PAPO DE ANJO
“Ex-vilão faz a graça de comédia singela”, copyright Folha de S. Paulo, 18/12/03
“Televisão, em algumas ocasiões, tem que ser vista como fazia minha avó. Para ela tudo era uma mesma dramaturgia, desconsiderando intervalo ou mudança de canal. Tônia Carrero na novela e na propaganda de um cosmético formavam uma mesma narrativa, faziam parte da mesma econômica. Se ela visse o Dan Stulbach de mocinho em ?Papo de Anjo?, especial de anteontem na Globo, certamente sacaria um dos mil adágios que conservava na gaveta da velha máquina de costura Vigorelli: ?Ah, me engana que eu gosto?.
É essa mesma falta de distanciamento que leva os vilões, como o Marcos (Stulbach) de ?Mulheres Apaixonadas?, a passar vexames nas ruas. O que é ótimo, afinal de contas desconsiderou a lição-mor de que em uma mulher não se bate nem como uma flor, como pregava a poeta Florbela Espanca. O mesmo sufoco dos vilões acontece com os personagens de escândalos espetacularizados pelo jornalismo, casos de PC, anões do Orçamento, Lalau etc. Aqui se faz, aqui se paga -vovô se iludiria com mais um adágio.
?Papo de Anjo?, dirigido por José Alvarenga Jr. (?Os Normais?), ganhou muito com a escolha proposital do cafajeste convertido a Gabriel, generoso protetor de uma encalhada (Cláudia Jimenez). Ele faz tudo, inclusive bater asas pela ?botterinha?, para tirá-la das cinzas de um caritó sem fim. Ela trabalha como promotora de eventos, ele faz o contrário: mexe com ?desacontecências?, faz tudo para que as desgraças não se realizem, como diz o texto, à João Falcão, no seu melhor momento.
Em entrevistas, a atriz lembrou semelhanças entre seu personagem e a prostituta de ?Noites de Cabíria?, de Fellini, também uma sonhadora. Não carecia, uma vez que todo glamour que lhe restava era um jantar de gala com Fábio Junior, o do hit ?Senta Aqui?.
Mas não deixou de ser uma comédia singela, o que é ótimo, numa noite em que o Ratinho, mais cândido ainda, mostrou trechos do espetáculo ?O Fantasma da Ópera?. Impressionante a competência do apresentador ao dizer que não entendia nada ainda de ópera, mas que o seu público tinha direito àquele momento pedagógico. Terça romântica na TV. Minha avó misturaria todas as mocinhas e mal-assombros. E dormiria, feliz, no meio.”
FUSÃO DIRECTV / SKY
“TVs vão ao Cade contra fusão da DirecTV e Sky”, copyright Folha de S. Paulo, 17/12/03
“Diante da iminente aprovação da compra da DirecTV pela Sky, nos Estados Unidos, 49 empresas de TV por assinatura pediram ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) garantia para a preservação da concorrência no Brasil.
A ação foi movida pela NeoTV, associação de TVs a cabo criada em 1999. Ela pede a proibição dos contratos de exclusividade de programação neste setor.
A NeoTV sustenta, na ação, que a compra da DirecTV pela Sky vai aumentar, em muito, a concentração econômica neste mercado e que as operadoras independentes correm o risco de ficar sem programação para fornecer a seus assinantes.
A questão pode ser decidida hoje pelo Cade. Ontem, foi realizada uma audiência pública na sede do conselho, em Brasília, para que as duas empresas e a NeoTV pudessem defender seus pontos de vista.
A Sky tem como principais acionistas a News Corporation (do magnata mundial das comunicações Rupert Murdoch) e a Globopar, holding das Organizações Globo. A Globopar, por sua vez, controla a Globosat, responsável por alguns dos principais canais de programação para TV paga do país, como o SporTV e os canais Telecine e Multishow.
Segundo a ação da NeoTV, a Globosat só vende sua programação às operadoras de TV por assinatura que sejam filiadas ao sistema Net.
A NeoTV diz temer que esta política seja adotada no Brasil também em relação aos canais de propriedade da News Corp., daí o pedido para que o Cade proíba os contratos de exclusividade.
A DirecTV tem 37,99% dos assinantes de TV por assinatura via satélite no Brasil, enquanto a SKY tem 56,85%. Com a fusão das duas, a Sky terá 94,84% deste mercado, que soma 1,1 milhão de assinantes, e 31% de todo o mercado de TV por assinatura (incluindo os sistemas por cabo, satélite e microondas), de 3,5 milhões de clientes.
Segundo a NeoTV, a Globopar, por intermédio da Net Serviços, é líder absoluta do mercado de TV a cabo, com quase 40% dos assinantes. Com a compra da DirecTV pela Sky, diz a entidade, a união News Corp/Globopar representará 69,5% do mercado brasileiro de TV paga.
Segundo o presidente da NeoTV, Chris Torto, a aquisição da DirecTV pela SKY deve ser aprovada pelo órgão regulador do mercado de telecomunicações norte-americano, a FCC (Federal Communications Commission), até o final de dezembro.
A intenção das partes de fechar o negócio foi anunciada em abril, nos Estados Unidos. Três dos cinco conselheiros da FCC já se manifestaram a favor da compra.
Outro lado
A Folha tentou ouvir a DirecTV e a Sky sobre o processo no Cade, mas os advogados que representaram as duas empresas na audiência não foram localizados até o fechamento desta edição.”
“EUA autorizam compra de TV por satélite”, copyright O Estado de S. Paulo, 21/12/03
“O governo dos Estados Unidos autorizou a News Corp. a assumir o controle da DirecTV, a maior provedora de televisão por satélite do país, mas impôs algumas condições ao negócio de US$ 6,6 bilhões. Uma delas é que a corporação concorde com arbitragem para resolver as disputas que têm com empresas transmissoras de sua programação Fox, como operadoras de TV a cabo e outros provedores a satélite. A News Corp. tem ainda de tratar todas as redes com igualdade, sem privilegiar a Fox.
Essas condições impedem que a Fox tire sua programação das TVs a cabo, forçando os consumidores a assinar a DirecTV se quiserem continuar com acesso aos programas. A News Corp. concordou em não alterar sua programação enquanto a arbitragem estiver em andamento. O Departamento de Justiça apoiará o acordo.
A Comissão Federal das Comunicações (FCC, na sigla em inglês), dominada pelos republicanos, aprovou o negociação. A News Corp. também é proprietária do canal Fox News, dirigida pelo ex-republicano Roger Ailes. ?A fusão com tais regras rígidas beneficiará o público americano?, disse Michael Powell, presidente da FCC. ?A News Corp. tem uma história de assumir riscos significativos e introduzir inovadores serviços de mídia.? Segundo Powell, o negócio estimulará a competição entre as empresas, o que aumentará a pressão por serviços melhores e preços mais baixos tanto no segmento de TVs a cabo quanto nas por satélite.
Negócio polêmico – Mas há divergências. Para um dos dois democratas da comissão, Michael Copps, o acordo reduzirá a competição. ?Onde está a lógica, onde está o benefício para o interesse público, ao dar mais e mais poder para um reduzido número de grupos da mídia??, questionou.
O democrata Jonathan Adelstein, também da comissão, disse discordar do acordo porque o negócio não obriga a DirecTV a transmitir canais locais para todo o mercado. Isso significa que algumas áreas rurais serão prejudicadas.
Adelstein explicou que outras regiões terão de receber o sinal de canais locais por outras formas alternativas de transmissão que não a por satélite, como antenas ou sintonizador digital.
Para a principal associação da indústria de TV a cabo, o acordo fará da DirecTV um grande competidor no mercado. ?As operadoras a cabo estão preparadas para competir com a transmissão por satélite, oferecendo aos consumidores uma variedade de serviços atrativos, como pay-per-view, acesso rápido a internet e telefone a cabo?, disse Robert Sachs, presidente da Associação Nacional de Cabo e Telecomunicações.
Alguns grupos de defesa do consumidor são contrários ao negócio. Como o democrata Adelstein, eles acreditam que o resultado será menor competição no mercado de TV a cabo e por satélite e, conseqüentemente, preços mais altos pelos serviços oferecidos. ?A comissão devia ter rejeitado esse acordo?, disse Jeff Chester, diretor do Centro pela Democracia Digital, um dos grupos de defesa do consumidor. ?No mínimo deviam ter fixado garantias mais eficazes que protegessem a livre concorrência e os consumidores.? (AP)”
“Murdoch recebe sinal verde para obter a DirecTV”, copyright Folha de S. Paulo, 21/12/03
“A FCC (Federal Communications Commission), agência reguladora do mercado norte-americano de comunicações, aprovou, na sexta-feira, a compra da operadora DirecTV pelo magnata da mídia Rupert Murdoch. Mas a agência impôs algumas condições para que o negócio, de US$ 6,6 bilhões, seja concretizado.
Os três representantes republicanos na FCC votaram a favor, e os dois democratas, contra. Com o sinal verde, Murdoch conseguirá entrar, finalmente, no mercado norte-americano de transmissão via satélite, projeto que acalentava havia vários anos.
O empresário é dono da News Corporation, um dos maiores conglomerados de mídia do planeta, do qual fazem parte, entre outras empresas, a Sky TV e a Fox.
Murdoch será o controlador das duas principais operadoras do Brasil.”