JORNALISMO & PROPAGANDA
“Informação, propaganda ou os dois?”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/11/03
“Olá, amigos. Em excelente matéria do último número da revista Carta Capital, escrita por Maurício Stycer, foram postas em confronto duas posições totalmente antagônicas no atual jornalismo esportivo: informação versus propaganda. Essa ?briga? vem sendo disputada há muito tempo, e com alguns capítulos bastante acalorados entre alguns dos principais apresentadores nacionais.
Não é de hoje que Juca Kfouri e Milton Neves trocam farpas publicamente, ou que se critica publicamente o estilo comercial de se fazer programas esportivos na TV e no rádio. O excesso de merchandising nos programas acabou chamando a atenção do grande público e dos colegas jornalistas. Alguns criticam veementemente o excesso de comerciais em detrimento da informação esportiva, que é, teoricamente, o mote principal de qualquer resenha esportiva.
Fazendo uma análise geral, as resenhas das TVs abertas não escapam à fórmula da inserção de comerciais a qualquer momento, chegando mesmo a interromper uma notícia ou um comentário. A matéria da Carta Capital cita o ?Terceiro Tempo?, de Milton Neves, como exemplo de como vêm sendo pulverizados comerciais entre as atrações esportivas. Já nas TVs por assinatura a coisa é bem menos caracterizada. Os programas ?Arena SporTV?, ?Bem, amigos? e ?Bate Bola – Mesa Redonda? não fazem uso desse expediente. Os programas da ESPN Internacional se utilizam de sessões patrocinadas para inserir seus anunciantes de forma a não prejudicar a fluência das informações esportivas.
A meu ver há mesmo um exagero nas inserções comerciais das resenhas esportivas. Não faço parte do time dos que acham que não deve haver nenhuma propaganda. O argumento de quem pensa dessa forma é a possibilidade de descrédito por parte do jornalista que, eventualmente, associar seu nome a um determinado produto ou empresa, o que comprometeria a isenção da informação veiculada caso esta fosse relacionada ao produto, ou a algum time patrocinado pela empresa anunciada. Claro, há uma lógica e um embasamento neste raciocínio.
Mas a propaganda é hoje o trem-pagador de qualquer atração de TV ou rádio. Não há como escapar, já que os custos de um programa de TV, seja em qual emissora for, são altos e constantes. Portanto, o correto não é banir a propaganda, mas sim estudar-se uma forma de tê-la sem que a imagem de um âncora ou jornalista esteja veiculada diretamente ao produto.
O que ocorre hoje é o exagero, que primeiramente acometeu o rádio, chegando à TV. Esse exagero ajudou a sucatear os programas de rádio, e tornou seus profissionais estigmatizados por associar-se a todos eles a imagem que alguns têm, de aceitarem o popular ?jabá? em troca de divulgação de produtos ou empresas (restaurantes, empresas de táxi etc…).
Concluindo: uma solução possível é a integração da propaganda aos programas, e não aos profissionais de jornalismo. Isso tornaria o anúncio e o programa isentos, evitaria a transformação de apresentadores em camelôs da telinha ou da latinha e contribuiria para a elevação da quantidade e do nível da informação passada aos fãs do esporte.
******
Como todo jornalista esportivo, tenho meus arquivos de textos e imagens. São livros e fitas de vídeo sobre tudo que eu posso ter, para me instruir e utilizar em casos de dúvida sobre determinado esporte, evento ou time. Nesse fim de semana me deliciei assitindo à final do Mundial Interclubes de 1981, entre Flamengo e Liverpool. Vi a partida inteira, e fiquei impressionado com o progresso técnico daquele ano para os dias de hoje. A geração de caracteres, a qualidade do áudio, os replays de diversos ângulos e, principalmente, a qualidade da imagem e o preparo dos profissionais que conduziam a transmissão.
Fiquei impressionadíssimo com a quantidade de tempo que as câmeras colocadas em helicópteros ou na parte superior do estádio eram utilizadas. Às vezes ficava-se três ou quatro minutos transmitindo a partida apenas dessas câmeras. Se fosse hoje, a emissora responsável pela geração de imagens seria depredada sem dó nem piedade.
Outra diferença era a inexistência de repórteres de campo ou de qualquer reportagem da TV Globo no local. Galvão Bueno narrou a partida, que teve os comentários de Gérson, e fez também, durante a semana, as reportagens diretamente de Tóquio. O tom dado era de ?as aventuras de um time brasileiro que encantou japoneses e europeus?. Muito interessante ver como as coisas eram feitas e o quanto elas mudaram de ontem para hoje.
Por fim, achei curioso ver os radialistas cariocas Deny Menezes (ainda com cabelos escuros) e Kléber Leite (futuramente presidente do Flamengo) no campo, entrevistando os jogadores para as suas respectivas rádios.
Enfim, foi uma experiência interessante.”
“Jornalista vai acabar virando palavra feia”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 17/11/03
“A revista Carta Capital publicou (semana 08 a 15/11) reportagem e debate sobre a aceitação da prática do merchandising no jornalismo esportivo de televisão. Juca Kfouri, Armando Nogueira, José Trajano, Kajuru e Heródoto Barbeiro condenaram a prática com a maior veemência. Milton Neves, Avalone e outros argumentam que nada vêem de errado nisso e que as dificuldades vividas pela mídia brasileira impõem que apresentadores e comentaristas de programas esportivos AJUDEM suas empresas incluindo em seu trabalho jornalístico o endosso de produtos patrocinadores.
Essa matéria deveria ser lida por todos os profissionais de imprensa, bem como professores e estudantes de comunicação. Trata-se de uma discussão inconcebível em alguns países, como Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo. Os defensores da inclusão do merchandising em seu trabalho na TV e no rádio não poderiam sequer se apresentar como jornalistas por decisão dos sindicatos ou dos conselhos de ética profissional. Mas aqui eles têm o apoio explícito dos dirigentes de suas emissoras (Rede TV!, Bandeirantes, Gazeta), o que também seria inadmissível nesses dois países e em muitos outros.
Aqui temos uma lei de concessões (que foi imaginada para não permitir isso), um Conselho de Comunicação (que nada falou sobre o tema até agora), uma auto-regulamentação da ABERT (que claramente condena essa prática mas nem piou) e uma estrutura sindical dos profissionais de imprensa, que já deveria pelo menos ter começado uma discussão sobre o assunto.
E, se um jornalista esportivo pode receber dinheiro para recomendar uma marca de cerveja ou garantir que um comprimido realmente acaba com o resfriado, por que ele também não deve aceitar AJUDA de dirigentes de clubes, empresários ou mesmo jogadores?
******
No próximo dia 30 de novembro será lançado PANORAMA, novo diário em Juiz de Fora, Minas Gerais. Seu diretor de redação é Fritz Utzeri, com longa e competente carreira no Jornal do Brasil – repórter, correspondente em Nova York e Paris, editor-chefe, colunista – além de temporadas na Rede Globo e no Globo. Na direção de arte está Ivanir Yazbek, que também trabalhou muitos anos no JB e no Globo, e, meio desiludido do jornalismo, havia preferido um outro tipo de vida na Juiz de Fora de sua infância.
Todos os profissionais do jornal foram recrutados na cidade, que vive um clima de alegre e carinhosa expectativa por esse fato raro no Brasil de hoje: um novo jornal (já existem dois em Juiz de Fora).
Omar Peres é o dono aparente do jornal e da TV local (vendida pela Rede Globo em seu esforço de fazer caixa para reduzir os problemas financeiros). Digo aparente porque é bastante difundida a versão de que o ex-presidente Itamar Franco e seu grupo político em Juiz de Fora apóiam Peres, que foi secretário de Indústria e Comércio de Minas, no governo Itamar.”