[do release de editora]
Este livro reúne textos inéditos em forma de livro, escritos pelo autor entre o período mais sombrio da ditadura e a decadência do regime militar (1968-1985). Eles refletem a dureza das condições e a radicalidade das posições, inevitáveis quando se vive em clima de guerra. Mas não são necessariamente textos políticos (alguns mais, outros menos), embora o posicionamento político seja inevitável em regimes de supressão de direitos.
Os textos aqui reunidos abrangem um leque bastante amplo de temas. A primeira seção abarca os artigos de intervenção no contexto político-cultural da época, sobretudo nas áreas de cinema e telecomunicações. A segunda refere-se a um momento de estreito contato com a obra do intelectual e cineasta russo-letão Serguei Eisenstein, particularmente de sua fertilíssima idéia de um cinema conceitual. A terceira secção compreende textos mais teóricos sobre outra questão do momento: a linguagem que reflete sobre a própria linguagem. A secção seguinte representa uma das primeiras tentativas de pensar a mediação tecnológica na produção da cultura. Finalmente, a última seção reúne os artigos mais antigos, de análise dos filmes que na época estavam em cartaz.
Embora os artigos tenham sido escritos num período específico, uma série de temas que pareciam estar soterrados nas ruínas daquela época parece ter ressurgido ultimamente. Em primeiro lugar, a internet e os meios digitais em geral introduziram o conceito de mídia tática, retomando, num certo sentido, uma boa parte das discussões do período anterior em torno de fenômenos como o graffiti, a poesia ‘marginal’, os discos ‘independentes’, a produção clandestina de cinema e vídeo em bitolas domésticas, a proliferação das rádios livres e ‘piratas’, a mail art, os grupos de intervenção urbana, etc. discutidos nos artigos da primeira seção deste livro.
O cinema como forma de pensamento é um tema retomado recentemente por gente como Philippe Dubois, Jacques Aumont, Gilles Deleuze e por uma infinidade de pesquisadores que trabalham com a idéia de uma antropologia visual. Se as idéias não perderam a sua atualidade, o retorno a alguns modelos de pensamento de um passado recente pode ajudar a matizar as discussões do presente.