Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Consumo democrático nas páginas de Lucky

REVISTAS FEMININAS

O mundo das revistas femininas, na análise de David Brooks [New York Times, 18/11/03], é dividido entre "sorridentes" e "não-sorridentes". Nas "não-sorridentes", modelos pálidas apresentam expressões deprimidas, pois sorrir é algo "pequeno-burguês". Mas é do flanco "sorridente" que vem o nome do momento: a revista Lucky, eleita a publicação do ano pela Advertising Age. Com 900 mil leitores, ela praticamente não tem artigos. Em vez deles, há dezenas de páginas com produtos ? bolsas, sapatos, batons. Trata-se de um híbrido entre revista e catálogo. Por causa disso, seu sucesso é visto por críticos como sinal do ocaso da civilização. Por outro lado, há de se levar em conta que a quase ausência de artigos significa que não há, por exemplo, matérias de conselhos sentimentais e celebridades.

Outra característica interessante é que ela não se concentra, como algumas de suas concorrentes, nos produtos caros e de grife. Ao lado de uma calça de US$ 500 pode estar alguma tranqueira encontrável num supermercado. Isso, como aponta Brooks, é democracia. "Alexis de Tocqueville escreveu um livro razoavelmente importante sobre como, na América, a personalidade democrática suplanta a aristocrática. (…) O democrata está interessado na felicidade cotidiana, não em excelência arrogante. O democrata simplesmente não toma conhecimento de classes sociais".