Os jornais de segunda-feira (1/9) reagem com doses desiguais de informação e cautela à revelação da revista Veja sobre a gravação de conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenos Torres.
O Globo compra inteiramente a tese de que agentes oficiais são os responsáveis pela escuta clandestina, ao afirmar, na primeira página, que o presidente do STF foi ‘grampeado pela Agência Brasileira de Inteligência, numa associação criminosa com a Polícia Federal’. O jornal joga, assim, duas instituições inteiras no meio do escândalo, sem atentar para as sutilezas do caso e para outras possibilidades.
Os outros grandes jornais de circulação nacional são mais cautelosos. Mesmo noticiando a elevação da temperatura política, com representantes da oposição voltando a levantar a bandeira do impeachment do presidente da República, a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo não apostam na hipótese de que a bisbilhotice tenha origem oficial, no comando da Abin ou da Polícia Federal.
Especulação, por enquanto
O Estadão destaca que o crime pode ter sido cometido por agentes egressos do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pelo regime militar. Segundo o jornal paulista, militares da reserva transferidos para o serviço secreto e que foram protagonistas de outra onda de arapongagem, há dez anos, costumam trabalhar de forma independente e não dar satisfação a ninguém. Eles poderiam estar por trás dos fatos, com a intenção de provocar uma crise institucional.
A Folha de S.Paulo cita a possibilidade de que os grampos também tenham sido produzidos por agentes privados. Sabe-se que pelo menos uma empresa de segurança, de origem estrangeira, tem sido contratada por empresários para atuar nos negócios, grampeando concorrentes e até candidatos a cargos importantes nas organizações.
O fato de a conversa entre o senador e o presidente do STF ter sido gravada apenas quinze dias depois da Operação Satiagraha coloca outra vez o banqueiro Daniel Dantas entre os suspeitos. Mesmo assim, tudo ainda é especulação, e o melhor que a imprensa pode fazer é divulgar todas as possibilidades. E não aceitar informação de origem duvidosa.
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