TEATRO NO OI
Peça em um ato que discute a imprensa
Paulo Jorge Dumaresq (*)
Sinopse
Bocas que murmuram é uma tragicomédia ambientada em redação de jornal, tipo tablóide, de cidade de médio porte do Nordeste do Brasil. A peça estabelece contraponto entre dois jornalistas de formação ideológica distinta. No caso, Alexandre, de formação direitista, e Vladimir, um esquerdista atuante. No decorrer da trama, os jornalistas ora reafirmam suas posições, ora se contradizem, num jogo psicológico que inclui ainda o Editor do jornal e o deputado Chip Bacharat.
Questões relevantes para a classe jornalística, tais como liberdade de imprensa, ética e salário, são abordadas de forma contundente pelos dois profissionais. Alexandre, jornalista corrupto, recebe proposta do Editor para assumir o caderno de política do periódico, caso omita rumoroso escândalo envolvendo o deputado Chip Bacharat, acusado de explorar cassino na sede do programa Fome Nunca Mais. Por seu turno, Vladimir segue com seu discurso esquerdista tentando demover Alexandre das idéias que defende. Mas, no desespero dos impotentes, Vladimir suicida-se na redação do jornal em um final dramático e surpreendente.
A intenção de Bocas que murmuram é questionar, à luz do teatro, o problema da manipulação da informação, prática comum na imprensa mundial, independentemente de regime ou ideologia política. Em outras palavras, alertar aos que desejam uma imprensa livre sobre as armadilhas do poder econômico e/ou político, preocupado apenas em fazer valer seus intentos.
Personagens
Alexandre ? Jornalista, branco, 25 anos.
Vladimir ? Jornalista, branco, 22 anos.
Chip Bacharat ? Deputado, branco, 45 anos.
Editor ? Branco, 40 anos.
Office-boy ? Negro, 16 anos.
Jornaleiro ? Negro, 16 anos.
Ambiente/Cenário ? É uma redação de jornal, tipo tablóide. As personagens trajam-se de acordo com o papel que representam na peça. O ambiente é mobiliado com duas estantes no fundo da cena, abrigando jornais, livros e revistas, além de jarra com vinho tinto e duas taças. À frente das estantes, localizam-se dois pequenos birôs com cadeira giratória. Sobre as mesas de trabalho, repousam microcomputador, telefone, caneta e papéis. No chão, há várias bolas de papel, não obstante a presença de cesto para coleta de lixo. À esquerda, no palco, saleta com a inscrição: Editor. Já à direita, tem uma mesinha com fax.
Ato Único
Cena I
Vladimir, Alexandre
VLADIMIR
(sentado à mesa de trabalho, de cabeça baixa. Após erguer cabeça, discorre amargurado) Profissão ingrata, esta de jornalista. Como se não bastassem o salário de fome e as péssimas condições de trabalho, ainda tem de se submeter à censura interna do jornal. Desengano de vida!
ALEXANDRE
(idem. Replica irônico) O que é isso, companheiro? Nós vivemos a época de ouro da liberdade de imprensa no Brasil. Nunca nós tivemos tanta liberdade de expressão como agora. Que heresia é essa?
VLADIMIR
(deixando a mesa) Companheiro Alexandre, assim você me confunde. Eu não lhe compreendo. Dia desse você teve matéria censurada pelo Editor do jornal e ainda me diz que nós temos liberdade de expressão.
ALEXANDRE
(idem) Ah, convenha amigo Vladimir, foi matéria irrelevante sobre o fechamento de um cassino que funcionava na sede do programa Fome Nunca Mais. A casa de diversões pertencia a um deputado. Fato sem importância.
VLADIMIR
Sem importância, Alexandre? Você não acha esse episódio suficientemente grave para denunciá-lo? Ora, todo deputado eleito tem mais é que honrar o mandato, propondo e votando leis para beneficiar o eleitorado que o elegeu. Mas com esse parlamentar ocorreu o oposto. Ele usou o mandato e o tráfico de influência para abrir negócio escuso na sede do programa Fome Nunca Mais, locupletando-se com o jogo de azar, que leva milhares de pessoas à ruína.
ALEXANDRE
Puxa, Vladimir, quanto pudor. Parece até que você vai conseguir mudar o país, o mundo… Deixa esse caso pra lá. Nós não temos nada a ver com isso. Nada vai pegar pra ele. É melhor calarmos que só temos a ganhar com a omissão. E a recompensa é sempre muito generosa.
VLADIMIR
Ao falar assim você me deixa estupefato, companheiro Alexandre.
ALEXANDRE
Ser corrupto é da minha natureza, Vladimir. (pausa curta) Mas não fique apavorado com a minha afirmação. Eu sei controlar os impulsos corruptos que se abrigam na minha alma. Quando me convém. Claro. (pausa) Posso lhe contar um segredo, amigo?
VLADIMIR
Pode. Conte.
ALEXANDRE
Pois bem. Há alguns dias recebi convite do Editor para assumir o caderno de política do jornal. Entende agora a minha posição? (black. A passagem para a luz plena não deve demorar além do necessário)
VLADIMIR
Escuta só essa, companheiro. (lê nota. Irônico) O Excelentíssimo Senhor Presidente da República, após mais uma viagem de turismo ao exterior, em turnê paga pelo povo, passou de passagem pelos céus do Planalto, rumo a hotel paradisíaco, situado no coração da selva amazônica, onde descansará da enfadonha viagem.
ALEXANDRE
Estranho país, o Brasil. Enquanto seu povo trabalha em troca de algumas migalhas, o presidente passeia com a grana alheia.
VLADIMIR
Estranho, nada. O brasileiro tem vocação para ser trouxa. Você lembra do pau-brasil?
ALEXANDRE
Puta que pariu!
VLADIMIR
Do nosso ouro?
ALEXANDRE
Nós fomos tolos.
VLADIMIR
Lembre também, companheiro, do alto índice de corrupção no poder constituído e dos escândalos praticados à média luz.
ALEXANDRE
Administrativos!
VLADIMIR
Políticos!
ALEXANDRE
Sexuais!
VLADIMIR
(redige nota) Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro Contra a Corrupção (IBCC) revela que o cidadão médio tupiniquim continua no mais absoluto apatetamento, pois não reage como deveria aos desmandos da classe política brazuca. Segundo o levantamento realizado pelo conceituado instituto, a otarização do brasileiro ocorre via meios de comunicação, dominados por jornalistas inescrupulosos e políticos empresários, mais interessados na engorda da conta bancária e na promoção da sua própria imagem, visando eleições, do que em informar corretamente a população alienada do país.
ALEXANDRE
(de joelhos. Tom de reza) Minha culpa.
VLADIMIR
(crucificado. Tom de reza) Minha máxima culpa.
ALEXANDRE
Senhor! Perdoai-me por todas as matérias escritas contra os interesses do povo.
VLADIMIR
Ó Mestre! Eu me penitencio diante do vosso povo tão desinformado pelo jornalismo politiqueiro nosso de todo dia. (pausa. Penumbra) E você vai aceitar a proposta?
ALEXANDRE
Estou propenso a aceitá-la. Eu tenho de pensar no meu futuro e no da minha família. Como posso querer ser aceito na sociedade, ganhando um salário de fome desse, amigo Vladimir? A pobreza me ensinou a ser venal.
VLADIMIR
Alto lá, Alexandre. Nós podemos usar de outros meios para galgar degraus na nossa trajetória de vida profissional, que não sejam pela venalidade e pelo oportunismo.
ALEXANDRE
O que você sugere? Greve? Eu estou farto de greve. Eu estou farto de central sindical com cartilha de mau comportamento para a classe trabalhadora dessa oficina de mentes defeituosas chamada Brasil. Fique certo você, Vladimir, que o socialismo sobreviveu apenas para explicar Karl Marx: Trabalhadores do mundo inteiro, utopizai-vos. Qual o quê? Encaremos a realidade. Vivamos da venalidade. Sejamos oportunistas. Sejamos oportunistas, Vladimir.
VLADIMIR
Não! Não! Eu não aceito essa sua conduta, esse seu jeito corrupto de ser. E o juramento que você prestou na colação de grau?
ALEXANDRE
Colação de grau? Juramento? Ora, tudo isso é mero engodo para encobrir o nosso desejo de poder, a nossa vontade intra-uterina de corrupção. Meu caro Vladimir, o ser humano é, antes de tudo, um fraco. Na vida o importante é viver bem, não interessando por qual meio consigamos essa dádiva. (vai à estante, onde põe vinho em taça. Em seguida, volta para a boca de cena com o cristal erguido) A vida sem vírus não é vida! (black)
Cena II
ALEXANDRE, EDITOR
EDITOR
Bom dia, meu jornalista.
ALEXANDRE
Bom dia, senhor Editor. Qual é a pauta do dia?
EDITOR
Trago hoje instigante pauta para o meu pupilo e outra abaixo do medíocre para o revulô. (nota a ausência de Vladimir) A propósito, onde se encontra o nosso (irônico) bravo companheiro Vladimir?
ALEXANDRE
O nosso (idem) bravo companheiro Vladimir precisou dar um pulinho no sindicato, mas não deve demorar muito. Foi reivindicar em favor da (ibidem) categoria.
EDITOR
(à parte) É por isso que vai morrer pobre! Enfim… Receba sua pauta, jornalista Alexandre. Você hoje terá o prazer de entrevistar o deputado Chip Bacharat, o da denúncia ridícula de explorar um cassino na sede do programa Fome Nunca Mais. Não esqueça que a condução da entrevista é dentro daquela orientação previamente estabelecida pelo doutor Roberto.
ALEXANDRE
Pode deixar, senhor Editor. O assunto é do meu interesse.
EDITOR
Azar o de Vladimir, pois terá o desprazer de entrevistar a perua da atriz Tina Lolofrígida, que estreará novo espetáculo pela companhia Lança-Perfume. (saindo) Só espero que o revulô não esqueça de cobrar de Tina, as cortesias prometidas ao jornal.
ALEXANDRE
(à saída do Editor) Senhor Editor, um minuto de sua atenção. Preciso comunicar algo.
EDITOR
Pois não, meu jornalista. Que queres tu de mim?
ALEXANDRE
(melindroso) Bem, é sobre aquela proposta que o senhor me fez… Daí, eu gostaria de saber se o nobre Editor a confirmaria…
EDITOR
Francamente, jornalista Alexandre. Você está lidando com pessoas honestas, probas, acima de qualquer suspeita. Portanto, não me faça esse tipo de pergunta. Assim você me magoa e ao doutor Roberto também.
ALEXANDRE
Por favor, senhor Editor, longe de mim qualquer intenção de magoá-lo. Muito menos o doutor Roberto. Vocês são como se fossem irmãos meus. Representam muito pra mim. Mas o fato é que eu já tomei uma decisão e gostaria de transmiti-la ao senhor.
EDITOR
Ora, ora, não se apresse, meu jornalista. Não precisa me comunicar agora. No momento certo nós conversaremos sobre o assunto. Eu até já sei qual será sua decisão. (ante a intenção da fala de Alexandre) Calma, calma. Não se precipite. Tudo ao seu tempo e hora. Concorda comigo?
ALEXANDRE
(constrangido) Concordo inteiramente, senhor Editor.
EDITOR
Ótimo! (pausa curta) Então, bom trabalho e até a vista.
ALEXANDRE
Até a vista, senhor Editor. (black)
Cena III
ALEXANDRE, VLADIMIR
ALEXANDRE
(ao telefone) Deputado Chip Bacharat! Até que enfim consegui localizar Vossa Excelência. (pausa curta) É o jornalista Alexandre, do Diário Incomunicante.
VLADIMIR
(idem) Tina, é o Vlado. (pausa curta) Não. Não é o jornalista morto pela ditadura. É outro Vlado, o vivo, do incomunicante diário.
ALEXANDRE
Como vai passando essa emergente liderança nordestina?
VLADIMIR
Reconheceu agora, não foi?
ALEXANDRE
Eu vou bem, deputado.
VLADIMIR
Tina, como se chama a peça que você está prestes a estrear?
ALEXANDRE
Bom, deputado, o motivo do telefonema é para saber como anda o processo que o senhor move contra a imprensa marrom por calúnia e difamação. Aquela denúncia absurda e vazia do videopôquer associado ao programa Fome Nunca Mais.
VLADIMIR
(repetindo) Seis Atores à Procura de Teatro e de Público. (à parte) Parece uma trupe que eu conheço.
ALEXANDRE
Certo, deputado. Então, o senhor acredita na condenação dos responsáveis pelas denúncias infundadas? Muito bem. (pausa) Ah! O nobre parlamentar também está pleiteando uma indenização equivalente a dez vezes o salário que recebe. Perfeito.
VLADIMIR
Tina, me fale sobre a estréia da peça? Qual é a sua expectativa para (sensual) a primeira noite?
ALEXANDRE
O senhor está coberto de razão, deputado. Afinal de contas, Vossa Excelência tem compromissos e satisfações a dar a seus eleitores, que acreditaram em suas promessas de campanha, e não pode ter seu nome lançado ao escárnio popular por qualquer pasquim de fundo de quintal. Eu se fosse o senhor também teria feito o mesmo.
VLADIMIR
Sucesso! Claro. Você é uma atriz com nome firmado na cena teatral. Ah, Tina, antes que eu esqueça, o Editor pediu-me para lembrar-lhe das cortesias… (pausa curta) O quê? Você mandará senhas falsas? (à parte) A falsidade campeia na classe artística tal qual na política
ALEXANDRE
Ah! Sem dúvida, deputado. É lógico que tudo não passou de um mal-entendido. (pausa curta) O senhor doou microcomputadores para a sede do programa Fome Nunca Mais e foi mal interpretado, uma vez que a imprensa distorceu a boa ação usando de má-fé. Em verdade, não eram máquinas para o jogo de azar, mas, sim, computadores para o cadastramento das famílias beneficiadas pelo programa. Quase que o senhor cai numa arapuca armada pela imprensa, deputado. Foi por pouco.
VLADIMIR
Mas, Tina, de que trata a peça?
ALEXANDRE
Deputado, quero aproveitar o ensejo para parabenizá-lo pelo brilhante discurso na tribuna da Câmara favorável à reabertura dos cassinos no país.
VLADIMIR
Da abstinência sexual do brasileiro toda vez que ocorre chacina numa favela do país. Certo. (à parte) Imaginem se a Suíça fosse aqui. Estaríamos todos trepando neste momento.
ALEXANDRE
Não há de que, deputado. E saiba que pode contar sempre comigo. Estou às suas ordens.
VLADIMIR
Calma, Tina. Não precisa chorar. Um dia essas chacinas param. (pausa) Tina, dessa maneira não dá para nós continuarmos conversando. Tina! Alô! Tina! (à parte) Desligou de tanto chorar.
ALEXANDRE
O Editor está, deputado. Só um momento que vou avisá-lo para atendê-lo. Bom dia, deputado. Passe bem. (sai de cena)
VLADIMIR
Choro! Choro! Choro! É só o que ouço no cotidiano. Se pelo menos o Prestes estivesse entre nós para amainar nosso pranto e nos dar alguma esperança… Tem nada não. Os fuzis hão de falar por ele. (cata algo no ar) Apanhei-te, Prestes!
ALEXANDRE
Às vezes eu fico pensando, cá comigo, sobre o papel que me cabe nesse teatro da crueldade verde-amarelo. (pausa curta) Ó triste sina a minha, ilhado nesta redação de jornal provinciano almejando o inacessível Eldorado. (remexendo os bolsos) Não vê, Tio Sam, que os meus bolsos estão vazios? Onde está o resultado da minha venalidade? Diga, tio meu! Você que tem o dom de iludir, de desestabilizar lares, de fomentar guerras… Diga no que deu a minha venalidade? Será que a minha única saída é mesmo o aeroporto do faz-de-conta?
VLADIMIR
(abre mapa-múndi) Destino: Aruba ou Cancún?
ALEXANDRE
Que tal Washington DC? A Casa Branca e seus convivas a me adular. Alex, Do you want this… that? Porcos dissimulados!
VLADIMIR
Companheiro, assim é que se fala. (cai em si) Mas como você pode criticar o Tio Sam se o defende em seus artigos? Vejo hipocrisia em seu discurso. (à parte) Explique-o contradição.
ALEXANDRE
Contradição? O que é o mundo senão um grande quintal de contradição? Senhoras e senhores. Respeitabilíssimo público. O peripatético jornalista Alexandre Von Corrupção tem o prazer de apresentar a esta nobre platéia o perfil dos donos do mundo: o primeiro deles usa fraque e cartola. Mora muito acima da linha do Equador. Seu hobby mais excêntrico é cagar na cabeça da indigente raça latino-americana. Dentre seus dejetos mais famosos estão Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Madonna e Michael Jackson. (dá giro) O segundo mora do outro lado do planeta, né? Adora fabricar maquininhas de diversões eletrônicas, né? Na Segunda Guerra quase foi varrido do mapa pelo primeiro, né? Mas como é um importante parceiro comercial conseguiu manter uma amistosa e conveniente amizade que perdura até hoje, né? (gira) O terceiro…
VLADIMIR
Stop in the name of the law! Sua fala é muito engraçadinha, mas ordinária. Em vez desse discurso vazio, por que você não tenta realizar algo pela nossa classe?
ALEXANDRE
Como, Wladimir? (pausa curta) Amigo, sobrevivemos do Diário Incomunicante. (à parte. Com sotaque estrangeiro) Este é o mundo dos corruptos. E os milhões? Quando cairão em minha conta? Qual o interesse tenho eu de posar de herói nesse faroeste de muitos bandidos e poucos mocinhos que é a relação de troca entre os detentores dos meios de comunicação e seus súditos indigentes, hem? Eu quero gritar! Eu quero pular a cerca eletrificada da miséria. Que me venham as Folhas, o Jotabê, o Estadão… Escrevo para ocupar a mente dos que se empanturram de informações ou mesmo para proporcionar o asseio do ânus dos que se valem do papel de jornal para limpar toda sua sujeira. (cai de bruços)
VLADIMIR
(condoído) Que triste cena nós acabamos de presenciar. Algo patético meus senhores, minhas senhoras. (arrasta o companheiro até o birô) Pronto. Aqui jaz mais um jornalista brasileiro vítima de sua própria agonia. (a um espectador) E você aí, está satisfeito? Claro que não. Você é uma pessoa conscienciosa. Espiritualizada. Humana. Culta. Lê. Ouve. Assiste. Vê até teatro. (irônico) Imagina se vai dar-se ao lixo de atirar pedras num farrapo humano. Mas não se sinta constrangido por não poder praticar o mal. A humanidade é assim mesmo; hipócrita. Todos nós somos hipócritas. A vida imita a arte, disse Oscar Wilde. E a arte o que é, senão o reflexo da nossa vida? Que estupenda dedução a minha! Como se você não soubesse desse clichê de ensaio filosófico de quinta categoria. (pausa) Quer saber de uma coisa? No mais das vezes o jornalista esnoba, subestima e trai o leitor, quando não a própria categoria. É só voltar a meia quatro e lembrar quantos apoiaram as nossas (irônico) gloriosas forças armadas em detrimento da luta de jovens e velhos escribas comprometidos com as liberdades democráticas.
ALEXANDRE
(recuperado da síncope) Farsa! As liberdades democráticas são uma farsa! Vladimir, os governos mundiais são autoritários, antidemocráticos. Os liberais de hoje serão os conservadores de amanhã. Se você falar ou escrever algo contra o governador, por exemplo, ele vai meter-lhe processo nas costas e pressionar seu patrão para demiti-lo. Sim. Porque a liberdade de imprensa nesse País é uma sofisticada caixa registradora. Por favor, amigo Vladimir, você sabe disso desde que escreveu sua primeira matéria nesse jornal. O que há na realidade é liberdade de empresa. (imitando dono de jornal) É… O jornal está passando por sérias dificuldades financeiras e por isso não vai ser possível manter o atual corpo de jornalistas. Teremos que demitir alguns profissionais. Ademais há uma forte pressão dos nossos anunciantes para que despeçamos parte do pessoal da editoria de economia. Essa turma andou escrevendo alguns artigos contra a economia de mercado e as matérias desagradaram muito aos senhores anunciantes. (som de máquina registradora. A si mesmo) Você entende, não é, Alexandre?
VLADIMIR
(calculando em máquina) Esta verba será destinada à compra de papel de jornal. Me deixe recalcular. Hum! Hum! Perfeito! (novos cálculos) Este outro montante é para investir em novos equipamentos para as oficinas. (mais cálculos) Já este outro, o menor deles, se destina ao aumento salarial dos (irônico) profissionais da redação. Não é lá grande coisa, mas, com certeza, calará a boca deles durante os próximos doze meses. Aqueles meninos andam muito assanhadinhos pro meu gosto! Com esse orçamento eu posso tocar o jornal sem maiores problemas e pagar parte do empréstimo que contraí junto à rede bancária estatal. (à parte) Se eu quiser pagar. Depois virão os lucros. Muitos lucros. Casa com piscina, carro do ano, belas mulheres e tudo o mais que o dinheiro puder comprar.
ALEXANDRE
Ambição, cobiça, ganância. São estes vagões de um trem descarrilado que conduzem a humanidade ao caos. (som de bomba explodindo) Não se ouvirá mais pássaros cantar. Não se verá mais o fluxo e o refluxo das ondas do mar. Música no ar? Nem pensar. Só o tilintar de copos no bar. Os homens embebedar-se-ão com a própria avareza. É o fim. O fim de uma raça que fez do pecado sua razão de existir. Deus meu, como nós somos hediondos. (black)
VLADIMIR
(redigindo matéria) A escassez de recursos não é desculpa para as produções cada vez mais medíocres do cinema brasileiro. A sétima arte, versão republiqueta das bananas, carece mesmo é de talentos. Há uma incompetência generalizada tanto na casta dominante de cineastas, como na casta dominada; ou seja, nos aprendizes de cineasta da Pucuspe. (cospe)
ALEXANDRE
(assume criança) Papai, eu quelo fazer um filme. O senhor me dá dinhelo? Me dá?
VLADIMIR
Dou, meu filho. Mas antes eu quero que você me responda uma pergunta.
ALEXANDRE
Pode pelguntá, papai, que eu lespondo.
VLADIMIR
(à parte) É só para ter certeza da desgraça. Muito bem, meu filho, o que você vai ser quando crescer? Hem?
ALEXANDRE
Eu vou ser cineasta, papai. Ci-ne-as-ta.
VLADIMIR
(aplaudindo) Bravo! Bravíssimo! Fantástico! (à parte) Serei pai de mais um brasileiro inútil. Eu estou deveras orgulhoso, meu filho. Avante! O quê? Eu pai de um cineasta tupiniquim? É a glória! É a glória! Mas, meu filho, o que você pretende filmar quando concluir seu curso?
ALEXANDRE
Eu quelo filmar a Xuxa… Aos sessenta.
VLADIMIR
(decepcionado) Tudo bem, meu filho, que você queira ser cineasta, mas não precisa baixar o nível. (à parte) Não é possível. Logo a Xuxa! E na terceira idade! Veja bem, filho meu, o que seus amigos vão dizer quando souberem que você filmará uma estrela decadente? Pense nisso, filhinho, para o bem do nosso malfadado cinema. (volta ao birô. Redige) Enquanto o cinema brasileiro agoniza em salas vazias, o teatro também vai de mal a pior. Nem mesmo o nosso (irônico) orgulho nacional, o besteirol, tem conseguido levar público às salas de espetáculo. Nota-se que o esvaziamento atinge não somente o Nordeste, mas também o Sudeste maravilha, antes tido como a Meca do teatro brasileiro. Significativa parcela da classe teatral credita a isso um novo tipo de censura, a econômica, que está impedindo a população de ter a oportunidade de assistir aos espetáculos em cartaz.
ALEXANDRE
(aplaudindo) Parabéns! Parabéns! Texto brilhante o seu. Digno de segundo caderno de grande jornal.
VLADIMIR
Por favor, companheiro Alexandre, acabe com isso. Os meus escritos não vão além desse tablóide provinciano incurável. De mais a mais, o jornalista que escreve sobre cultura nesse país não é valorizado. A cultura nesse país não é valorizada. Imagine eu que sou um simples porta-voz da cultura… Não represento nada.
ALEXANDRE
Modéstia, amigo Vladimir. Você sabe o quanto é importante para a vida cultural da cidade, visto que é um jornalista brilhante e talentoso.
VLADIMIR
Brilhante e talentoso. São sempre os mesmos adjetivos. E o Messias do dinheiro, que é bom, não aparece. E você, Alexandre, é também vítima desse incentivo criminoso, que no final das contas acaba gerando esse tipo de acordo que você fez com o Editor.
ALEXANDRE
A história não é bem assim, Vladimir. Ainda falta uma conversa final para chegarmos a bom termo. E quando tudo estiver resolvido não será você que se oporá no meu caminho.
VLADIMIR
Não se altere, companheiro Alexandre. Longe de mim qualquer forma de cerceamento ao seu livre arbítrio. É que eu penso sempre na ética jornalística.
ALEXANDRE
Ética jornalística? Você acredita nisso? Santa ingenuidade crer que ainda há ética no jornalismo. Desde há muito que escafedeu. E você com esses pensamentos antiquados. Onde está sua modernidade, my friend?
CAI LUZ. SOBE MÚSICA: MODERN TIMES ROCK AND ROLL, DA BANDA QUEEN. SÃO PROJETADAS NUM TELÃO CENAS DE MISERÁVEIS BRASILEIROS À CATA DE ALIMENTOS PARA COMER. NESSE ÍNTERIM, OS JORNALISTAS REALIZAM COREOGRAFIA AO SOM DA MÚSICA. AO TÉRMINO DO NÚMERO MUSICAL, OS ATORES CONGELAM. BLACK.
CENA IV
ALEXANDRE, VLADIMIR, DEPUTADO, OFFICE-BOY
VLADIMIR
(entrando em cena) Fala, companheiro. Tudo tranqüilo? Qual é a boa nova do dia?
ALEXANDRE
(pára de redigir) Uh! Oxalá o Editor não me interprete mal. (lê matéria) O deputado Chip Bacharat voltou às primeiras páginas dos principais jornais do Estado e do país. Bacharat é acusado de manter cassino clandestino e explorar o jogo de azar na sede do programa Fome Nunca Mais. Devido a pressões da imprensa e da opinião pública, a Câmara dos Deputados instalou Comissão de Sindicância para apurar o caso. Se a comissão reunir provas suficientes do envolvimento promíscuo de Bacharat com o Fome Nunca Mais poderá ser sugerida a sua renúncia ou pedida a cassação do mandato do parlamentar. (pensativo) Este remate não me agradou. Ah! O Editor que altere. (à parte) Tapem os ouvidos. Mas se o mandato do deputado for cassado, será uma grande sacanagem.
CHIP BACHARAT
(entra em cena. Irônico) Olá, foquinhas incomunicantes.
ALEXANDRE
Deputado Chip Bacharat!
CHIP BACHARAT
Em carne, osso e (batendo na pasta) dinheiro.
ALEXANDRE
Como vai o senhor, deputado? Tudo bem?
CHIP BACHARAT
Dentro da medida do possível, meu caro Alexandre. Como você é sabedor, estou atravessando grave crise pessoal com aquelas denúncias infundadas sobre a exploração do jogo de azar no Fome Nunca Mais. E uma vez que sou homem público, esse tipo de abacaxi causa muita aflição e constrangimento, principalmente à família. Mas, se Deus quiser, tudo será resolvido a contento. Provarei a todos aqueles que tramam contra mim que estou com a verdade, pois, meu caro jornalista, eu sou honesto.
ALEXANDRE
Claro que o senhor é honesto, deputado. Quanto a isso não resta a menor dúvida.
CHIP BACHARAT
Mas tem setores da imprensa que não querem enxergar os fatos na realidade dos acontecimentos.
ALEXANDRE
Na realidade dos acontecimentos. É isso aí, deputado.
VLADIMIR
Deputado, gostaria de lhe fazer uma pergunta.
CHIP BACHARAT
Evidente, jornalista. Eu sou um homem do povo, portanto, aberto ao diálogo. Inclusive estranhava seu mutismo até o momento. Mas vá lá. Pode perguntar. Estou à disposição do jornalista.
VLADIMIR
Bom, deputado, a pergunta é rápida e direta. O senhor não acha que há muita coincidência no fato de estar com o projeto de reabertura dos cassinos tramitando na Câmara e, ao mesmo tempo, sendo acusado de explorar o jogo de azar na sede do programa Fome Nunca Mais?
ALEXANDRE
(interrompendo) Ora, Vladimir, que pergunta mais inoportuna. O deputado Bacharat está em visita ao nosso jornal e não em entrevista.
CHIP BACHARAT
Não se preocupe, Alexandre, meu grande. Eu responderei à indagação do (irônico) nobre jornalista, com toda a (põe óculos escuros) clareza que ela exige. Mas antes eu quero falar especificamente do projeto de reabertura dos cassinos. (discursando para o público) Sabem vocês, ilustres cidadãos, das dificuldades que o país atravessa no momento. E eu que sou muito sensível ao sofrimento do povo, sim, porque é o povo quem mais sofre quando o país encontra-se mergulhado numa crise social. Então, diante desse quadro caótico que se nos apresenta, tive a idéia desse projeto que, diria, é de salvação nacional, pois permitirá a nossa população redimir-se da miséria em que se encontra…
ALEXANDRE
(à entrada do office-boy, arrebata bandeja e serve chá ao deputado) Chazinho de coca da Colômbia. É um ótimo estimulante de corrupção, deputado.
CHIP BACHARAT
Obrigado, meu jornalista. Você é muito gentil. Aqui eu me sinto como se estivesse em casa.
ALEXANDRE
E o senhor sabe que está em casa, deputado.
CHIP BACHARAT
Mais uma vez obrigado. (pausa curtíssima) Agora, eu gostaria de responder a indagação do jornalista marrom, dizendo em primeiro lugar…
ALEXANDRE
(cortando) O senhor já disse o que tinha para dizer, deputado. Não dê muita conversa a esse comunista, senão ele aluga Vossa Excelência. Esse quinta coluna é muito inconveniente e perigoso, além de ser seu inimigo quase declarado. Trata-se de um sujeito de alta periculosidade. Come até fígado de criancinha.
VLADIMIR
Mentira! Este é o prato posto diariamente à disposição do brasileiro. Mentira de político, de empresário, de religioso… (pausa curta) Para onde caminhamos? Para uma bacanal? Para um Paraguai? Ou para um carnaval? (sobe música: A gente vai levando, nas vozes de Chico Buarque e Maria Bethânia. Ao som da canção, os atores dançam fazendo a forma do número oito no palco. Do teto, caem confete e serpentina. Soa sirene de carro policial. Desce música. Vladimir lê nota tirada do fax) A Comissão de Sindicância instalada na Câmara dos Deputados para apurar as denúncias de envolvimento do deputado Chip Bacharat com o jogo ilícito associado ao programa Fome Nunca Mais concluiu hoje os trabalhos. Segundo o relator, deputado Ás de Copas, a comissão não conseguiu apurar nada que pudesse incriminar o parlamentar. O relator disse ainda que o caso Chip Bacharat é uma invenção da imprensa para denegrir a imagem da Câmara dos Deputados. Para Copas, a função da imprensa é divulgar os trabalhos parlamentares e não tumultuar o bom andamento dos mesmos. (a contragosto) Deputado, acaba de chegar este fax à redação, que, com certeza, interessa muito ao senhor.
CHIP BACHARAT
Deixe-me lê-lo, (irônico) jornalista marrom. (após passar a vista no texto) Eu sabia que podia confiar nos meus amigos de parlamento. Eu estou livre da CPI. Eu sou um deputado imaculado. Eu sou probo! Eu sou probo!
ALEXANDRE
Palmas! Palmas! O deputado está livre da CPI! O deputado é probo! (jornalista e deputado se abraçam)
CHIP BACHARAT
(a Alexandre) Meu caro amigo do jornalismo verdade, sem querer tomar-lhe mais o tempo…
ALEXANDRE
Imagina, deputado. Estou sempre ao seu inteiro dispor.
CHIP BACHARAT
Obrigado, meu jornalista. Assim sendo, gostaria de agradecer-lhe, do fundo da minha alma, por toda a ajuda e apoio enquanto durou a campanha caluniosa da imprensa marrom contra a minha pessoa. Foram dias difíceis, mas graças a Deus e a você consegui superá-los com dignidade e muita humildade. (retira maço de notas de dólar da pasta) In money we trust! (olha para os lados. Passa o maço para Alexandre. Irônico) Incorruptível jornalista Alexandre, o papo está muito interessante, mas eu preciso tomar o rumo de Brasília. Tenho que manter alguns contatos na capital federal. (batendo na pasta) Urge recompensar a todos quantos me ajudaram nesses dias difíceis. E o deputado Ás de Copas será o primeiro a ser favorecido.
ALEXANDRE
Então, deputado, só me resta parabenizá-lo mais uma vez pela vitória contra os pretensos coveiros do seu mandato. O senhor provou que é um homem honrado e que está acima das questiúnculas políticas.
CHIP BACHARAT
Você é um grande aliado, meu jornalista. O deputado não esquecerá jamais a solidariedade recebida. Mais uma vez muito obrigado por tudo.
ALEXANDRE
Não há de que, deputado. Jornalista que se preza é para isso mesmo. E quando precisar do nosso jornal, já sabe, não se acanhe. (beija os dólares) Uma mão lava a outra. Dê lembranças ao deputado Ás de Copas e apareça. Recomendações à família.
CHIP BACHARAT
(a Vladimir. Sarcástico) Passar bem, jornalista marrom. Tenha muitos bons dias.
VLADIMIR
(à saída do deputado. Irônico) Deputado, qualquer dia desse eu viajarei a Brasília para nós nos divertirmos com seus joguinhos de azar. Garanto que deixarei todo o meu (irônico) gordo salário de jornalista com o senhor.
CHIP BACHARAT
Até mais ver, espinha de garganta. E cuidado com a língua. (ao público) Vejo vocês daqui a quatro anos. (sai. Black)
Cena V
VLADIMIR, EDITOR, OFFICE-BOY
VLADIMIR
(assobia o hino da Internacional Socialista, enquanto remexe o arquivo. À entrada do Editor) O deputado…
EDITOR
Você me paga, cretino, pela cafajestada.
VLADIMIR
O que é que há, senhor Editor? Algum problema?
EDITOR
Cínico! O deputado me contou sobre as provocações de que foi vítima. E está muito chateado comigo que nada tenho a ver com o ocorrido.
VLADIMIR
Tudo não passou de uma brincadeira para descontrair.
EDITOR
Descontrair o quê? Quem? Saiba que o deputado é um homem sério que não admite provocação. Assim que eu encontrar o doutor Roberto vou contar o episódio a ele. Aí eu quero ver a porca torcer o rabo. E agora volte a trabalhar. Ah! E quando tiver um tempinho comece a rezar, se pegue com todos os santos e rogue a Deus para não ser demitido, revulô pé-de-chinelo. (sai resmungando) Pilhéria logo com o deputado! Francamente… (à saída esbarra no Office-boy)
OFFICE-BOY
Senhor Editor, aqui estão as senhas para a peça da Tina Lolofrígida. Boa diversão.
EDITOR
Ora, moleque, vê se não atrapalha. Você sabe muito bem o que fazer com essas senhas. (sai. Black)
Cena VI
VLADIMIR, ALEXANDRE, JORNALEIRO
VLADIMIR
(sentado ao birô. Cabeça baixa. Penumbra. Após erguer cabeça, discorre amargurado) Eu só queria um mundo mais justo, mais fraterno. Um mundo sem miséria, fraude, negociata, um mundo sem jornalista amoral nem político corrupto. (deixando o birô) Onde tudo isso irá parar? Até quando a nossa sociedade ficará à mercê dos escroques que a exploram? Companheiro Alexandre, lamento informar, eu fracassei.
ALEXANDRE
(idem. Após erguer cabeça, replica) Um momento, amigo! (pausa curtíssima) Ah! Sem falsa modéstia, Vladimir. Você não se reconhece como um vencedor? E os rumorosos escândalos que já trouxe ao conhecimento da opinião pública? Estes não bastam para ficar em paz com sua consciência? Lembre-se que nas ruas dessa cidade há centenas de miseráveis com a barriga vazia, disputando migalhas no lixo. Aqueles é que são fracassados.
VLADIMIR
Só me resta uma alternativa, companheiro Alexandre.
ALEXANDRE
Já sei: Galeão, Cumbica ou Augusto Severo. Vladimir, faça-me o favor. Sair do país não é…
VLADIMIR
Não! Não, Alexandre. Há outra alternativa afora os aeroportos internacionais.
ALEXANDRE
Que alternativa é essa, Vladimir?
VLADIMIR
(saca revólver) Esta, Alexandre. (aponta a arma para a cabeça e efetua disparo. Cai, debatendo-se. Por seu turno, Alexandre aproxima-se do amigo morto e dispara tonitruante gargalhada, mostrando, ao cadáver, os dólares que recebeu do deputado. Sai. Sobe música: Tristão e Isolda (prelúdio), de Wagner. Vai à BG, quando da entrada do Jornaleiro)
JORNALEIRO
Extra! Extra! Extra! Jornalista do Diário Incomunicante suicida-se na redação. Extra! Extra! Também nesta edição: deputado Chip Bacharat lança candidatura a governador do Estado. Extra! Extra! Extra! (sai. Sobe música)
(*) Jornalista; e-mail: <pjdumaresq@hotmail.com>; homepage: <www.abstm.com.br/paulojorge>