Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Loucura? Não, é o futuro

SMART RADIO

Quando um rádio não é um rádio? Quando é um programa de computador, é claro.

A pergunta que mais parece um belo enigma da Esfinge tem uma resposta que pode parecer estranha; mas é real e, futuramente, facilitará em muito nossas vidas. É o que diz o artigo da revista The Economist ["How the radio changed its spots", 4/12/03] que trata dos "smart radios". Os "rádios inteligentes", na tradução mais simplória, são os chamados "software-defined radios" (SDR, na sigla em inglês).

Seja em um telefone celular, um walkie-talkie ou um laptop movido pela tecnologia Wi-Fi (sem fios), o processo de funcionamento é o mesmo: um rádio puxa um sinal puro do ar e o transforma em uma corrente de informações compreensíveis. Este processo costuma ser longo, e ter várias etapas. A novidade é que, após anos de estudos em laboratório, conseguiu-se que ele seja feito de um modo mais simples, por um software. O resultado é o sistema SDR.

Útil e prático por diversas razões, o SDR, ou "smart radio", promete resolver um problema causado justamente pelos avanços da tecnologia. Ao longo dos anos, passamos a nos tornar reféns de inúmeros aparelhinhos portáteis que facilitam nossa vida, mas começam a pesar em nossa bolsa. Carteira e chaves do carro agora disputam lugar com celulares, pagers e palm tops. Em alguns casos, até aparelhos de GPS entram na dança. Todos para nossa comodidade, mas cada um funcionando de sua maneira.

Não seria ótimo se pudéssemos juntá-los em um único aparelho? Esta é a idéia do "smart radio". Se cada um de nossos indispensáveis aparelhos funciona em um padrão diferente, o rádio por software é capaz de funcionar operando em diferentes padrões, como o GSM e o CDMA, para uso de celulares, por exemplo.

Os benefícios são muitos, e não estão ligados ao excesso de peso na bolsa. Com o sistema SDR, pode-se criar mecanismos de comunicação entre diferentes organismos. Nos Estados Unidos, uma grande preocupação desde o atentado terrorista de setembro de 2001 é a interoperabilidade entre rádios da polícia, do corpo de bombeiros e de organizações federais. Com o software, isso é possível. Os sistemas tornam-se flexíveis e compatíveis com padrões diversos.

Tanto que a primeira experiência no país será feita em área militar, possibilitando a comunicação entre o exército, a marinha e a aeronáutica. Tudo isso sem que seja necessário gastar milhões de dólares para trocar os rádios já existentes, que serão apenas adaptados ao novo sistema.

O "smart radio" está apenas começando a entrar no mercado, mas os estudiosos já estão pensando em seu aperfeiçoamento. Segundo o doutor Joseph Mitola, pesquisador do sistema SDR na organização não lucrativa Mitre Corporation, o mais avançado modelo de "smart radio" será realmente inteligente. O aparelho terá "consciência" de seu ambiente, será capaz de se adaptar a ele e aprenderá com suas experiências. Saberá sua localização, o clima que o cerca, e o quanto de bateria lhe resta. Poderá, assim, tomar decisões que melhorem seu funcionamento. Este conceito é conhecido como rádio cognitivo. Parece loucura? É apenas o futuro.