MÍDIA NO IRAQUE
A NBC conseguiu uma entrevista exclusiva com o repórter Jim Miklaszewski, único a filmar o ataque devastador a um hotel em Bagdá, que quase atingiu o vice-secretário da Defesa americano Paul Wolfowitz. Alguns oficiais dos EUA no Iraque, porém, não gostaram nem um pouco da história e tentaram impedir Miklaszewski e seu cameraman de filmar a cena.
"Os jornalistas da NBC conduziram o assunto de forma totalmente inapropriada, descuidada e insensível", disse Gary Thatcher, chefe de comunicação da autoridade de ocupação americana. "Em vez de pedir ajuda, eles só quiseram saber de fazer o vídeo com pessoas em situações de extrema dor (…) a fim de aumentar a audiência."
De acordo com artigo de Howard Kurtz [The Washington Post, 10/11/03], horas após o ataque, funcionários da Autoridade Provisional da Coalizão (CPA, sigla em inglês) chamaram o presidente da NBC News, Neal Saphiro, para pedir que as imagens cujos feridos são identificáveis não fossem transmitidas. Após edição em Nova York, uma reportagem da NBC mostrou brevemente o rosto de um homem ferido.
A Autoridade Provisional da Coalizão no Iraque, criada pelo governo Bush, está insatisfeita com as decisões de emissoras americanas para a cobertura do conflito. A insatisfação é tamanha que a CPA criará seu próprio canal de TV, com capacidade de retransmissão a outras emissoras, ao vivo, 24 horas por dia.
"Tínhamos que confiar em eventos e interpretações dados por emissoras", disse Dorrance Smith, ex-produtor da ABC News e atual conselheiro sênior de mídia para a CPA. "Agora isso vai mudar".
Quando, em setembro, a Casa Branca deixou para trás as principais emissoras e se dirigiu a afiliadas locais, quis passar uma mensagem de insatisfação em relação às grandes e, mais que isso, mostrou que não queria que Peter Jennings, Tom Brokaw e Dan Rather, os principais âncoras dos EUA, determinassem as manchetes.
O plano pareceu funcionar, mas nas últimas semanas, com o aumento dos atentados no Iraque e a queda de aprovação do povo ao governo Bush, a Casa Branca, consciente de que a continuidade do mandato depende do progresso da guerra, assumiu o controle para modelar a percepção do público. De acordo com Joe Hagan [The New York Observer, 17/11], Bush e seus assessores entenderam que uma reportagem pertence a quem possui as câmeras, microfones e meios de transmissão via satélite e decidiram, assim, criar sua própria TV.
O principal responsável pelas notícias veiculadas pelo governo será o embaixador L. Paul Bremer III, administrador da CPA. Ele e sua equipe poderão controlar as reportagens e passar a mensagem "sem ter de criar um evento e tê-lo coberto por alguém que o enxerga e o filtra subjetivamente", disse Smith.
O projeto ainda não tem nome e deve ser inaugurado nas próximas semanas, antes do projeto de mídia da CPA para dezembro: um centro de arquivos de imprensa, semelhantes aos existentes na Casa Branca e no Pentágono, e um sistema de concessão de credenciais para regular o acesso.