Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marina Machado

DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA

“A mídia em xeque-mate”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 12/11/03

“A Jornada pela Democratização da Mídia realizou um ato nesta terça-feira, 11 de novembro no teatro Tuca, da Puc de São Paulo. O evento, idealizado por grupos como MST, UNE,CUT e Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social), vem debater a necessidade do fortalecimento de uma comunicação mais democrática no Brasil, denunciando as freqüentes tentativas de criminalização das lutas populares.

Jornalistas de várias áreas e países compareceram ao ato para, em alguns minutos, discorrer sobre o assunto em pauta. José Arbex Júnior, da revista Caros Amigos, Laurindo Leal Filho, jornalista e membro da ONG Tver, Ali Kamal, representante da Juventude Árabe para a América Latina, Sérgio Suiama, procurador da República, João Pedro Stédile, do MST, Pedro Malavolta, da Enecos, um representante do Ministério das Comunicações, uma jornalista de Cuba e uma representante da UNE, preencheram a mesa de palestrantes. A presença do jornalista americano Norman Solomon não veio acrescentar muito já que não pôde ficar durante as outras apresentações e voltou para os Estados Unidos.

Contudo, Solomon criticou seu país de origem denunciando o descaso americano para com a população iraquiana. Ele se encontrava na região durante a guerra e como jornalista e autor do livro ?O Iraque na mira: o que a mídia não conta?, relembrou a destruição da sociedade iraquiana enquanto eram salvos os poços de petróleo.

Cada palestrante abordou um ponto chave do que chamaram de criminalização da mídia.

A jornalista cubana ressaltou o ?terrorismo midiático? que é focado em Cuba, Colômbia e Palestina. Ela insistiu na falta de cobertura e análise por parte dos jornalistas que, aceitando a versão americana, continuam condenando Cuba por atos que não são tão simples de se julgar. Ela se referia ao caso dos três dissidentes que foram sentenciados à morte, mas de acordo com ela, eram terroristas de uma lista de sete seqüestros de navios que precisavam ser parados.

Ela, fervorosamente, denunciou a máfia cubana de dissidentes em Miami ligados ao presidente George W. Bush e seu irmão, governador da Flórida, Estado que permitiu a vitória na eleição do atual presidente.

Como cada um geralmente defende o seu, o representante da Juventude Palestina na América Latina, Ali Kamal, também questionou a cobertura da imprensa mundial. Kamal argumentou que não se mostram imagens de ataques israelenses ao povo palestino, que a sociedade cria conceitos errados através dessas imagens e questionou se as pessoas realmente sabem o que está acontecendo por lá. Terminou o discurso com a frase ?Viva a Intifada e viva o Brasil?.

Interessante mesmo foram os comentários do Sr. Márcio que representava o Ministério das Comunicações, do Laurindo Leal e do procurador da justiça. Márcio lembrou a todos os presentes na platéia que a privatização das mídias é uma herança de governos anteriores e levantou três frentes do governo atual para a área da comunicação:

1- Universalização das telecomunicações – até o fim do ano teremos, segundo ele, um ?chamamento público? sobre as rádios comunitárias e a criação de um site onde, via Internet, interessados poderão se cadastrar com um pedido para a criação da rádio em sua região e mandarão via correio os seus documentos. Márcio enfatizou que o processo de análise do pedido deve levar poucas semanas.

2- Código de Ética da Televisão ressaltando pontos específicos a serem trabalhados como: isenção, pluralidade, direito de resposta, compromisso com a paz, com diferenças étnicas etc.

3- Padrão Brasileiro de TV Digital, onde o governo acredita poder oferecer em 12 meses uma TV Digital e gratuita, terminando a discussão sobre que sistema teríamos de utilizar, o japonês, americano, etc, e introduzindo no país uma opção onde a população terá acesso à programas de melhor qualidade.

Laurindo Leal atingiu o ápice do ato quando discorreu sobre a questão das concessões públicas. ?Quando começam e acabam as concessões? Quais são as fórmulas de programação que serão colocadas no ar? A TV não é dádiva, é direito do cidadão e ele tem que saber esses dados básico?. ?Impor limites não é censura, todos os países democráticos têm um controle de Rádio e TV, são concessionárias públicas e a sociedade tem condições de exigir qualidade?- argumentos utilizados pelo jornalista para evidenciar o controle que é dado para os meios da mídia, em especial a TV, onde ?o governo tem que ser controlado por todos, mas a TV não?.

O procurador da República, Sérgio Suiama, abordou a liberdade de expressão, tão cara aos jornalistas. Alegando que liberdade de expressão só é dada aos ?detentores do monopólio dos meios de comunicação?, ele reclama a violação dos direitos humanos fundamentais. De acordo com Suiama, o jornalismo e a TV, ferem a privacidade dos cidadãos, não aceitam a existência de inocentes em casos de polícia e insistem no sensacionalismo.

O procurador dá algumas opções para a Jornada da Democratização da Mídia. Uma delas é o direito coletivo de resposta, onde grupos que se sintam lesados, podem entrar com um pedido junto Ministério Público ou mesmo ONGs para obter um espaço equivalente e no mesmo horário da veiculação do material que supostamente os agrediu.

Suiama exemplifica citando o programa da Rede Globo, Zorra Total, onde em um quadro semanal um pai e seu filho gay fazem uma cena que sempre termina no pai olhando para a câmera e dizendo: onde foi que eu errei? De acordo com ele, semanalmente, a sociedade gay vem sendo colocada como algo errado e poderia entrar com um pedido de resposta coletiva. Para ele isso não é censura, mas sim, dar liberdade de expressão para aqueles que não são donos dos meios de comunicação.

Por fim, o jornalista José Arbex Jr. acabou lançando uma campanha contra a revista Veja com o slogan ?Veja que mentira?. Segundo Arbex, as entidades ali presentes consideram a Veja um expoente de autoritarismo contra movimentos sociais. ?Ela é brutal, violenta, racista e desrespeita o indivíduo?. E exatamente por ser a revista de maior alcance no Brasil, ?peitá-la? mostrará aos outros grupos que devem respeito aos movimentos.

Os movimentos sociais apareceram em quase todos os discursos. Laurindo Leal reclamou a falta de Direito de Antena dos movimentos. Atualmente o Direito de Antena é dado para partidos políticos somente.

Ficou clara a posição dos palestrantes sendo consenso, a necessidade de mudanças na cobertura nacional jornalística e uma melhora significativa na apuração e análise dos acontecimentos.

Sem falar no ponto principal do ato, a rápida necessidade de se dar espaço aos movimentos sociais para que possam esclarecer o que, de acordo com a Jornada, é falsamente ou criminosamente divulgado pelos meios de comunicação.

(As revistas Caros Amigos, Sem Fronteiras e Fórum, os jornais Brasil de Fato, Correio da Cidadania e Unidade, e os sites Vermelho e Porto Alegre 2003 apóiam a jornada)

* Apresentadora Jornal Notícias Online da Alltv”

“Sociedade e mídia assumem debate por nova comunicação”, copyright Agência Carta Maior e Agência Ciranda Brasil (www.agenciacartamaior.com.br), 11/11/03

“Reunidos no Fórum Social Brasileiro, veículos e entidades civis articulam-se para fortalecer a discussão sobre uma Comunicação mais democrática no Brasil

Manipulação, omissão, mentira, monopólios. Economia? Não, Comunicação. Essa atividade simples, inerente ao ser humano, que trata da forma como pessoas trocam informações, e que adquire dimensão gigantesca quando se trata de jornais de centenas de milhares de exemplares e de canais de televisão que chegam a milhões de casas. Violação de privacidade, caso Gugu / PCC são alguns dos melhores – ou piores – exemplos do que a mídia pode oferecer. Para discutir os problemas da comunicação brasileira, organizações da sociedade civil e veículos de comunicação se encontraram em Belo Horizonte, durante o I Fórum Social Brasileiro (FSB).

O momento foi propício. Além de uma grave crise de credibilidade e qualidade de toda a grande mídia, a crise financeira atinge a todos os grandes veículos. Tão grave é a situação que empresas de mídia como as Organizações Globo, a Editora Abril e o SBT já pedem auxílio governamental, através de recursos do BNDES. A possível ajuda dos cofres públicos para os grandes veículos de comunicação em massa já foi apelidada de ?Promídia?, em referência ao Proer, o programa de auxílio aos bancos feito no governo FHC.

Reunidas no FSB, entidades como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), veículos como o jornal Brasil de Fato e a revista Caros Amigos e movimentos sociais como o MST afinal descobriram uma pauta comum: o direito à Comunicação como um direito humano, universal e inseparável de todos aqueles tão falados atualmente. Entre as pautas discutidas por este ?movimento de movimentos? estão a democratização da comunicação, o combate aos monopólios da mídia, o fim da criminalização dos movimentos sociais, inclusão digital e software livre.

Por um outro jornalismo

O debate ?Por um Outro Jornalismo: desafios da imprensa crítica no Brasil hoje?, organizado pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social e pelas editoras da Fundação Perseu Abramo e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) foi um espaço marcado por intensa articulação e resultados surpreendentes.

Numa mesma mesa, reuniu Marina Amaral, da revista Caros Amigos; Bernadete Toneto, do Jornal Brasil de Fato; Raimundo Pereira, da revista Reportagem; Plínio Arruda Sampaio, do Correio da Cidadania; Antônio Martins, do Portal Porto Alegre 2003; Renato Rovai, da Revista Fórum; Edvar Bonotto da Revista Princípios; e Bernardo Kucinski, jornalista e assessor da Secom.

Em meio a vários desafios, reflexões, dificuldades, demandas e possibilidades apresentadas pelos jornalistas e pelo público presente – mais de 150 pessoas – os veículos assumiram o compromisso de buscar um trabalho conjunto visando ao fortalecimento do segmento e de cada um dos meios presentes.

Na opinião de Raimundo Pereira, ?precisamos de muita ação, de muita união. E nesse sentido essa iniciativa de articulação é uma vitória, um caminho que devemos seguir.?

Além de assumirem de forma entusiasmada a possibilidade de articulação em termos de conteúdo, logístico e publicitário, os veículos que compunham a mesa chegaram a outro consenso: buscar uma consolidação política do setor dos veículos de comunicação crítica. ?Os veículos progressistas devem formar uma rede não para se fundir, mas para disputar meios, idéias e corações. Queremos que o povo entenda o que é uma sociedade democrática? pois, do outro lado, a mídia tradicional, diariamente, ?vicia e acostuma o leitor, batendo com suas idéias diariamente na cabeça das pessoas?, disse o jornalista Plínio de Arruda Sampaio.

Os veículos progressistas presentes ao debate já deram um primeiro passo para essa disputa. Vão enviar uma carta pública ao presidente Lula, ao Ministério das Telecomunicações e demais ministérios envolvidos com a área, assim como à presidência do BNDES, questionando a possibilidade de o governo elaborar um programa de refinanciamento das dívidas das grandes empresas de comunicação da mídia. Para Plínio de Arruda Sampaio, ?a operação de apoio à mídia – que ainda não vi discutida de forma aberta no governo e no PT – é um belo ponto para iniciarmos esse trabalho conjunto.?

Deverão ser convidados a participar dessa ação outros veículos de todo o Brasil que não puderam estar presentes, como OPasquim21, Carta Capital, e Centro de Mídia Independente, assim como diversas entidades e movimentos sociais, como o FNDC e a Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social). Em debate realizado pelo Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) proposta semelhante foi apresentada, e o FNDC deve encaminhar sua efetivação.

O Promídia tem sido defendido de forma organizada e pública pelas entidades representativas da grande mídia. Já o governo assume que se trata de uma questão de Estado, mas não algo a ser tratado de forma pública. É justamente o que os veículos de presentes ao debate ?Por um outro Jornalismo? pretendem, assim como o FNDC: irão afirmar ao governo federal a necessidade de que o tema seja tratado de forma pública, com os critérios apresentados de forma transparente, e, ainda, quais as contrapartidas que entendem ser necessárias no caso do apoio realmente se efetivar. Contrapartidas que vão de medidas buscando a democratização dos próprios grandes meios e outras que possibilitem um fortalecimento de outros meios e, conseqüentemente, a democratização da mídia em geral.

Jornada

Outro importante evento no campo da comunicação realizado durante o Fórum Social Brasileiro foi o lançamento da Jornada Pela Democratização da Mídia. A Jornada foi concebida inicialmente por MST, UNE, CUT e Rede Social de Direitos Humanos, e tem por objetivo denunciar a criminalização e os ataques realizados pela grande mídia aos movimentos sociais. Além de buscar fazer frente a essa atitude da imprensa grande, a Jornada pretende promover um debate na sociedade a respeito do papel da comunicação e sobre a necessidade de democratização do setor.

O ato em Belo Horizonte foi mediado pelo jornalista José Arbex Jr., da Caros Amigos e Brasil de Fato, e contou com presença de representantes das entidades organizadoras, além de convidados internacionais – Norman Solomon, dos EUA, Aixa Gonsalez, de Cuba, Ali Nakhlawi, da Palestina -, que explicaram como a imprensa se comporta em seus países em relação aos movimentos sociais, traçando paralelos com o Brasil.

No ato do Fórum, realizado no ginásio do Mineirinho, Arbex apresentou a campanha ?Veja! Que mentira!?, que irá utilizar a revista da editora Abril como símbolo dos ataques realizadas pela grande mídia aos movimentos, buscando com isso divulgar e ampliar o alcance da Jornada Pela Democratização da Mídia. Segundo Arbex, a Jornada busca ?denunciar e conscientizar a respeito do papel negativo prestado pela revista Veja à sociedade brasileira.? Os organizadores pretendem ainda que a campanha provoque uma queda no número de assinantes da revista, inspirados no que ocorreu com o jornal gaúcho Zero Hora, alvo da campanha ?Zero Fora.? Além do evento em Belo Horizonte, atos da Jornada ocorrem no Rio e em São Paulo (veja quadro), apoiados por inúmeras entidades e veículos de comunicação crítica. Uma tentativa, mais do que tudo, de espalhar o debate da Comunicação por todo o país.”

 

JORNAIS SEM LEITORES

“Milhões de leitores sem jornal”, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 12/11/03

“O privilégio do convite da Associação dos Diários do Interior (ADI) para palestra para cerca de 40 diretores de jornais de cidades fluminenses levou-me a Cabo Frio, no último sábado, e à rara e rica oportunidade de uma conversa com os abnegados confrades que travam a brava e áspera luta para manter acesa a chama da indispensável imprensa municipal, numa fase de notórias dificuldades das grandes empresas, mergulhadas nas águas turvas da crise nacional.

Se as aperturas são aparentadas, a família não é unida nem solidária no sufoco das dívidas e do encolhimento dos anunciantes, atolados em juros estratosféricos.

A cada um, a sua cota de privações e o desafio de dar a volta por cima ou pular a fogueira, com as algemas das perplexidades diante do enigma de contradições. A análise objetiva, sem passionalismo, esbarra em mais incoerências do que as que fraturam o governo às vésperas do primeiro aniversário do mandato de quatro anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Remexendo na memória de meio século de atividade profissional, enrolo-me na constatação da charada, sem a minúcia de dados exatos: à medida que a população do país disparou e que a cambalhota da maior migração interna do século que ainda não terminou inverteu a pirâmide, com o inchaço das cidades e a fuga em massa do interior para a ilusão da facilidade de emprego nas metrópoles, o número de jornais e revistas, ao invés de acompanhar os índices do deslocamento de milhões da área rural, encolheu.

O Rio chegou a ter o exagero de 17 jornais diários, entre matutinos e vespertinos, divisão que o engarrafamento urbano e a mudança de hábitos da sociedade liquidou, juntando todos na mesma faixa da briga pelo eleitor desde a alvorada. O jornal da tarde, para a leitura no bonde e no ônibus, com a comodidade de lugares nos bancos ou no equilíbrio dos balaústres, na volta para casa, morreu com tiro certeiro da lógica empresarial. Os noticiários das redes de TV, dispensando o hábito da leitura, suprem a modesta curiosidade dos telespectadores, enquanto esperam o capítulo da novela. Das novelas que se sucedem até a última gota do horário nobre.

Mas a análise superficial não responde inteiramente à bisbilhotice. De quase duas dezenas, para ficar no exemplo do Rio, veio a redução para cerca de meia dúzia no massacre dos erros e deslumbramentos de empresários que apostaram no milagre econômico e se encalacraram em dólares para a construção de prédios suntuosos, muitos fechados, entregues à destruição implacável do tempo. E se as tiragens dos que se safaram do dilúvio aumentaram, estão a léguas de distância dos índices de crescimento populacional.

O que lêem os milhões que abandonaram a roça e se espalham pelos subúrbios, pelos bairros de classe média ou se espremem nas favelas? Os chamados jornais populares, com o preço de exemplar raspando no custo, apelam para os truques de sedução dos sorteios de prêmios, desde a casa própria aos automóveis, motos, televisões, geladeiras, liquidificadores e as miudezas de consolação.

Somem tudo e anda faltam milhões. Descontem os analfabetos, os semi-alfabetizados e faltam milhões: nas capitais, nas grandes cidades, nos municípios médios e pequenos.

A televisão descobriu o mapa da mina com a distribuição das faixas de horário, seguindo o conselho das pesquisas. As tardes e os sábados e domingos, com as exceções de praxe, são reservadas ao noticiário policial, com a sofisticação de helicópteros para a cobertura de crimes, quanto mais hediondos melhor; estupros, taras, seqüestros, desastres com vítimas, exibidas no local, nas poças de sangue e no corpo mutilado. Com o tempero apimentado do sexo na variedade das aberrações.

Ainda faltam milhões. As revistas semanais encontraram seus leitores com a oferta da síntese dos sete dias, em matérias interpretativas que buscam obturar os buracos da superficialidade das informações do dia-a-dia.

Continuam faltando milhões: os marginalizados que a imprensa não conseguiu atrair pelas muitas razões coletivas e os motivos de cada um. A pesquisa não chegou lá.

Salta a evidência de que os jornais desperdiçam toneladas de papel com coberturas exageradas. Na minha área política chegam ao exagero perdulário de rasgar dinheiro. Na rotina medíocre da política nacional, com o governo perdido em hesitações, o Congresso batendo os seus recordes de rejeição popular, os partidos desmoralizados com as barganhas e as trocas de legenda, nada justifica encher páginas com entrevistas da meia dúzia dos falantes de plantão para dizer as mesmas coisas sobre coisa nenhuma. Perdeu-se a noção do que é notícia e do que é o óbvio da antinotícia.

O diagnóstico vale para a orgulhosa imprensa das grandes capitais, para os jornais estaduais e para os municipais. A soberba das empresas que desprezam o jornal e cuidam do negócio impõe horário maluco de fechamento, fecha sucursais, economiza na folha de pagamento dos repórteres. E esquece de perguntar ao leitor potencial o que eles gostariam de ler, quais os assuntos que o interessam, quais são os seus problemas nas angústias de cada dia.

Conversa de veteranos, prosa de sábado na bela, limpa e cuidada Cabo Frio, da deslumbrante faixa litorânea regada com os royalties do petróleo da Bacia de Campos.”