TV A CABO
“Contra por quê?”, copyright Veja, 22/10/03
“Na semana passada, foi retirado da pauta de votação do Senado o projeto de lei 175/01, do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que altera a regra de participação do capital estrangeiro nas empresas de TV a cabo. O projeto permite a essas empresas, hoje obrigadas a manter 51% do capital em mãos de brasileiros, ampliar para até 100% a participação de estrangeiros. O texto tramita há dois anos, já foi aprovado na Comissão de Educação do Senado e estava agendado para ir a plenário na quarta-feira passada. Adiamentos fazem parte da rotina do Legislativo. Mas, nesse caso, existe um fato que chama atenção. Sob o mesmo argumento de risco de ?desnacionalização do setor?, estão unidos contra o projeto integrantes da esquerda do PT e algumas emissoras de televisão aberta, como a Band, que dedicou largo tempo de seu principal jornal à denúncia do suposto dano que o texto traz aos interesses do país.
A argumentação é falaciosa. Empresas de TV a cabo não produzem programas, apenas se encarregam de sua transmissão, o que torna sem sentido a preocupação nacionalisteira dos petistas radicais, da Band e de outras emissoras. No limite, é como, em nome de proteger a imprensa nacional, pretender que bancas de jornais sejam controladas exclusivamente por brasileiros. As empresas de TV a cabo prestam um serviço análogo ao da transmissão de sinais via satélite – atividade regulada pela Lei Geral das Telecomunicações, que não impõe limite preestabelecido à participação estrangeira. O projeto amplia o acesso dessas companhias, que já investiram quase 5 bilhões de reais no país, a uma fonte de capitalização fundamental num mundo globalizado e competitivo. A previsão é que o texto volte à pauta em duas semanas. Espera-se que para uma discussão baseada em informações, e não em preconceitos ideológicos ou interesses ocultos que não deveriam mais ter lugar num país onde a xenofobia financeira é parte do passado.”
TV DIGITAL
“Pesquisa da TV digital no Brasil terá verba de R$ 80 milhões”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 17/10/03
“A pesquisa da tecnologia de TV digital no Brasil contará com R$ 80 milhões em recursos bancados pelo Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), segundo minuta de decreto entregue nesta sexta-feira à Casa Civil.
O documento, elaborado por um grupo interministerial, estabelece os princípios para o incentivo à produção nacional da tecnologia de TV digital.
Os estudos serão desenvolvidos por pelo menos 30 universidades e três institutos de pesquisa: Genius, ligado à fabricante de eletrônicos Gradiente; Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) e Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), afirmou à imprensa o ministro das Comunicações, Miro Teixeira.
O ministro explicou que novas entidades poderão apresentar propostas, contribuindo com o projeto. ?Não se vai fechar as portas para ninguém?, disse Miro após a entrega do documento ao ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Com a publicação do decreto, as entidades poderão apresentar seus projetos ao CPqD, encarregado pela distribuição dos recursos, e, no prazo de até 40 dias, o dinheiro deverá ser liberado. O ministro espera que a publicação do decreto ocorra ?o mais rápido possível? e estima que um ano após a liberação dos recursos o Brasil terá definido seu sistema próprio de TV digital.
O Japão, os Estados Unidos e a Europa já possuem suas próprias tecnologias, mas a criação de um sistema no Brasil vai permitir maior adaptação à realidade local, além de favorecer a redução da dependência tecnológica e de incentivar a produção de softwares no país.
A tecnologia da TV digital permite reprodução de imagens em alta definição, multiplicidade de canais e interatividade, o que deve ser um meio de universalização da educação à distância.
O grupo interministerial que elaborou o texto do decreto foi composto por representantes dos ministérios das Comunicações, da Cultura, do Desenvolvimento, da Educação, da Fazenda e Relações Exteriores, além da Secretaria de Comunicação do governo federal, sob coordenação da Casa Civil.
A pesquisa será acompanhada por três grupos compostos por representantes do governo, técnicos e entidades interessadas como Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), disse Miro.”
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“Lula receberá minuta do decreto da TV digital na semana que vem”, copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 17/10/03
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve receber na próxima semana a proposta de minuta de decreto sobre os estudos de um padrão brasileiro de TV digital, elaborado por um comitê interministerial.
O ministro das Comunicações, Miro Teixeira, disse nesta sexta-feira que a minuta de decreto vai prever a criação de três grupos: o conselho gestor, formado pelo governo; o conselho de desenvolvimento, formado pelas universidades; e o conselho de desenvolvimento, que incluirá entidades envolvidas com o tema, como Abert, Abinee e ABTA, entre outras.
A pesquisa do padrão brasileiro, segundo Miro Teixeira, vai partir dos sistemas de TV digital já conhecidos. Os grupos de trabalho contarão com R$ 80 milhões do Funttel (Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações). A Fundação CPqD será a gestora dos recursos.
?O decreto vai estabelecer políticas para a pesquisa de um padrão de TV digital. E vai deixar explícito que a TV digital vai ser um meio de educação à distância?, disse o ministro.
O ministro da Educação, Cristovam Buarque, que também participou da reunião do comitê interministerial encarregado de elaborar a minuta de decreto, incluiu a criação de uma rede para a universalização de educação à distância.”
MURDOCH vs. GLOBO
“A dividida entre Murdoch e a Globo – II”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 20/10/03
“Onde estávamos? Ah! No mundo da bola…
Bem, como escrevi semana passada, o australiano-britânico-americano está de olho comprido no Campeonato Brasileiro, hoje sob domínio da Rede Globo, mas cujo contrato com a CBF e o Clube dos 13 acaba ano que vem. Com o caminhão de dinheiro que tem, e com sua principal concorrente não muito bem das pernas, o velho Murdoch não teria dificuldade para tomar a mais importante competição de clubes do país dos seus ex-sócios na Sky.
Mas é claro que o Império não vai ficar de braços cruzados esperando ser trinchado pelo gringo. Assim sendo, a empresa-líder do conglomerado brasileiro tomou providências que, se não resolvem o problema, pelo menos o põe numa situação politicamente mais forte para quando a pugna começar.
Muita calma nessa hora…O que temos hoje? Um Brasileirão enorme, com 46 rodadas e um monte de datas. Um campeonato assim custa caro, pois os clubes e a Confederação negociam pelo número de datas. Já que o dinheiro não anda exatamente sobrando pelos lados do Império, como vimos, conviria a ele ter um campeonato menor, pois não?
É aqui que entram nossos coleguinhas. Não sei se você notou, até umas semanas atrás alguns dos mais fulgurantes astros do jornalismo esportivo imperial tinham como esporte preferido tascar o Brasileirão por pontos corridos. O argumento principal era que um campeonato por pontos corridos é chato, com poucos times disputando o título (e perigo de um disparar na frente), e, por isso, sem motivação para a maior parte dos torcedores. Bom mesmo é campeonato de um turno só, com ?mata-mata?, que torna a competição mais emocionante, prendendo a atenção do torcedor até o fim, pois há briga pela classificação e, depois, pelo título. É claro que este é um campeonato com menos datas e, portanto, mais barato, mas isso jamais é usado como argumento pelos que defendem o mata-mata.
Para embasar o seu ponto de vista, os adeptos do Brasileiro ?mata-mata? argumentam com as ligas americanas que têm ?playoffs?. Se os americanos que são mestres no ?show business? fazem assim, nós estamos errados ao fazer diferente. Bom argumento, exceto que ele esquece que nas ligas do Tio Sam as chamadas ?temporadas regulares? são gigantescas, com seis, sete meses de disputa, durante os quais os competidores jogam todos contra todos e mais de uma vez (no basquete, por exemplo, são mais de 80 jogos na regular, com alguns times se enfrentando até quatro vezes). Um Brasileiro desses seria legal, pena que a Globo iria ter gastar um dinheiro que não tem para bancá-lo. Murdoch não teria este problema, embora provavelmente prefira os pontos corridos.
Mais lógico do que pegar exemplos dos esteites, onde o ?soccer? nãatilde;o emplaca de jeito nenhum – nem a liga feminina deu certo, embora ainda reste uma esperança para ela – seria olhar para onde o futebol é praticado ao mesmo tempo com paixão e profissionalismo. Isto ocorre na Europa, mas aí há dois problemas para os defensores imperiais do mata-mata: os campeonatos europeus são por pontos corridos e um dos mais ricos deles, o inglês, é na prática bancado por Rupert Murdoch.
Os coleguinhas imperiais, porém, parecem ter esquecido as diatribes contra os pontos corridos por dois motivos:
1. Atinou-se que, falando mal deste Brasileiro, iria se perder audiência já – e o futebol garante a vitória da Globo especialmente no sábado à tarde, horário em que, no ano passado, na fase preliminar de um Brasileiro mata-mata e tudo, a emissora andou apanhando do Raul Gil;
2. Como a CBF não abre mão de turno e returno com pontos corridos e não há dinheiro, nem tempo para um campeonato que tivesse também mata-mata (em 2004 tem Jogos Olímpicos e Copa América), a Globo capitulou, mas não ficou de mãos abanando, pois a Confederação não gosta de brigar. O Brasileirão teria 46 datas ano que vem, com a queda de quatro times e subida de apenas dois da Segundona, fórmula que se repetiria em 2005, levando a competição a ficar com apenas 20 clubes em 2006, precisando, dessa forma, de muito menos datas. Ou seja, o ?fator emoção? estaria praticamente garantido, pois a tendência seria haver muita briga entre os líderes e também na rabeira.
3. Ainda assim, a Globo pensa seriamente em comprar menos jogos para o canal aberto, baixando de três jogos por semana para dois. Seria economia grande.
De qualquer forma, o tamanho do problema imperial não diminuiu. Rupert Murdoch continua à espreita, meio paradão que nem o Romário, mas, como o Baixinho, se a defesa bobear ele corre pro abraço.
De cinema – Já está rolando em pré-estréias aqui no balneário decadente o filme ?Driblando o destino?, exibido no Festival do Rio. Quem ainda quiser alguma prova de que ?seu? Murdoch joga sempre muito seriamente quando o assunto é futebol não deve perdê-lo, como já aconselhei no blog.
O argumento do filme é singelo: menina inglesa de ascendência indiana bate um bolão (dentro das quatro linhas, embora fora delas também dispute vaga no time…), mas os pais querem mesmo é que ela se case e seja esposa e mãe ao estilo antigo. O roteiro fica sem saber muito o que fazer – se concentra no choque entre tradição e modernidade, entre pais e filhos ou vai de comédia romântica adolescente.
A explicação para esta crise de identidade é que, na verdade, a fita é um grande merchandising do futebol (no caso, o feminino) e não por acaso produzido por uma das divisões de Fox. Duas provas de que o filme é só veículo para o negócio futebol:
1. No início, tem uma seqüência enorme com o time do Manchester, cuja propriedade é do doutor Murdoch. A camisa do clube inclusive é quase uma segunda pele da protagonista;
2. O nome do filme em inglês é ?Bend it like Beckham? (algo como ?batendo de curva como Beckham?, um trocadalho com o espírito da história, a religiosidade hindu – ?bend it= bendit? – e as intenções do filme). O cheiroso, e muito superestimado, jogador inglês é o deus da gatinha anglo-indiana e, na época em que se passa o filme, jogava no Manchester.
Um conglomerado que faz um filme bem produzido como ?Driblando o destino? para vender subliminarmente um esporte não joga pra perder.”