Edição de Letícia Nunes (com Dennis Barbosa)
ELEIÇÕES NOS EUA
Repórteres que durante semanas fizeram prognósticos do resultado das eleições primárias nos Estados Unidos levaram um baita susto na segunda-feira, 19/1. As primárias para escolher o futuro candidato democrata à presidência tiveram sua primeira fase no estado de Iowa. De acordo com boa parte da mídia, o caucus ? reunião em que filiados do partido escolhem seu candidato ?seria uma disputa entre dois candidatos: Howard Dean, ex-governador de Vermont, e Richard Gephardt, deputado por Missouri. As previsões se provaram amplamente equivocadas, e seu fracasso deve mudar o tom da cobertura das primárias nas próximas etapas. Ao fim do dia, era evidente que os dois favoritos haviam sido suplantados pelos senadores John Kerry, de Massachusetts, e John Edwards, da Carolina do Norte. Os principais âncoras da TV não conseguiam entender se haviam perdido algo, ou se a cobertura simplesmente mudara de perspectiva.
As pesquisas feitas no domingo anterior mostravam a ascensão de Kerry e Edwards, e mesmo assim a imprensa continuou acreditando que Dean tinha as melhores chances. Na segunda-feira à noite, assim que os resultados começaram a sair, os telespectadores assistiram, em tempo real, à surpresa dos mais conceituados âncoras e comentaristas.
O que os repórteres não levaram em consideração foi a volatilidade do sistema do caucus, onde grupos de pessoas se reúnem e votam abertamente. Muitas dessas pessoas têm disposição para mudar seu voto, caso seu candidato não tenha o índice mínimo de aprovação. Assim, em análises feitas por comentaristas pós-primárias de Iowa, chegou-se à conclusão de que o grande erro da imprensa foi confiar demais nas pesquisas. Os jornalistas basearam sua cobertura em um grau de compromisso dos eleitores com seus candidatos que provou ser inexistente. A palavra de alerta que a imprensa não pode se esquecer para a cobertura das próximas primárias é volatilidade. [The New York Times, 21/01/04]