A NOVELA JB-GAZETA
Alberto Dines
Quem leu o comunicado na primeira página do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil (quinta, 4/12) acreditou que testemunhava um final feliz para dois episódios pouco edificantes na história recente da imprensa brasileira.
Parecia que as duas empresas, depois de anos de desgastes e vexames, haviam encontrado uma fórmula de parceria capaz de reunir os respectivos acervos de glórias passadas e os respectivos potenciais de recuperação numa operação unificada. Mesmo num setor visivelmente enfraquecido, a idéia de juntar pacientes quase terminais na mesma UTI oferecia alguma viabilidade.
No texto do JB ? diferente do publicado na GzM ? pareceu que
um dos impasses foi finalmente superado com o pleno assentimento
da terceira parte, tão importante quanto as duas empresas:
a Associação de funcionários da Gazeta
que, por decisão judicial, é a detentora do título
arrestado para o pagamento de salários e benefícios
atrasados.
Não é correta a afirmação do quarto parágrafo, onde se diz: “(…) vencemos as resistências com a colaboração de todos os empregados, hoje acolhidos na empresa JB (…)”. As negociações foram interrompidas unilateralmente pelo consórcio empresarial. Não houve acordo entre as três partes. A despeito do solene comunicado, a questão voltou à estaca zero.
O “final feliz” revelou-se dramaticamente inconcluso e ainda mais preocupante porque, na versão do JB (ainda neste quarto parágrafo), é desfechada uma injusta, desleal e prepotente acusação ao “reprovável comportamento do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo”. Reprovável por quê? Por que o sindicato está empenhado em defender os direitos dos seus associados? Que tipo de negociação é esta em que os impasses são resolvidos na base de fatos consumados?
Contrapartidas claras
Justamente esta acusação ao presidente do sindicato foi excluída da versão do comunicado publicado pela Gazeta Mercantil. A discrepância não é negligenciável mas extremamente significante: sinaliza para divergências até entre as empresas consorciadas [veja abaixo a íntegra do comunicado e a indicação sobre a alteração no texto].
A direção da Gazeta, não obstante as brutais medidas
tomadas nos últimos tempos contra o seu quadro de jornalistas (um dos
mais estáveis e coerentes da nossa imprensa diária ao longo das
últimas três décadas), procurou mostrar algum tipo de apreço
por aqueles que transformaram o jornal num paradigma de qualidade. Algumas lideranças
foram mantidas, e mesmo aquelas que se afastaram da empresa serviram como mediadoras
quando o impasse pareceu intransponível. A supressão
da ofensa na Gazeta não foi lapso, mas prova mínima de
respeito.
Já a direção da empresa JB é nova no ramo, não teve tempo ainda para persuadir-se de que o capital humano é indispensável ao exercício do jornalismo. Daí a temerária e imperdoável acusação ao presidente do Sindicato dos Jornalistas ? e, por extensão, àqueles que se reconhecem como jornalistas ? num pronunciamento que pretendia soar como clarinada de paz e servir de convocação para um trabalho conjunto de recuperação dos escombros.
Um conglomerado de dois jornais outrora gloriosos (que, aparentemente, deverá ser reforçado com a entrada de terceiro) começa mal ao atropelar a verdade e ao derrubar o indispensável entrosamento entre o Capital e Trabalho.
O lamentável episódio prejudica não apenas um projeto particular de salvamento mas todo o setor da mídia, hoje postado diante dos guichês das instituições oficiais de crédito. Desvenda precariedades em lugar de oferecer credibilidade.
Tem um mérito, porém: vai alertar o BNDES para a divisão das responsabilidades na atual crise. Se o dinheiro do contribuinte for efetivamente encaminhado para socorrer as empresas de mídia deverão ser exigidas com toda a clareza as contrapartidas em matéria de governança corporativa. Caso contrário, o final infeliz da novela JB–GzM vai tornar-se padrão.
[Publicado no Jornal do Brasil e na Gazeta Mercantil, em 4/12/2003, com a diferença apontada abaixo]
Comunicamos, com orgulho, que a GZM S/A, proprietária da marca Gazeta Mercantil, o quinto maior jornal econômico do Ocidente, e a CBM S/A, empresa responsável, entre outros títulos, pela edição do Jornal do Brasil, a grande marca do jornalismo nacional, celebraram nesta data o contrato de licenciamento do uso da marca Gazeta Mercantil, entre outros produtos, pelo prazo de 60 anos.
É uma iniciativa que traduz o compromisso maior de ampliar a presença da marca Gazeta Mercantil, que ao longo desses últimos 83 anos tornou-se um veículo de fé pública na interação com os principais atores do mercado empresarial.
A Gazeta Mercantil, impressa em várias capitais do país e, no seu ápice, com uma carteira com cerca de 150.000 assinantes, no Brasil e no exterior, é leitura diária e obrigatória dos formadores de opinião.
Nosso projeto é vencedor. A despeito do reprovável comportamento do presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, vencemos as resistências com a colaboração de todos os empregados, hoje acolhidos na empresa JB, bem como dos bancos, fornecedores, gráficos, distribuidores, das agências de propaganda e, sobretudo, dos nossos leitores e anunciantes. [Nota do OI: no texto dado na Gazeta Mercantil, este trecho veio assim redigido: “Nosso projeto é vencedor. A despeito das dificuldades que encontramos, estamos vencendo as resistências, com a colaboração admirável de todos os empregados, hoje acolhidos na empresa (…)”.] Para isso, estamos preservando mais de 600 postos de trabalho diretos, além de 1.000 outros empregos indiretos e terceirizados, da mesma forma que vamos manter e expandir o Centro de Informações da Gazeta Mercantil, que detém o mais completo e abrangente acervo de dados sobre os cenários da economia contemporânea.
Uma palavra ainda de reconhecimento pela condução jurídica dos advogados Nelson Felmanas, Ailton Trevisan, Carlos E. Bulhões Pedreira e dos advogados internos das respectivas empresas, sendo que cópia de todos os documentos foi disponibilizada na internet e enviada ao Tribunal do Trabalho e ao Ministério Público.
Informamos que o Sr. Luiz Fernando Ferreira Levy continua Presidente do Conselho Editorial, como guardião da marca e de seu projeto de jornal.
Temos a convicção do acerto dessa união e esperamos contar cada vez mais com a confiança de todos os segmentos da sociedade.