ATRAÇÃO FATAL
Alberto Dines
Ou é Delfim Netto que agarra-se às revistas da Editora Três ? Dá no mesmo. A verdade é que, pela segunda vez em menos de 15 dias, assistimos ao fascinante espetáculo, ao vivo e em cores, do branqueamento do ex-czar da economia do regime militar por uma empresa jornalística que se apresenta no mercado como "independente".
Com data de 19 de novembro, edição da revista IstoÉ Dinheiro colocou na capa a sedutora figura do popularíssimo deputado do Partido Popular (PP). Tentava responder, sem mencionar a origem e o teor, às denuncias contidas no terceiro volume do painel sobre a ditadura de autoria de Elio Gaspari (A Ditadura Derrotada, Cia. das Letras) e divulgadas com grande destaque por dois jornalões, O Globo e Folha.
O homem estava afobado, precisava impedir que a bola de neve ganhasse volume, velocidade e comprometesse o seu mandato. Tanta foi a pressa que a matéria acabou prejudicando o entrevistado ao invés de ajudar. Delfim queria OMO, aquele que lava mais branco, ofereceram-lhe um piche. Os podres mencionados no livro e repetidos pela imprensa ficaram até mais visíveis diante da ostensiva disposição de ignorá-los.
Como o cliente tem o direito a exigir um serviço satisfatório, Delfim Netto foi premiado nesta semana na edição da revista-mãe com a entrevista da tarja vermelha (IstoÉ, 3/12/03, páginas 7 a 11). Novamente omitiu-se o noticiário que o envolveu no início do mês e novamente foi colocado como o mago das finanças que fez o país crescer 10% ao ano através do logro do "Milagre Brasileiro".
Agora capricharam no foco ? Delfim está com Lula e não abre, é um desenvolvimentista nato que pretende ajudar a tirar o país das garras do FMI. E ainda deram-lhe uma colher de chá: estender-se longamente sobre a licitação para a compra dos caças da FAB.
Como estamos em ambiente onde não se prega prego sem estopa, aquilo que deveria ser um breve parênteses ganhou enorme visibilidade. Alguém está fazendo lobby e quer ganhar uma grana dos grupos que disputam a licitação. Certamente é o entrevistado que, como apreciador de Chopin, está saudoso do tempo das "polonetas". Assunto delicado, embaraçoso: Delfim menciona a Coréia do Sul e os seus negócios com a Boeing, mas em um destaque a revista refere-se à Coréia do Norte (fiel consumidora dos Mig e dos Sukhoi).
A emenda saiu pior do que o soneto. Aguardemos a errata. Ou a compensação.
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