ANÚNCIO DA TELEMAR
José Carlos Aragão (*)
Uma coisa que andei vendo nos últimos dias tem me causado surpresa e indignação. Trata-se de uma recente campanha publicitária da Oi, que está sendo veiculada na TV. Vi dois filmes da campanha e ambos são profundamente condenáveis, do ponto vista ecológico, pedagógico e ? ouso dizer ? moral.
Num, um passageiro desce de um luxuoso ônibus rodoviário e joga fora, à beira da estrada, seu aparelho celular velho. A imagem seguinte é terrível: um imenso “lixão” de celulares em meio a paisagem natural que lembra um cerrado.
No outro filme, um passageiro, dentro do mesmo ônibus, fala ao celular. A conversação é difícil, o sinal não está bom e (é o que, por fim, o comercial sugere) o celular é obsoleto. A reação do passageiro é simplesmente atirar o aparelho pela janela e pedir emprestado a outro passageiro um celular Oi.
Nos dois casos, me incomoda o exemplo dado: para se desfazer de seu lixo, jogue-o fora, não importa onde.
Não bastasse a falta de civilidade de achar que o “lado de fora” de qualquer lugar ? da casa, do carro, do ônibus, do trem ? é uma enorme lata de lixo pública, os filmes em questão referem-se a um tipo de lixo muito específico, altamente prejudicial ao meio ambiente.
Baterias de telefones celulares, todos sabemos, são ricas em metais pesados com enorme grau de contaminação do ambiente. Há até uma legislação específica ? sempre negligenciada e desrespeitada ? para a disposição final desse tipo de resíduo.
Atenção ao desserviço
Recentemente, entidades representativas da classe publicitária brasileira levaram ao Congresso Nacional propostas de auto-regulamentação para serem aplicadas à publicidade de bebidas alcoólicas. Entre as propostas apresentadas, incluem-se a proibição de uso de desenhos animados, bonecos ou outros recursos que possam eventualmente atrair a atenção de crianças; a proibição de uso de atores com menos de 25 anos ou que aparentem ter idade inferior a esta; e a restrição de apelos eróticos nas mensagens. Tudo para evitar a precocidade, entre crianças e jovens, no interesse pelo consumo de bebidas alcoólicas.
Muito nobre a preocupação da classe ? embora me pareça estar mais interessada em se antecipar aos nossos legisladores que, pressionados pela sociedade civil, poderiam impor restrições descabidas e mais duras a esse significativo e inesgotável segmento do mercado publicitário.
A despeito dessa minha cética constatação, como publicitário, prefiro crer que os profissionais de criação são capazes de driblar quaisquer limitações dessa natureza, sem se distanciarem, contudo, dos parâmetros de originalidade, ética, compromisso e ? para usar uma expressão da moda ? responsabilidade social.
Entendo, também, que o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) deveria, sem se prender a excessos e aberrações normalmente praticados por radicais patrulheiros do “politicamente correto”, ficar atento ao desserviço prestado por campanhas como a citada. Elas põem por terra grande parte do esforço de quem luta para se criar na população uma consciência ecológica e de co-responsabilidade com o planeta em que vivemos.
(*) Jornalista, publicitário e escritor