pela atriz que fará sua irmã: Gabriela Hess, bisneta de Yolanda chamada pela autora, Maria Adelaide Amaral. ?Ela dará a luz à Antonieta, que é sua tia-avó. Quando ela leu a cena para essa senhora, as duas choraram emocionadas?, conta Amaral.”
“Programação de aniversário estréia no próximo mês”, copyright Folha de S. Paulo, 26/10/03
“A minissérie ?Um Só Coração? é apenas um dos projetos da Globo para comemorar os 450 anos da cidade de São Paulo.
Depoimentos de anônimos e personalidades da cidade estão sendo colhidos para irem ao ar durante a programação, até janeiro. A emissora terá programas especiais, a partir do novembro, sobre a trajetória dos imigrantes que ajudaram a construir São Paulo.
O canal também deve investir no Réveillon deste ano na avenida Paulista. Na semana do aniversário, toda a programação estará voltada para a festa. E às 23h do dia 24 de janeiro começa a maratona de 25 horas no ar. A programação será transmitida do ginásio do Ibirapuera, onde haverá uma festa com o elenco e os apresentadores da emissora.
A Band também fará um show, no dia 25, no viaduto Tutóia, sobre a av. 23 de Maio, com artistas populares. A emissora já exibe sua ?Contagem Regressiva?, com personagens anônimos e famosos contando sua relação com São Paulo. Além disso, haverá inserções de um minuto ao longo da programação com histórias da cidade e dos moradores.
O canal criou dois personagens de animação para estimular a limpeza e a conservação dos lugares públicos e lança uma ação, em parceria com a prefeitura, de recuperação de dez monumentos.
A TV Cultura ainda estuda o que fará. O único projeto certo é a produção de documentários sobre São Paulo. Rede TV!, Record e SBT ainda não decidiram a programação do 25 de janeiro.”
TV GLOBO NA RÚSSIA
“Globo amplia ?colonização? na Rússia”, copyright Folha de S. Paulo, 25/10/03
“A TV Globo anunciou na feira de televisão Mipcom, uma das mais importantes do mundo, em Cannes, há duas semanas, a ampliação do acordo que mantém desde 1995 com a emissora russa ORT (conhecida no Ocidente como Channel One Russia). Até dezembro de 2005, a Globo irá fornecer à ORT mil horas de programação. Até 2003, exportava apenas 200 horas anuais.
Com o acordo, a TV russa passa a exibir duas novelas (e não mais apenas uma) no horário nobre e reprisa uma delas na faixa vespertina. Já estão no ar na ORT ?Porto dos Milagres? e ?Esperança?. Em fevereiro, entra ?O Clone?, que será a 13? novela da Globo a ser exibida pela TV russa.
O acordo com a ORT inclui também o licenciamento de produtos e o lançamento de trilhas sonoras das telenovelas.
As novelas da Globo têm sido muito bem-sucedidas no Leste Europeu. Além de Rússia, são exportadas também para Romênia, Hungria, Eslovênia e Lituânia, entre outros paíiacute;ses. Na feira de Cannes, foram fechadas negociações por ?Porto dos Milagres? na Romênia e ?Esperança? na Lituânia. Para o Oriente Médio (Líbano), foi vendida ?Esperança?.
Uma curiosidade: as novelas da Globo na Rússia são exibidas com ?voice over?. Um homem, uma mulher e uma criança explicam o que está acontecendo nas cenas, com som original em português. Por opção, segundo a Globo.”
CÓDIGO DE ÉTICA / TV
“Abert vai revisar código de ética na TV”, copyright Folha de S. Paulo, 24/10/03
“A Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV) vai retomar as negociações com suas cerca de 200 afiliadas para a adoção de um código de ética comum a todos os canais abertos.
A informação foi transmitida a deputados federais por Evandro Guimarães, executivo da Globo e consultor da Abert.
A Abert tem um código de ética desde 1993, mas o documento deixou de ser considerado pela entidade em 1998. O manual elencava quais conteúdos eram considerados apropriados para determinados horários. A rigor, nunca funcionou, porque só previa como punição advertência sigilosa, divulgação de campanhas educativas e a expulsão da emissora infratora da Abert.
No encontro com os deputados, no início do mês, Evandro Guimarães defendeu a adoção de normas e punições mais rígidas.
A discussão de um novo código está na agenda da Abert, mas até agora nenhuma iniciativa, como convocação para reuniões ou seminários, foi tomada.
A revisão e reativação do código é assunto polêmico dentro da própria Abert. Além disso, a entidade não representa mais todas as redes _SBT e Band romperam.
O discurso pela retomada da auto-regulamentação é uma tentativa da Abert de enfraquecer a defesa da criação de um código de ética por meio de lei. Um projeto de lei sobre o assunto já tramita no Câmara dos Deputados.
OUTRO CANAL
Apito
Os canais pagos ESPN Brasil e ESPN International finalmente conseguiram fechar as negociações pelas transmissões do Campeonato Espanhol de futebol, já em andamento. As exibições começam amanhã, por enquanto só na ESPN Brasil, com dois jogos ao vivo a partir das 15h30.
Cartão
A Rede TV! vai tirar do ar o programa ?Show Business?, produção independente comandada aos domingos por João Dória Júnior. Ontem, notificou o apresentador, dando 30 dias para ele desocupar o horário _que deverá ser ocupado por programa semelhante, na linha ?empresarial?. O problema foi baixo faturamento.
Rotina
Deu 14 pontos de média (contra 27 da Globo) a edição de anteontem do ?Show do Milhão?, no SBT, que pela primeira vez pagou o prêmio máximo (R$ 1 milhão) a um participante _um aposentado que soube responder em que dia nasceu e em que dia foi registrado o presidente Lula. O programa deve ser reprisado nas próximas semanas.
Fenômeno
Mesmo reprisando reportagens antigas, o ?Vitrine? vem surpreendendo a direção da TV Cultura. Neste mês, o programa, que quase saiu do ar, entrou no ranking das maiores audiências noturnas da emissora, com médias de 2 pontos no Ibope.”