Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Guálter George

O POVO

"Simbolicamente empossado", copyright O Povo, 12/1/04

"Vivi uma semana um tanto conturbada, devido às circunstâncias. Desde a quarta-feira, dia 7, passei a dividir meu expediente entre e as funções de ombudsman, no período da manhã, e as atribuições de editor-executivo do núcleo de Conjuntura, a partir da tarde. Destas últimas, estou livre desde a sexta-feira, dia 9. A situação, estranha, deveu-se a compromissos firmados dentro do Núcleo ainda antes de surgir o convite para substituir Roberto Maciel. Este que, aceito, me lançou a uma profunda reflexão e, principalmente, a um saudável exercício de autocrítica no esforço de entender como se chegou ao meu nome, por quais razões e de que forma meu estilo e personalidade pessoais poderão ajudar no continuado esforço de tornar a função compreensiva aos olhos dos que fazem a empresa e dos que compõem uma clientela externa cada vez mais exigente e afeita a cobranças. A asssinatura desta coluna, hoje, funciona pra mim como uma posse simbólica. Apresentando-me ao leitor, entendo que está dada a partida para o trabalho, até janeiro do próximo ano, de acompanhamento crítico diário das edições, de reflexões semanais para o aprofundamento de algumas temáticas, de interlocução direta com os diversos atores que se integram ao processo (jornalistas, leitores, fontes etc), enfim, de uma ação permanente que imagino objetivar o encurtamento, senão a eliminação, da distância imaginária existente entre o interesse do jornal, dos profissionais que o integram e o do público ao qual ele existe para servir.

Olha eles aí de novo

A fase de preparação para o cargo me remeteu, no campo da pesquisa, aos cenários diversos que se vivenciou desde a implantação, dez anos atrás, da função no O Povo. Muita incompreensão ficou pra trás, desde então, embora chame a atenção, de fato, a constatação de que muitos dos problemas que lá estavam nas primeiras críticas da jornalista Adisia Sá, precursora de todo o processo entre nós, persistiam nas últimas análises de Roberto Maciel, meu antecessor imediato, após terem percorrido os mandatos de praticamente todos que se somaram à jornada ao longo da última década. Ou seja, o trabalho é árduo e precisa mesmo de perseverança para ser entendido dentro de sua lógica, que não é a do resultado imediato, não impõe quantitativos para uma mensuração positiva, enfim, que exige um perfeito entendimento sobre a sua serventia para ser mantido dentro de uma perspectiva empresarial que, a cada dia mais, contempla estruturas enxutas, funções com metas definidas, resultados etc. O desrespeito a preceitos basilares do jornalismo, a confusão consentida que muitas vezes é feita entre o que é notícia e o que é publicidade, um descaso freqüentemente denunciado com o texto, descumprimento do que determinam as normas internas estabelecidas pelas empresas O Povo, cenários políticos e/ou econômicos interferindo sobre a ação editorial, est&aaaacute; tudo lá em vários momentos, denunciados a partir de situações pontuais. Portanto, grande parte dos temas que levantarei já tiveram abordagens anteriores, certamente, mas, conforme entendo, este é um aspecto positivo do processo no qual está inserido o ombudsman. Primeiro, porque é no próprio jornal que encontramos a discussão documentada, conferindo-lhe uma necessária característica democrática e transparente. Depois, porque o esforço de fazer com que a função se justifique exige que se inclua entre seus atributos fundamentais a persistência, dentro da mesma linha que nos faz ressaltar a corajosa decisão do jornal de mantê-la em meio a fundamentos que determinam alto grau de objetividade, hoje, aos cargos que compõem uma estrutura redacional.

O produto e o processo

Persistência tenho, paciência também. Preciso, agora que está deslanchado o processo, mostrar também a competência exigida para o desenvolvimento de um trabalho de interlocução entre os profissionais de O Povo e o seu público que, em todo momento, contemple o esforço de melhoria do produto. O ambiente é, hoje, muito mais favorável, fruto do correr natural do tempo, do trabalho eficiente de todos que me antecederam (Adísia Sá, Márcia Gurgel, Lira Neto, Gibson Antunes, Débora Cronemberger, Regina Ribeiro e Roberto Maciel), da maturidade que a redação foi adquirindo a partir de situações inicialmente conflituosas e de um avanço, este externo, na conquista de cidadania pelo brasileiro. Sei que não é apenas de persistência e paciência que se faz um bom ombudsman. Portanto, o novo olhar que passo a lançar sobre o jornal contempla elementos menos compreensivos sobre os erros, relativiza-os em menor dose, mantém a exigência do acerto no seu nível mais alto, sem, claro, perder a noção de que por trás do produto há um processo. Espero que seja um bom ano para todos nós."