Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Renata Gallo

CINEMA BRASILEIRO / TV

“Conspiração Filmes no Canal Brasil”, copyright O Estado de S. Paulo, 20/12/03

“Em uma área que até então não havia nenhum grande destaque, a produtora Conspiração Filmes conseguiu se firmar, e mais: com um nome que é sinônimo de inovação e ousadia. É por isso que a companhia cinematográfica estará amanhã, às 20 horas, no programa Em Foco, do Canal Brasil, que dá continuidade ao Ciclo de Produtoras Brasileiras.

Neste especial, serão apresentados os grandes sucessos da empresa, como os recentes O Homem do Ano e Casseta e Planeta – A Taça do Mundo É Nossa, além de curiosidades dos bastidores das produções, contadas por seus sócios-fundadores. Aliás, dos 16 sócios da produtora, boa parte deles tem sobrenome de grife, como Lula e Pedro Buarque de Hollanda, Andrucha Waddington e José Henrique Fonseca.

A produtora foi criada em 1991 para suprir o mercado de produção de clipes.

Hoje, acumula no currículo musicais como Chico Buarque e as Cidades, de 2000, Marisa Monte – Barulhinho Bom, de 1997, e documentários como Surf Adventures, de 2001.

Fernanda Torres, Regina Casé, Murilo Benício e Francisco Cuoco estão no especial, comentando suas participações em filmes como Traição (1998), Gêmeas (1999) e Eu Tu Eles (2000). O programa também tem entrevistas com o ministro Gilberto Gil e os músicos Herbert Vianna e Dado Villa Lobos.”

 

COLUNA SOCIAL NA TV

“Amaury Jr.: ?Não tenho nenhum concorrente?”, copyright O Estado de S. Paulo, 21/12/03

“Bem novinho, Amaury caiu de amores pelo colunismo social. Foi em São José do Rio Preto e ele tinha 15 anos. Foi para o rádio, ajudou a montar a TV local e hoje, com 35 de militância no métier, é assediado por todo tipo de gente interessada em garantir seus minutinhos de fama. Em entrevista ao Caderno 2, o colunista analisa a evolução de sua área e diz que no Brasil ainda se confunde fama com celebridade.

Estado – O que mudou no colunismo social em seus 35 anos de militância?

Amaury Júnior – Antigamente havia muito preconceito porque o colunismo era elitizado e antipático. Dizia-se que era frescura e que colunista era, no mínimo, gay. O que pesava era o dinheiro, a tradição do nome e o poder econômico. No passado, artista de TV não entrava em coluna. Os colunistas mudaram, são mais modernos e passaram a identificar o talento. As pessoas ainda confundem fama com celebridade.

Estado – Qual é a diferença?

Amaury – Hebe é célebre porque tem durabilidade, uma história. Tiazinha, a Feiticeira, os big brothers são os fast famous, desaparecem depois de um tempo. Eu já corri para entrevistar a Tiazinha. Por onde ela anda agora?

Estado – Qual é a personalidade mais importante em sua lista de entrevistados?

Amaury – João Gilberto. Fui ao camarote de um show cumprimentá-lo e ele me disse que me assistia. Pedi a entrevista e ele relutou, mas uma tia bateu com o guarda-chuva na perna dele e mandou ele falar comigo.

Estado – Qual foi o entrevistado que deu mais trabalho?

Amaury – Kenny Rogers. Às vésperas de um réveillon fui para Nevada para entrevistá-lo, mas o empresário me barrou. No dia 31, Kenny queria trazer a mãe e não havia mais vaga nos hotéis. Tirei meu pessoal de um quarto e ofereci a ele em troca da entrevista.

Estado – Você começou só no colunismo eletrônico, mas hoje tem vários concorrentes. Qual deles é o mais forte?

Amaury – Não tenho nenhum concorrente. Todos se valeram da minha fórmula, mas têm conteúdo diferente. Otávio Mesquita faz humor. Ramy faz meia hora duas vezes por semana. Nossas tribos são diferentes. O meu negócio é entrevistar pessoas, a base deles é a fofoca. Carlos Heitor Cony lançou o romance O Beijo da Morte no meu programa e Ziraldo lançou a campanha para incluir um livro na cesta básica comigo.

Estado – Muita gente tenta tornar-se sua amiga para aparecer no programa?

Amaury – Sim, mas desenvolvi um mecanismo para saber porque as pessoas se aproximam. Mais de 30 pessoas por dia me pedem para entrar no programa: de médicos renomados a gente mais humilde.

Estado – Já ofereceram dinheiro para aparecer?

Amaury – Sempre me perguntam isso, mas isso nunca aconteceu. Entra dinheiro quando se trata de lançamentos comerciais. Aí eu encaminho para o departamento comercial da Rede TV!

Estado – Quais os critérios para cobrir uma festa?

Amaury – Temos uma reunião semanal em que examinamos os eventos da semana.

Estado – Qual é a sua média de audiência?

Amaury – Não fico olhando, mas tenho média de dois pontos.

Estado – Dá para ganhar dinheiro com essa média?

Amaury – Dá para ganhar dinheiro até com meio ponto. Manhã Mulher era o programa de maior faturamento da Band. Meu telespectador tem grande poder aquisitivo e meus anunciantes são dirigidos a esse público.

Estado – Você está se tornando escritor?

Amaury – Estou escrevendo um livro de humor, chamado Confidencial, sobre o fuxico na História, previsões furadas – como aquela da Lucélia Santos, que foi recebida com menosprezo na Globo e acabou sendo a atriz mais conhecida no mundo com Escrava Isaura – as grandes mancadas e saias justas de personalidades.”

 

TV EM 2003

“TV produziu coisas boas no mar da mediocridade”, copyright O Estado de S. Paulo, 21/12/03

“O governo Lula não trouxe modificações no universo da TV. Em primeiro lugar porque, até hoje, as autoridades federais não explicitaram seus planos para o maior veículo de massa, fruto de concessão pública.

Dessa maneira, a TV brasileira seguiu seu curso no ritmo tradicional, ou seja, valorizando o que chama audiência, sem entrar no mérito do conteúdo.

Este foi o ano da sanguinolência. Como uma praga, os shows policialescos alastraram-se por vários canais, gerando uma disputa pelos apresentadores mais nervosos e entregando na casa do telespectador muitas cenas de sangue, corredores de delegacia e um discurso hipócrita contra a violência. As pegadinhas e os ?shows-verdade? ganharam força dando continuidade ao hábito de desrespeitar gente pobre para fazer o ibope de cada dia.

Não vamos ser maniqueístas. Essa TV não foi inteiramente macabra em 2003.

Nesse mar de desatino surgiram coisas muito boas, denunciando a capacidade nacional de fazer programas de qualidade.

O extrato dessa qualidade foi escolhido esta semana na votação dos jornalistas integrantes da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), que distinguiu a minissérie A Casa das Sete Mulheres como o grande acontecimento e apontou Nívea Maria como a melhor atriz pela interpretação da amarga Maria na história escrita por Maria Adelaide Amaral e Walter Negrão, que estreou em janeiro.

O melhor programa – na opinião dos críticos paulistas – fecha o ano na Globo. Cena Aberta é uma produção que vingou graças à junção de vários talentos: de Guel Arraes, Jorge Furtado e Regina Casé, os ?alternativos? da grande rede. Esse núcleo também é responsável pela série Cidade dos Homens (premiada ano passado pela mesma entidade), de Fernando Meirelles, uma das melhores produções dos últimos anos.

Uma aposta da Rede TV!, Pânico na TV (prêmio revelação) mostrou que é possível fazer humor sem racionamento de inteligência. A turma saiu do rádio para oferecer uma opção – mais tosca e bem mais divertida – ao ramerrame da tarde de domingo. Rockgol, de Paulo Bonfá e Marco Bianchi, da MTV (troféu em humor), também foi um sopro de ar fresco no empoeirado reino dos programas humorísticos. Também cacifado pela MTV, o roqueiro João Gordo mostrou um jeito enviesado de entrevistar modernos, bregas e caretas e ganhou prêmio de melhor entrevistador de 2003.

A TV Cultura, manietada pela falta de recursos nos últimos anos, voltou a produzir timidamente. Guerrilha e Galera surgiram como opção para o público jovem. Guerrilha é um programa bem resolvido e com uma linguagem mais moderna. A série Galera ousa na medida em que coloca no ar 45 minutos diários de ficção, mas carece de certos ajustes. Contos da Meia-Noite é um programa sofisticado para o paladar médio, mas necessário no cardápio da TV.

O melhor de tudo, no entanto, foi o despertar da chamada sociedade civil para a qualidade da sua televisão. A campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, da Câmara dos Deputados, saiu dos meandros da casa legislativa para a mídia, e funcionou como canal para o brasileiro apontar a sua insatisfação para com programas. Ainda que incipiente em número de adesões, a campanha começa a conscientizar o telespectador de que ele tem o direito de ter, na condição de consumidor, a mesma qualidade que exige quando se trata de outros produtos.”