ELEIÇÕES NOS EUA
Em novembro de 2003, uma conferência nos Estados Unidos reuniu a nata dos formadores de opinião do país para discutir melhorias para o setor de mídia. Em um grupo de mais de dois mil ativistas, estavam presentes membros do Congresso, jornalistas e escritores. Todos dispostos a se comprometer a ajudar na melhoria do desempenho da mídia.
A conferência não teve a importância de um evento isolado, mas significou o surgimento de uma base para se lutar por uma imprensa de qualidade. A preocupação é antiga, mas no último ano cresceu significativamente. A cobertura da guerra do Iraque feita pela TV americana foi extremamente criticada e provocou revolta por seu tom parcial de torcida; e a rejeição às regras de concentração de mídia criadas pelo FCC conseguiu unir republicanos e democratas em uma única bandeira.
Fatos como esses parecem sinalizar que preocupações relativas ao desempenho da mídia não podem ser marginalizadas. E são muito mais urgentes do que muitos pensavam. Instituições de mídia, que noticiam as irresponsabilidades administrativas das outras empresas, precisam começar a virar as objetivas para si próprias. Elas são socialmente responsáveis? Confiáveis? Transparentes?
Informação e conscientização
É preciso que os ativistas se informem e observem como funciona a grande mídia, e como o governo se relaciona com ela ? alerta o editor executivo do Mediachannel.org <http://www.mediachannel.org/>, Danny Schechter. É preciso ter consciência de que mídia é capaz de influenciar e controlar decisões políticas. E é para isso que existe sites como o Mediachannel.org e o Mediareform.net, e é para isso que grupos como FAIR e Media Tenor realizam periodicamente pesquisas e análises.
Aos poucos, surge a consciência do problema, e as pessoas começam a expressar seu descontentamento, afirma Schechter. Grupos de teatro, por exemplo, já ridicularizam o comportamento inadequado da imprensa. A recente peça A new war, de Gip Hoppe, satiriza a cobertura feita por uma emissora de TV de uma guerra "que acontecendo em algum lugar e contra um inimigo desconhecido, porque o Pentágono decidiu que não seria seguro revelar onde e contra quem os EUA estariam lutando".
O que é preciso fazer
É engraçado, mas é sério. Para resgatar a qualidade da imprensa é preciso trabalho coletivo, é preciso coragem para enfrentar os grandes grupos de mídia e é preciso apoiar a mídia independente, diz Schechter. O ano está apenas começando, e há muito o que fazer.
O Mediachannel.org já começou sua parte. Está lançando a campanha "Media for Democracy 2004", com o intuito de monitorar a cobertura das eleições presidenciais de 2004 nos EUA e de lutar por padrões de reportagem mais justos, honestos e democráticos.
O Mediachannel.org irá se unir a mais de cem organizações de mídia do país para cobrir todo o território norte americano. E já conta com uma ajuda de 350 mil dólares, doados por Bill Moyers e pelo Schumman Center for Media and Democracy.
A campanha será dividida em quatro etapas. Primeiro, será elaborada uma lista com regras que formem um padrão aconselhável para uma cobertura responsável. A segunda etapa é a monitoração da cobertura em si. A partir daí, os dados e observações serão compilados em relatórios resumidos, que por sua vez, serão enviados por e-mail para milhares de ativistas de mídia. Por último, haverá uma fiscalização especial nas convenções dos partidos e no dia da votação. Monitores estarão de plantão acompanhando a cobertura destes dias e analisando-a. Eles estarão conectados a um centro do Mediachannel.org, e informarão os erros, abusos e excessos cometidos em tempo real.
[As informações são do artigo "A call to educate, organize and mobilize", de Danny Schechter, editor executivo do Mediachannel.org <http://www.mediachannel.org/>]