ESCOLA JAYSON BLAIR
Agora é oficial. Antes do correspondente Jack Kelley, do USA Today, confessar, por meio de seu advogado, ter cometido fraudes em suas reportagens, as investigações do próprio jornal já haviam encontrado provas do que ele havia feito.
Segundo Howard Kurtz [The Washington Post, 13/1/04], Kelley disse que conseguiu fazer um tradutor russo, chamado Luda, se passar por um tradutor sérvio, Danielja, em telefonema ao USA Today para confirmar entrevista com Natasa Kandic, ativista de direitos humanos iugoslava, que Danielja havia testemunhado em 1999. Kelley reconheceu o erro e pediu desculpas aos executivos do jornal.
Ao contrário do que tinha dito antes, o USA Today afirma que Kelley foi obrigado a se demitir. Quando ainda não havia evidências de fraude, a editora Karen Jurgensen disse que o correspondente pedira demissão [ver remissão abaixo]. Brian Gallagher, editor-executivo, disse em sua primeira manifestação pública que, "dadas as atitudes de Jack, obviamente é difícil confiar em seu trabalho".
Tudo começou com uma carta anônima enviada a Gallagher em 26/6/03, chamando Kelley de "menino de ouro", "repórter estrela", "com salário maior que os outros da equipe". Dizia também que as citações de Kelley eram "obviamente falsas", uma vez que "não soam como falas vindas de pessoas", e estranhava a capacidade do correspondente estar em qualquer território estrangeiro, "mesmo sem falar uma palavra da língua local, e dentro de uma ou duas horas aparecer com citações elaboradas".
Investigação tardia
É impossível não fazer a ligação entre Kelley e o escândalo Jayson Blair, que abalou as estruturas do sólido New York Times ao descobrir-se que o repórter fabricara e plagiara diversas reportagens. Aliás, foi exatamente o escândalo no NY Times que fez com que o USA Today passasse a considerar as constantes denúncias anônimas contra Kelley.
Segundo reportagem de Jacques Steinberg [The New York Times, 19/1/04], alguns dos colegas de Kelley estavam tão desconfiados de seu trabalho que a partir da metade dos anos 90, iniciaram um dossiê sobre o correspondente, questionando a plausibilidade de suas descrições de guerra e as semelhanças com artigos que saíram em outros jornais.
Apesar de o USA Today anunciar que sua investigação não conseguiu comprovar nada, cerca de 10 funcionários do jornal afirmaram ter provas para confirmar as fraudes.
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