Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cassiano Elek Machado

HISTÓRIA EM REVISTAS

“Biblioteca Nacional passa história do país em revista”, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/03

“Com 193 anos, a Biblioteca Nacional vive amanhã uma tarde de debutante. A instituição cultural mais antiga do país lança em sua sede, no Rio, a primeira publicação ?de massa? de sua história. De sua história e da nossa também.

Batizada de ?Nossa História?, a primeira revista vendida em bancas da Biblioteca Nacional é também pioneira em seu gênero. Pela primeira vez o público não acadêmico nacional terá uma publicação mensal de qualidade só sobre a história brasileira.

Como ?âncoras? dessa qualidade, a revista tem em seu conselho editorial alguns dos principais historiadores do país, entre eles Evaldo Cabral de Mello, José Murilo de Carvalho, Laura de Mello e Souza, Ronaldo Vainfas e Lilia Moritz Schwarcz.

O ?dream team? foi reunido pelo idealizador do projeto, Pedro Corrêa do Lago, presidente da Fundação Biblioteca Nacional desde o começo do ano.

Os ?conselheiros? da revista não cederam apenas as grifes. O primeiro número tem como ensaio de capa um texto de Vainfas, sobre ?Sexo e Transgressão nos Tempos Coloniais?, um artigo de Murilo de Carvalho, uma entrevista com Cabral de Mello.

Corrêa do Lago também não ficou só no expediente. ?Fiz de tudo. Revisei artigos, adicionei informações que achei importantes, sugeri iconografia?, conta.

As ilustrações, aliás, são um dos ?xodós? da revista. Com projeto gráfico do premiado Victor Burton, a publicação trabalha com a preciosa iconografia do acervo da própria Biblioteca Nacional.

O primeiro número tem, por exemplo, a reprodução do decreto sancionado pela princesa Isabel que estabelece: ?É declarada extinta, desde a data desta lei, a escravidão no Brasil?.

Professor de história da Universidade Federal Fluminense, o editor da revista, Luciano Figueiredo, diz que essa seção, que discute um documento do acervo da BN, será fixa, assim como os segmentos ?Quem?, artigo sobre um personagem da história (no caso dom João 6?), ?Olhares?, análise de alguma obra de arte (desta vez ?A Primeira Missa?, de Vitor Meirelles, por Jorge Coli) e ?Letras e Escritas?, sobre literatura.

Todos os números da ?Nossa História? também trazem uma entrevista com um historiador de peso, uma agenda dos eventos do mês e uma área de variedades, ?Almanaque?, que tem como destaque o jogo ?Decifre se For Capaz?, em que o leitor é desafiado a entender a caligrafia de algum manuscrito antigo.

Colecionador de revistas de história de outros países há mais de 15 anos, Figueiredo afirma que vê como modelo internacional mais próximo da publicação da Biblioteca Nacional a revista ?History?, da rede de TV inglesa BBC.

Assim como ela, ?Nossa História? é feita por historiadores, mas flerta com a linguagem jornalística ou híbrida dos dois, como nos trabalhos de Eduardo Bueno (que assina um artigo na revista).

?O sucesso de Bueno foi uma das provas para nós que existe no país um público razoável interessado na história brasileira?, expressa Corrêa do Lago.

O dirigente aposta em um público em torno de 50 mil, tiragem inicial de ?Nossa História?, que será distribuída no país inteiro. ?O objetivo do projeto é colaborar para que a Biblioteca reassuma seu papel no cenário cultural de todo o país?, completa.

Para Evaldo Cabral de Mello, essa atuação da revista deverá ser decisiva para combater ?a amnésia que o Brasil sofre de seu passado?. ?Esperamos que desperte o brasileiro da letargia histórica na qual está metido?, afirma.”

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“Mais globalizada, ?prima? divide as prateleiras”, copyright Folha de S. Paulo, 17/11/03

“?Nossa História? não ficará solitária nas bancas de jornais. Ela vai dividir prateleiras com duas outras publicações voltadas para a história, uma delas lançada na semana passada.

?História Viva?, da editora Duetto, está chegando ao mercado com proposta mais ?globalizada? do que a concorrente da Biblioteca Nacional.

O principal trunfo da publicação, que estréia com Napoleão Bonaparte na capa, é a parceria com a quase centenária revista francesa ?Historia?.

Segundo o diretor da ?História Viva?, Alfredo Nastari, a publicação de Paris fornecerá exatos 50% do conteúdo da revista brasileira. ?Não tinha sentido produzirmos no Brasil matérias sobre Napoleão ou Segunda Guerra?, afirma.

Pela linha editorial, que inclui história mundial, concorrerá com ?Aventuras na História?, publicação ligada à ?Superinteressante? (Abril), no terceiro número. ?Não buscamos o ?superinteressante?, mas o relevante da história?, diz Nastari, sobre a concorrente.”

 

LÍNGUA PORTUGUESA

“Erros De Raciocínio E De Expressão”, copyright Jornal do Brasil, 17/11/03

“?A mão que afaga é a mesma que apedreja?. ?O beijo, amigo, é a véspera do escarro?. Estes são versos de Augusto dos Anjos. Os nonagenários podem utilizá-los como epígrafes da semana passada.

Nossas autoridades proclamam com insistência e orgulho que estão honrando os pagamentos da dívida externa. Não solicitaram auditoria e nem recadastramento de conta nenhuma. São quantias astronômicas que, somadas aos juros alarmantes, elevam os pagamentos à estratosfera. Mas o que foi acordado, vem sendo fielmente cumprido. Afagos e beijos para credores tão felizardos.

Sobraram, porém, pedradas e escarros a outros credores, quase indefesos. São os nonagenários, pessoas que sobreviveram a muitos governos e ministros. Nenhum dos anteriores tinha tido, entretanto, a arrogância de suspender os pagamentos mensais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), um direito adquirido, porque pago previamente. O Estado tem a obrigação de pagar aos anciães uma quantia que eles já recolheram aos cofres públicos durante a vida inteira. Quando sacam os benefícios mensais, sacam o que é deles. Não é do Estado. O Estado é apenas o intermediário.

Suspeitos de fraude, os velhinhos tiveram que enfrentar a arrogância do ministro da Previdência. Muito imprevidente, o sátrapa ainda tripudiou em entrevista transmitida pela televisão: não tinha por quê pedir desculpas.

É verdade que, chamado às falas, antes que anoitecesse, bem antes de o galo cantar três vezes, já tinha mudado de idéia e pedia clemência àqueles que ofendera. Mas ele e outros asseclas perseveraram no erro quando disseram que a intenção tinha sido boa e que houvera apenas ?erro operacional?.

As trapalhadas do ministro da Previdência e de outras autoridades, que incorrem com freqüência em erros de raciocínio danosos aos cidadãos, trouxeram-me à lembrança alguns velhinhos a quem o Brasil deve muito porque souberam ensinar a várias gerações a arte de escrever. Um deles é Othon Moacyr Garcia, autor de Comunicação em Prosa Moderna (Editora FGV). Professores como ele não se limitam a reiterar regras e prescrições gramaticais. Esmeram-se em ensinar a ouvir, a falar, a ler e a escrever.

Na seção ?Eficácia e falácias do raciocínio?, ensina o professor: ?distinga o que é fato do que &eeacute; inferência; mas, antes lembre-se de que fato é coisa feita, provada, verificada, testada, ao passo que inferência é a dedução pelo raciocínio, dedução baseada apenas em indícios, e não em fatos. Inferência é opinião?.

Manda, então, distinguir fatos e inferência de exemplos como estes: ?Joaquim Carapuça entrou numa casa de móveis para comprar um berço: seu primeiro filho já deve ter nascido?. ?Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 1839?.

Em ?Identificação de Sofismas?, encontramos, entre vários exemplos, este: ?Joaquim Carapuça devia a um colega vinte mil reais. Quando se viu sem dinheiro, pediu ao devedor que lhe pagasse a dívida. Joaquim Carapuça, em vez de pagar, saiu-se com esta resposta: – Não pago. Se você fosse mais previdente, mais metódico nas suas finanças, não estaria agora precisando de dinheiro?.

O professor ordena: ?Identifique os sofismas, numerando a primeira coluna de acordo com a segunda?. Na segunda, encontramos: ?(1) Generalização falsa porque baseada em enumeração incompleta ou imperfeita. (2) Ignorância da questão. (3) Sofisma do tipo non sequitur. (4) Petição de Princípio. (5) Falsa analogia. (6) Falsa causa (post hoc, ergo propter hoc)?.

Os leitores podem examinar a confusão da Previdência à luz desses ensinamentos. Mas podem contar somente com o livro. O autor faleceu em 2002, aos 90 anos. Somente por isso escapou à recente humilhação imposta aos outros nonagenários.”

 

JORNAL DA IMPRENÇA

“Competência é isso!”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/11/03

“Amigo do nosso considerado leitor José Roberto requisitou recentemente uma linha telefônica para uma empresa com nome algo incomum: ENGINE. Para facilitar a vida da atendente da Telefônica, o requisitante soletrou o nome da empresa.

Pois saiu no boletim de serviço da atendente a seguinte preciosidade da competência administrativa nacional: ?Endereço para Devolução – Superintendência de Suporte a Clientes. CDD Vila Prudente, Rua Ibitirama (…) CEP: 03133-100. Parque Vila Prudente – São Paulo. Destinatário: ENGINE ESCOLA NAVIO GATO IGREJA NAVIO ESCOLA.?

Janistraquis adorou e acha que a atendente deveria ser contratada, sem demora ou tergiversações, para assessorar o ministro Ricardo Berzoini: ?Considerado, com essa criatividade a moça saberia direitinho o que fazer com os aposentados e pensionistas maiores de noventa anos?.

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Flamenguistas & democratas

Deu na coluna do nosso considerado Ricardo Boechat: ?O Vasco fará, em sua sede, um ato em memória de Rachel de Queirós. Levará a cabo, assim, a homenagem que pretendeu fazer no enterro da ilustre torcedora.

Na ocasião, segundo revelou o colunista Fred Sutter, do Jornal do Commercio, os netos rubronegros da escritora impediram que o caixão da avó fosse coberto com a bandeira cruzmaltina.?

Boquiaberto e revoltado, Janistraquis meneou a encanecida fronte: ?Considerado, quando a gente diz que a democracia brasileira é um lixo, nem imagina o que se passa na cabeça dos democratas brasileiros e na de alguns torcedores do Flamengo?.

Meu secretário acha que devemos arquivar a notícia, tomar boa nota do incidente, delegar poderes às gerações mais novas e, quando os netos de Rachel morrerem, seus caixões deverão ser cobertos pelas bandeiras do Flamengo e do PCC, o qual, como todos esperamos, será um partido político importante neste país. É bem pensado, é bem pensado.

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Gilberto Dimenstein

Nossos arquivos andam tão desorganizados quanto os da Previdência Social, de modo que de vez em quando Janistraquis encontra alguma colaboração meio perdida entre amarelecidos papéis, como esta enviada pelo considerado leitor João Hélio no ultra passado mês de março:

?Acabo de ouvir (às 9h10), na CBN, boletim sobre a cidade de São Paulo, produzido e narrado pelo festejado Gilberto Dimenstein. Com sua voz relaxada e que baixa de tom à medida que as palavras fluem, ensinou mais ou menos assim: ?O nome da Avenida 23 de Maio comemora a morte de estudantes da Faculdade São Francisco durante a Revolução de 32?. Se ele é paulista, deve torcer para o outro lado…?

Pois é, João Hélio, alguns gramáticos acham, por exemplo, que comemorar e celebrar dividem o mesmo camarote da Marquês de Sapucaí, porém a gente não concorda; afinal, o verbo comemorar está indelevelmente abraçado às carnavalescas alegrias desta vida. Não se comemora a morte de alguém, a menos que esse alguém seja um bandido irrecuperável para a democracia.

(Obs.: Nosso considerado Dimenstein, vítima da tal ?voz relaxada? que João Hélio denuncia, não disse, certamente, que os estudantes morreram ?durante a Revolução de 32?. A morte dos quatro [Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, sobrenomes que geraram a sigla MMDC], ocorrida em maio de 32, foi uma espécie de estopim do movimento iniciado em 9 de julho.)

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É melhor esquecer

Nosso diretor em Brasília, Roldão Simas Filho, leu no Correio Braziliense do último domingo, 9 de novembro, à página 6, editoria de Política, matéria na qual Itamar Franco é descrito como Barbudo, zen e casado em Roma.

Até aí tudo bem, porque casamento e zen-budismo estão cada vez mais na moda, sem falar na barba, cuja inspiração vem da própria Presidência. Roldão notou, porém, uma dolorosa omissão e escreveu à direção do jornal:

?A reportagem, escrita por jornalista mineira, identifica Itamar Franco como ex-governador de Minas Gerais mas não menciona que é também ex- presidente da República!?

Janistraquis, que nunca teve em Itamar o modelo de sua atribulada existência, tem explicação para a dolorosa lacuna: ?Considerado, isso revela que, pelo menos para os mineiros, é bom esquecer a passagem da criatura pelo Palácio do Planalto…?.

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Quem confia?

Janistraquis examinou detidamente as fotos do juiz Rocha Mattos e disparou: ?Considerado, os politicamente corretos vão ficar furiosos comigo, porém um sujeito com essa cara de bandido de faroeste e cabeleira de surfista aposentado não pode mesmo valer grande coisa. Pobre Judiciário!?.

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A negada dançou

Depois que leu, duma assentada, a preciosa obra A Ditadura Derrotada, da lavra de Elio Gaspari, Celso Neto anda mais arrebatado do que o general Geisel ao telefone. Avalie pelo seguinte despacho do nosso diretor no Ceará:

?Durante a ditadura militar muitos jornalistas se insurgiram contra a censura. O tempo passou, vivemos hoje outro tipo de ditadura, mas com certa liberdade de expressão, porém o infatigável jornal O Povo ressuscitou a figura do censor, que responde pelo nome de Márcio Araújo, meio-campista que marcou época no São Paulo na década de 80 e hoje dirige o Fortaleza-cai-cai-pra-segundona.

Olhe só o que foi publicado na editoria de esportes sobre o ?fujão? jogador Clodoaldo: ?A torcida tricolor vai passar um bom tempo sem poder chamar por Clodoaldo, pelo menos enquanto Márcio Araújo estiver no comando do Fortaleza?.

Vai ter moral com a torcida assim no raio que o parta! O técnico-general cassou a liberdade de expressão da negada?.

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Lendo e aprendendo

O diretor de nossa sucursal paulistana, Daniel Sottomaior, dá mais um exemplo de falso cognato e o leitor desta coluna deve ficar atento para aprender direitinho (outro dia um comentarista reclamou da ?insistência? de Daniel com tal assunto; tudo indica, porém, que o reclamante, exceção das exceções, conheça profundamente os dois idiomas, fenômeno deveras incomum em nossas Redações). Escreve o mestre:

?Outro falso cognato é world class. Para espanto de alguns, essa expressão não existe em português. World class significa algo como ?de primeira linha?, mas não é incomum ler-se sobre uma ?instituição de pesquisa de classe mundial?.

O erro é tão repetido que já começou a ser incorporado à fala corrente e acredito que será brevemente dicionarizado, se é que ainda não foi. Um engenheiro-mecânico manauara usou essa expressão numa entrevista, não sei se por conhecer a má tradução em português ou por ler o original em inglês e fazer a tradução por conta própria.?

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Nota dez

O melhor texto da semana é de João Pedro Stédile em Caros Amigos:

?O Brasil é o país do mundo com maior desigualdade social. Ou seja, de maior diferença de renda entre os ricos e a ampla camada de pobres. O Brasil está entre os primeiros lugares do mundo no mercado consumidor de jatos executivos, helicópteros e iates de luxo. E ao mesmo tempo tem 44 milhões de brasileiros que vivem com menos de 1 dólar por dia, e por isso passam fome.

Na cidade de São Paulo há milhares de sem-teto, gente que nem direito a casa tem no maior centro industrial do país. Mas os ricos mantêm, segundo a Folha de S. Paulo, 428 mil apartamentos e casas fechados, vazios, para especular, esperando aumentarem os aluguéis ou apenas como reserva de riqueza familiar. Deve ser a maior cidade fantasma do mundo. E, pelo número de imóveis, poderia ser a quarta ou quinta maior cidade do Brasil… vazia!?.”