Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

…e a caixa registradora volta a funcionar

DELFIM RIDES AGAIN…

Alberto Dines

Delfim Netto é rápido no gatilho e não brinca em serviço ? daí a sua longevidade. Quando é preciso gastar, gasta. Quando é preciso cobrar favores, cobra logo.

As denúncias sobre os trambiques financeiros e estatísticos do Pai do Milagre Brasileiro apareceram na imprensa nacional no dia 5 de novembro. Neste dia chegava às livrarias o terceiro volume do painel do jornalista Elio Gaspari sobre os Anos de Chumbo (A Ditadura Derrotada, Companhia das Letras) com os impressionantes depoimentos comprobatórios.

Já no dia 17 de novembro estava nas bancas a edição regular de IstoÉ Dinheiro (n? 325, 19/11/03), com uma matéria de capa para livrar o sucessor de Maluf da difícil situação em que ficou. Obra-prima de cinismo, deprimente exibição de jornalismo serviçal.

A monstruosa foto da capa tem o seguinte título: "Exclusivo ? Os arquivos secretos de Delfim Netto". A chamada é outro primor: "O ex-czar da economia fala pela primeira vez de como os militares manobraram para gerar o milagre do crescimento e depois quebraram o país".

Um recorde: cinco mentiras descomunais em apenas 31 palavras. A saber:

** Delfim não abriu arquivo algum, secreto ou não. Sempre gabou-se de jogar no lixo qualquer papel que o irritasse. Apenas deu opiniões que, aliás, sequer foram investigadas, confrontadas ou complementadas.

** Não é a primeira vez que fala sobre a sua gestão durante o regime militar. É, no mínimo, a décima.

** Pode ser, no máximo, a primeira vez em que viu-se desmascarado de forma tão completa. Desta vez ficou nu e o espetáculo foi horroroso.

** Os militares não "manobraram para gerar o milagre do crescimento". Foi ele, Antônio Delfim Netto, quem comprou a mídia para inventar a primeira e mais desastrosa bolha de crescimento da nossa história econômica.

** Os militares também não quebraram o país. Quem o fez ? porque eram um serviçal dos militares ? foi ele, Antônio Delfim Netto.

Uma revista que imprime em sua capa tantas balelas consegue ainda desmentir-se no sumário (pág. 7), quando apresenta o entrevistado como "o homem mais poderoso da economia brasileira durante o regime militar" e, na abertura da matéria (pág. 26), o classifica como "operador do milagre brasileiro". Se era tão forte, foi o responsável pelo desastre.

O mais curioso é que no pequeno texto introdutório à entrevista diz-se que Delfim Netto está contra-atacando "sem meias palavras". Mas não menciona o teor e/ou a autoria do ataque. Puro esoterismo.

São oito paginas, fartamente ilustradas com fotos de arquivo, algumas no estilo de álbum de família abraçado a Paulo Maluf, rigorosamente inocentes. Os tais arquivos secretos não produziram documento algum. Apenas aspas.

Regiamente faturadas.

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Delfim, enfim ? A.D.